Terroristas Utilizam Crianças nos Ataques em Burkina Faso
EQUIPA DA ADF
Eram 2 horas da madrugada do sábado, dia 5 de Junho de 2021, quando o silêncio da noite, na aldeia de Solhan, Burkina Faso, foi interrompido pelo som de motorizadas e, depois, tiros de armas de fogo.
Os terroristas abriram fogo contra os residentes da comunidade de trabalhadores da mineração de ouro, incendiaram residências e mercados e levaram a cabo execuções até ao amanhecer. As autoridades locais registaram um número total de pelo menos 160 mortes — o ataque mais mortífero desde que iniciou a violência no país, em 2015.
O pormenor que causa mais preocupação em relação ao ataque foi revelado semanas depois pelo porta-voz do governo, Ousseni Tamboura.
“Os atacantes eram na sua maioria crianças com idades compreendidas entre 12 e 14 anos,” disse à imprensa, no dia 24 de Junho na capital, Ouagadougou.
Os grupos terroristas desencadearam uma onda crescente de ataques, principalmente na região norte do Burkina Faso e estão a recorrer ao uso de crianças.
Mais de 2.000 pessoas foram mortas e outras aproximadamente 1,5 milhões foram obrigadas a fugirem das suas residências. O porta-voz da agência das Nações Unidas para os refugiados, Babar Baloch, disse que os ataques armados estão a fazer com que haja um número massivo de deslocados internos no país.
“Na primeira metade do ano, cerca de 240.000 pessoas fugiram das suas residências para outras partes do Burkina Faso, um aumento significativo em comparação com 100.000 registados durante os últimos seis meses do ano de 2020,” disse numa conferência de imprensa do dia 23 de Julho.
O massacre de Solhan despertou um sentimento de revolta na comunidade internacional.
“Condenamos veementemente o recrutamento de crianças e adolescentes por grupos armados não-estatais,” Sandra Lattouf, representante do UNICEF no Burkina Faso, disse num comunicado do dia 24 de Junho. “Esta é uma violação grave dos seus direitos fundamentais.
“As populações civis nunca deviam ser vítimas ou alvos de ataques. As famílias e as crianças devem ser protegidas em todos os lugares e em todos os momentos.”
Vários grupos de terroristas islamitas operam na região da fronteira tripla entre Burkina Faso, Mali e Níger — também conhecida como região do Liptako-Gourma do Sahel — apesar da presença das forças de manutenção da paz da ONU e outras forças internacionais.
Um relatório da ONU de 2020 descreveu um aumento “sem precedentes” da violência causada por terroristas, com mais de 4.000 mortes registadas em 2019, em comparação com 770, em 2016. No Burkina Faso, o número de mortes saiu de cerca de 80, em 2016, para mais de 1.800, em 2019.
O UNICEF anunciou que os ataques deixaram 152 civis mortos, de Março a Maio de 2021. Mas em Junho, 178 civis foram mortos, incluindo crianças.
Depois dos recentes ataques, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, decreveu aquilo que chamou de “crianças que matam crianças.”
“As crianças contam histórias que nenhuma outra criança deveria ser capaz de contar — de terem sido recrutadas sob ameaça de morte, de terem sido estupradas, de terem sido obrigadas a matar os seus próprios irmãos, os seus próprios pais,” disse ela num discurso proferido numa reunião da ONU sobre crianças e conflitos armados, no dia 28 de Junho.
“Estas crianças, na maior parte das vezes, não são sequer mais altas em relação às armas que elas mesmas carregam. São ensinadas a cometer crimes de guerra antes mesmo de saberem contar.”
Insegurança e ataques contra escolas, estudantes e professores tinham obrigado o governo a encerrar 2.500 escolas antes do encerramento a nível nacional das escolas, em meado de Março de 2020, em resposta à pandemia da COVID-19.
Especialistas afirmam que as raízes do conflito no Sahel passaram da esfera política para a esfera económica.
A pobreza encontra-se entre os factores que colocam crianças burquinabês tanto na “oferta” como na “procura” de grupos extremistas, de acordo com Christopher M. Faulkner, um membro dos assuntos da segurança nacional do Colégio de Guerra Naval dos EUA, e Jared Thompson, investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
“Condições estruturais como encerramentos de escolas ou grandes números de deslocados internos podem aumentar o número de potenciais recrutas,” escreveram para a revista online, Political Violence @ A Glance.
“Através da resolução dos problemas económicos, do encorajamento de uma cobertura jornalística transparente e da responsabilização dos recrutadores, o governo burquinabê e os parceiros internacionais podem ajudar a garantir que as crianças estejam protegidas, em vez de se encontrarem na mira do conflito.”
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