Consumo de Cocaína é um Problema na África Ocidental

EQUIPA DA ADF
 

Com o tráfico de cocaína no seu nível mais elevado de sempre, a África Ocidental está a lutar contra o crime e a dependência.

A região tem sido historicamente uma zona de trânsito da cocaína, da América do Sul para a Europa, mas esse papel também terá contribuído para o desenvolvimento de mercados locais, de acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Droga e o Crime (UNODC).

A tendência vem-se desenrolando há anos. Pierre Lapaque, representante regional do UNODC, disse acreditar que os chefes do tráfico despejam deliberadamente cocaína e outras drogas na região para que os traficantes locais possam cobrar preços suficientemente baixos para atrair novos clientes.

“Os consumidores de drogas são tipicamente do sexo masculino, têm menos de 25 anos e são oriundos de uma classe média ou média-baixa,” disse Lapaque à Voz da América (VOA). “Este perfil enquadra-se perfeitamente na população emergente de África.”

A lenta recuperação da COVID-19, o impacto da guerra da Rússia com a Ucrânia e a crise humanitária na região do Sahel podem exacerbar o consumo e o tráfico de droga, segundo o UNODC. O tráfico de cocaína através da região ajuda a financiar a violência extremista no Sahel.

Embora seja difícil rastrear o consumo de cocaína, o “Relatório Global sobre a Cocaína 2023” do UNODC utilizou dados sobre o tratamento da toxicodependência para obter uma imagem do problema. Em 2017, a cocaína era responsável por 26% dos ganeses que procuravam tratamento para o consumo de drogas. Na Costa do Marfim, era responsável por 27% das pessoas que procuravam tratamento para o abuso de drogas; as taxas eram de 50% na Libéria e 31% na Guiné.

O continente foi responsável por 9% do consumo mundial de cocaína em 2020, segundo o UNODC.

O relatório do UNODC concluiu que os sindicatos do crime em África estão a confiar o trabalho a “provedores de serviços” locais que gerem partes da cadeia de fornecimento de cocaína — e a vendem aos residentes locais.

Geralmente, os provedores de serviços recebem a cocaína nos seus locais de entrada. Muitas vezes, entregam a droga em troca de uma taxa, que pode ser paga em dinheiro ou em serviços em espécie, sendo que a última dessas transacções “impulsiona a disponibilidade de cocaína no mercado interno dos países de trânsito,” refere o relatório.

Na África Ocidental, um ponto de entrada movimentado encontra-se perto da fronteira da Guiné com a Serra Leoa, onde a droga chega frequentemente por mar. As apreensões de cocaína na região dão uma imagem incompleta do movimento da droga, mas são utilizadas pelos funcionários para identificar os pontos críticos.

A Costa do Marfim, por exemplo, registou um recorde de apreensões de cocaína nos últimos anos, incluindo uma apreensão de 6 toneladas, em Fevereiro de 2019.

Conforme relatado no The African Report, outros exemplos são:

* As autoridades apreenderam 9,5 toneladas de cocaína em Cabo Verde, em Fevereiro de 2019, e outras 5,7 toneladas, em Abril de 2022.

* No Senegal, as autoridades apreenderam 5,1 toneladas de cocaína, em Abril de 2020; em Janeiro, foram apreendidos mais de 800 quilogramas de cocaína ao largo da costa de Dakar.

* As autoridades apreenderam 3 toneladas de cocaína na Gâmbia, em Janeiro de 2021.

De acordo com o The Africa Report, as empresas criminosas nigerianas alargaram a sua presença a uma grande parte da região e supervisionam agora parte da rota de trânsito para o Mar Mediterrâneo, através do deserto do Sara.

Em “Máfia África,” um livro publicado em Março de 2023, alguns “barões” da cocaína do Estado de Igbo, na Nigéria, vangloriavam-se de que “conseguiam importar cocaína de forma autónoma graças às suas boas relações com os traficantes de droga de São Paulo.”

Em Setembro de 2022, a Agência Nacional de Combate às Drogas, da Nigéria, apreendeu 1,8 toneladas de cocaína estimada em 278 milhões de dólares num armazém de Lagos, naquilo que afirmou ser a maior apreensão de cocaína de sempre no país.

É provável que os desafios sociais e de segurança da distribuição e consumo de cocaína continuem na África Ocidental, visto que a produção mundial da substância aumentou 35% nos últimos dois anos.

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