Ameaça de Pirataria Aumenta no Golfo da Guiné

EQUIPA DA ADF

Um esquife, transportando cerca de 10 piratas armados, aproximou-se da embarcação da Sea Shepherd Global, ao largo da costa do Benin.

Quando o esquife chegou a menos de 100 metros de distância do Bob Barker, os piratas ficaram surpreendidos. O barco da Sea Shepherd transportava membros armados da Marinha do Benin, que estavam a fazer patrulha à procura de embarcações de pesca ilegais.

“Os marinheiros armados da Marinha do Benin, a bordo do Bob Barker, dispararam 10 tiros de aviso,” Peter Hammarstedt, director de campanhas da Sea Shepherd, disse à ADF num e-mail. “Foi quando os piratas recuaram.”

O incidente de Novembro de 2020 destacou uma tendência numa zona há muito ameaçada por embarcações estrangeiras envolvidas na pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), que priva os residentes locais de empregos e dizima as unidades populacionais de peixe. Os piratas atacam com mais frequência nas águas onde ocorre a pesca INN, de acordo com um novo estudo publicado pela PLOS One, uma revista científica especializada.

No primeiro trimestre de 2021, o Golfo da Guiné representou 43% de todos os incidentes de pirataria ocorridos na região africana, de acordo com o Gabinete Marítimo Internacional (IMB, sigla inglesa). Nessa altura, 38 incidentes foram registados no Golfo da Guiné, incluindo 33 embarcações abordadas, duas tentativas de ataque e um barco sequestrado.

Embora o número total de incidentes de pirataria no Golfo da Guiné seja baixo em comparação com 47 ao longo do mesmo período de 2020, a violência contra os marinheiros está a aumentar, comunicou o IMB. No primeiro trimestre do ano transacto, os piratas sequestraram 22 marinheiros. Esse número aumentou para 40 sequestros e uma morte durante o primeiro trimestre de 2021.

Em 2020, o Golfo da Guiné representou mais de 95% de todos os sequestros marítimos, de acordo com o IMB.

A perda de rendimento das pescas pode ter motivado alguns pescadores da África Ocidental a envolverem-se na pirataria, de acordo com Raj Desai, autor principal do estudo da PLOS One e professor de desenvolvimento internacional, na Universidade de Georgetown.

“Os pescadores têm habilidades que são muito transferíveis para a pirataria, como navegar e operar barcos, por isso, é muito fácil que se tornem piratas,” Desai disse ao Live Science.

Hammarstedt e outros especialistas dizem que a maioria dos piratas são oriundos da região do Delta da Nigéria e a pirataria tem sido um problema crescente por muitos anos. Para além do Benin, a Sea Shepherd faz parcerias com governos do Gabão, Gâmbia, Libéria, Namíbia, São Tomé e Príncipe e Tanzânia para combater a pesca INN e outros crimes marítimos.

Os piratas tentam atacar “qualquer tipo de embarcação” que puderem entrar a bordo, mas recentemente começaram a ter como alvo embarcações de pesca, disse Hammarstedt.

“As embarcações de pesca são lentas e têm um bordo livre baixo, fazendo com que sejam relativamente fáceis de entrar a bordo, e é menos provável que tenham guardas armados a bordo,” disse Hammarstedt. “Também são muitas. Isso faz com que sejam um alvo fácil, especialmente quando o objectivo dos piratas não é de roubar carga, mas raptar pessoas para as manter cativas em troca de dinheiro de resgate.”

Os ataques frustrados pela Sea Shepherd e pela Marinha do Benin apenas dissuadiram temporariamente os ataques dos piratas na zona. No dia 11 de Março, os piratas sequestraram 15 membros da tripulação, que estavam a bordo do navio de transporte de produtos químicos, com bandeira de conveniência de Malta, a cerca de 200 milhas à sul da cidade portuária de Cotonou, de acordo com a Câmara de Comércio Internacional (ICC).

“É de importância capital que os transportadores marítimos continuem a ter cautela e sejam vigilantes quando viajam em águas próximas e comuniquem todos os incidentes às autoridades regionais e ao [Centro de Denúncia de Actos de Pirataria do] IMB,” director do IMB, Michael Howlett disse à ICC. “Apenas uma melhoria dos canais de partilha de conhecimento e um aumento das colaborações entre as autoridades de resposta marítima irão diminuir” as ameaças de pirataria.

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