Novo Relatório Examina Expansão do Grupo Wagner da Rússia em Toda África

EQUIPA DA ADF

“The Grey Zone” (a zona cinzenta, em inglês) é o nome do canal do Telegram afiliado aos mercenários do Grupo Wagner da Rússia — um nome que também reflecte o ambiente de anarquia onde o Grupo Wagner trabalha.

“The Grey Zone” é também o título de uma nova análise das actividades do Grupo Wagner, realizada pela Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional.

Com o subtítulo “Exército, mercenários e actividades criminosas da Rússia em África,” o relatório destaca as operações do grupo em vários países africanos e as suas empresas ilícitas e ilegais.

“O Grupo Wagner é singular como organização em termos de profundidade, escala e coragem das suas actividades,” escreveram os autores do relatório, Julia Stanyard, Thierry Vircoulon e Julian Rademeyer. “O Grupo Wagner — assim como é hoje — pode ser comparado às características do crime organizado da Rússia e as suas actividades no estrangeiro.”

O Grupo Wagner propaga-se a partir de países do centro, como a República Centro-Africana, para colocar as suas novas raízes noutros lugares do continente. Desde que inicialmente chegou ao Sudão, em 2017, a pedido do antigo ditador, Omar al-Bashir, o Grupo Wagner rapidamente expandiu a sua presença em todo o continente, através de uma mistura de actividades militares, económicas e políticas. Para onde quer que o Grupo Wagner vá, afiliados como Meroe Gold, Kraoma Mining e Lobaye Invest, em pouco tempo, seguem para extrair riquezas minerais e enviá-las de volta para Moscovo.

Para além da República Centro-Africana e Sudão, o Grupo Wagner agora está activo na Líbia e no Mali. O grupo financia campanhas políticas em Madagáscar. As actividades políticas do Grupo Wagner também chegaram a República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, África do Sul e Zimbabwe. O Grupo Wagner retirou-se de Moçambique após sofrer derrotas durante os combates contra extremistas na província de Cabo Delgado.

A pesquisa da Iniciativa Global sugere que o Grupo Wagner esteja de olhos postos em vários outros países africanos. O Grupo Wagner cortejou a junta no poder no Burquina Faso, o quarto maior produtor de ouro de África, no sentido de fornecer ajuda militar contra extremistas islâmicos que operam naquele país. Uma oferta semelhante feita ao Mali até este momento não erradicou os extremistas e levou ao massacre de civis na comunidade de Moura, no ano passado.

De acordo com uma pesquisa do Africa Report, o Grupo Wagner controla uma empresa sediada nos Camarões, designada International Global Logistics (IGL), que lida com o trânsito de materiais relacionados com o Grupo Wagner via porto de e para a RCA. O Grupo Wagner começou como um cliente da empresa, mas agora faz efectivamente a sua gestão.

O centro do Grupo Wagner de Douala, Camarões, colocou aquele país no seu radar para exploração. Em 2022, o Presidente dos Camarões, Paul Biya, que enfrenta uma rebelião nas regiões anglófonas do seu país, assinou um acordo de formação e partilha de informação com o governo da Rússia, durante uma visita a Moscovo.

Enquanto o Grupo Wagner se expandia, alimentava violência, violações de direitos humanos, desinformação para apoiar governos autoritários e contrabando em grande escala de recursos naturais, como ouro e diamante. As actividades do Grupo Wagner geralmente beneficiam os líderes dos seus países anfitriões em detrimento dos cidadãos dos mesmos países e em detrimento dos esforços pró-democracia.

No Sudão, o Grupo Wagner mantém ligações fortes com membros da junta no poder enquanto pratica o contrabando de ouro para fora do país e realiza campanhas de desinformação para beneficiar a junta. Na Líbia, as forças do Grupo Wagner ocupam uma base militar e apoiam as forças leais ao General Khalifa Haftar.

A RCA representa a estratégia da Rússia em África no seu pico, afirma o relatório. Os membros do Grupo Wagner servem como conselheiros e pessoal de segurança do Presidente Faustin-Archange Touadéra e cometem violência chocante contra civis na sua perseguição a rebeldes associados ao antigo presidente François Bozizé. Entretanto, os seus afiliados, como Bois Rouge e Laboye Invest, realizam operações de abate de madeira e de mineração para beneficiar Moscovo.

O Grupo Wagner reflecte um padrão da Rússia de utilizar organizações criminosas para fazer avançar a sua agenda no estrangeiro, particularmente em África. A presença do Grupo Wagner em África prejudica economias, sociedades e instituições governamentais, segundo o relatório.

“Tendo em consideração o efeito corrosivo que as operações do Grupo Wagner têm sobre os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito, este é um risco considerável para a segurança futura de África,” escreveram os autores.

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