Botswana Inaugura Laboratório Forense para Combater Crimes Contra a Vida Selvagem

EQUIPA DA ADF

Um laboratório forense no norte do Botswana desempenhará um papel vital no esforço para desmantelar o comércio ilegal de animais selvagens, de acordo com os apoiantes do laboratório.

“O laboratório forense investigará cientificamente e processará os crimes de tráfico de animais selvagens através do apoio interagências à aplicação da lei, o que implicará a recolha, o armazenamento e a análise de provas,” afirmou o Presidente do Botswana, Mokgweetsi Masisi, ao inaugurar recentemente as instalações juntamente com o Embaixador dos EUA no Botswana, Howard Van Vranken.

O laboratório é apoiado por uma subvenção de 2,7 milhões de dólares do Gabinete de Assuntos Internacionais de Narcóticos e Aplicação da Lei, do Departamento de Estado dos EUA. Os investigadores de Kasane trabalharão com especialistas em vida selvagem da Universidade Virginia Tech, nos EUA, e com a organização não-governamental (ONG) Centro de Recursos Africanos, Animais, Comunidades e Uso da Terra (CARACAL), sediada no vizinho Parque Nacional de Chobe.

“O Botswana está a tornar-se um paraíso para a vida selvagem e, portanto, um alvo para os traficantes,” a fundadora da CARACAL, Kathleen Alexander, disse numa entrevista à ADF. Alexander é uma veterinária da vida selvagem e professora da Virginia Tech que passou mais de 30 anos a trabalhar com o governo do Botswana para proteger a sua vida selvagem.

A abertura do laboratório de Kasane está prevista para meados de 2024. Quando estiver operacional, reforçará a capacidade do Botswana e dos seus vizinhos para perseguir os crimes contra a vida selvagem, disse Alexander.

“É importante desenvolver medidas mais rápidas e mais eficazes para combater o tráfico de animais selvagens,” acrescentou.

Depois de ter diminuído durante a pandemia da COVID-19, o tráfico de animais selvagens em África está a recuperar, impulsionado em grande parte pela procura na China de marfim, chifre de rinoceronte, escamas de pangolim e outras componentes da vida selvagem.

O tráfico de animais selvagens prospera com base na corrupção, nos fluxos financeiros ilícitos e no branqueamento de capitais — factores que o tornaram um mercado importante para as organizações criminosas na Ásia e noutros locais. Os materiais ilícitos são frequentemente embalados com carga legítima para serem contrabandeados por via marítima para receptores asiáticos.

As remessas ilícitas estão a aumentar. No início deste ano, as autoridades vietnamitas apreenderam quase 7.000 quilogramas de presas de elefante no porto de Haiphong.

“É uma tendência muito alarmante de observar — que uma quantidade tão grande de marfim está a ser traficada num só carregamento,” Ellen Tyra, especialista em crimes contra a vida selvagem da C4ADS, sediada nos EUA, disse recentemente à Mongabay.

De acordo com a Comissão de Justiça para a Vida Selvagem (WJC), é fundamental que as investigações de crimes contra a vida selvagem tenham também em conta o aspecto do crime organizado.

“A análise das informações é uma ferramenta essencial neste domínio,” escreveram os investigadores da WJC num relatório recente. “O crime contra a vida selvagem é uma actividade criminosa transversal que não pode ser combatida isoladamente de outros crimes.”

Na última década, o Botswana e os países vizinhos foram associados a mais de 1.000 casos de tráfico de partes de animais selvagens, segundo a C4ADS.

Kasane fica a menos de 100 quilómetros de Victoria Falls, no Zimbabwe, onde sete cidadãos chineses foram acusados de possuir 1 milhão de dólares em chifres de rinoceronte ilegais em 2019. Embora estivessem em liberdade sob caução, os sete homens fugiram mais tarde com a ajuda de um agente da polícia zimbabweana que subornaram para os levar a Maputo, em Moçambique.

O combate bem-sucedido ao crime contra a vida selvagem exige cooperação internacional, disse Masisi. A localização do laboratório em Kasane coloca os investigadores do Botswana ao alcance de colegas de Angola, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe.

Avanços recentes permitiram aos investigadores forenses identificar a origem geográfica de algumas partes de animais traficadas. Isso faz com que laboratórios como o de Kasane sejam vitais para a investigação de crimes contra a vida selvagem e para desmantelar as organizações criminosas por detrás deles.

“As ameaças constantes à nossa vida selvagem e ao seu habitat exigem medidas inovadoras e proactivas,” afirmou Masisi durante a cerimónia de inauguração. “Esta instalação tornar-se-á, portanto, um centro crítico nos nossos esforços colectivos para proteger os preciosos recursos naturais que nos foram legados.”

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