Etiópia Debate-se Com Conflitos Étnicos

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EQUIPA DA ADF

Tiros ecoaram entre elegantes edifícios de vidro em Adis Abeba, no dia 12 de Abril. A paz relativa da cidade foi abalada por um tiroteio entre as forças de segurança e três membros de um grupo militante de Amhara.

Um dos muitos conflitos étnicos e regionais da Etiópia alastrou-se para a capital, expondo as actuais preocupações de segurança a nível nacional.

“Os membros do grupo extremista … foram interceptados depois de terem sido vigiados pelas forças de segurança. Estavam a planear um ataque terrorista na nossa cidade,” declarou a polícia etíope num comunicado, referindo que um civil foi morto juntamente com dois dos militantes.

Os homens eram membros da milícia Fano, que há um ano está envolvida num conflito militarizado com as forças federais e regionais em Amhara. O governo federal declarou o estado de emergência na região em Agosto de 2023, algo com que os mais de 80 grupos étnicos do país se têm familiarizado nos últimos anos.

O conflito de Amhara surgiu na sequência da sangrenta guerra civil da Etiópia contra as forças tigrenhas na região mais a norte do país. Os investigadores estimam que o número de mortos durante o conflito de dois anos ascendeu a 360.000 civis e 500.000 combatentes.

Analistas como o director-executivo da Fundação para a Paz Mundial, Alex de Waal, e o seu colega, Mulugeta Gebrehiwot Berhe, afirmam que existem muitas questões de fundo e poucas soluções simples para as crises multifacetadas da Etiópia.

“Uma nova rebelião na região de Amhara … está rapidamente a tornar a região ingovernável,” escreveram os investigadores num artigo publicado no dia 8 de Abril na revista Foreign Affairs.

As milícias Amhara lutaram ao lado das forças governamentais (ENDF) durante a guerra de Tigré e foram acusadas de limpeza étnica dos tigrenhos. Perto do fim da guerra, as forças federais começaram a prender membros da Fano.

O acordo de paz causou ainda mais raiva entre os Amhara, a quem foram prometidos cargos de poder, terras e outros despojos de guerra durante o conflito, mas que foram excluídos do processo de paz. A maior questão para os Amhara era a sua reivindicação de um território há muito disputado na zona ocidental do Tigré.

Após a guerra de Tigré, o Primeiro-Ministro Abiy Ahmed e o governo federal anunciaram um plano para integrar todas as forças regionais no exército nacional. Os combates começaram em Abril de 2023, quando as forças governamentais chegaram para desarmar os combatentes Amhara.

“Depois de ter soltado os cães, Abiy enfrenta agora as suas mandíbulas rosnantes,” escreveram os analistas da fundação, qualificando a sua resposta à rebelião Amhara como “autodestrutiva.”

“Abiy enviou tropas federais que recorreram à violência indiscriminada, incluindo ataques com drones, que revoltaram as comunidades locais e reforçaram a sua determinação. Ajudados por oficiais do exército que desertaram, os Fano transformaram cada vez mais as zonas rurais de Amhara em zonas proibidas.”

Outros grupos armados regionais também continuam a entrar em conflito com o governo. Um braço armado da Frente de Libertação Oromo, que representa o maior grupo étnico da Etiópia, luta há décadas.

O recente assassinato de um proeminente político Oromo suscitou a preocupação internacional com a generalização das execuções extrajudiciais e das violações de direitos humanos na Etiópia.

“Os assassinatos em massa estão a tornar-se chocantemente comuns na Etiópia,” Tigere Chagutah, director regional da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, disse num comunicado de 12 de Abril.

Desde a década de 1990, a Etiópia tem sido uma espécie de experiência ténue de federalismo étnico. As suas 10 regiões semiautónomas têm exércitos locais e direito às suas próprias línguas.

No entanto, Abiy não foi capaz de gerir o país. Os críticos afirmam que colocou grupos étnicos e regiões uns contra os outros e permitiu que o discurso de ódio e a retórica violenta florescessem.

Outrora um farol de estabilidade no Corno de África, a Etiópia de Abiy tornou-se parte do caos que se alastra na África Oriental. A guerra civil grassa no Sudão, a oeste, enquanto a Somália está envolvida numa batalha existencial contra o grupo terrorista al-Shabaab, que conta com um grande financiamento.

Em busca de terras costeiras, Abiy fez ondas ao ameaçar a soberania da Eritreia e da Somália e ao concordar em reconhecer a independência do Estado separatista da Somalilândia.

A fim de evitar mais violência interna ou regional, os analistas da fundação apelaram a um diálogo nacional etíope inclusivo, com a ressalva de que o Partido da Prosperidade de Abiy, no poder, não poderia vetar outros participantes ou a agenda geral.

“Assim que a crise actual for travada, os etíopes podem começar a dialogar para chegar a um novo acordo político,” sugeriram. “Abiy pode ter uma voz neste processo, mas não pode ser mais alta do que as outras.”

“A Etiópia precisa de uma liderança responsável se quiser sobreviver como um Estado funcional. Para que o país retome o seu rumo, é necessário que a elite política ponha de lado as suas diferenças e reconheça que o seu país pode em breve entrar em colapso.”

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