Relatório: A Invasão da Rússia na Ucrânia Ajuda o Recrutamento dos Terroristas

EQUIPA DA ADF

Para além de bloquear as cadeias de fornecimento e fazer com que os preços de produtos alimentares e de outros bens disparem, a invasão da Rússia na Ucrânia pode também ser benéfica para os terroristas em algumas partes de África.

No Burquina Faso, República Centro-Africana, Mali, Nigéria e na Somália — áreas onde as economias já se debatiam com a COVID-19 e outras crises — os terroristas recrutam jovens combatentes que precisam de emprego, de acordo com um relatório de Janeiro, produzido pelo Observatório de Al-Azhar Para o Combate ao Extremismo (AOCE).

Desde que a Rússia invadiu o seu vizinho, os esforços para combater organizações extremistas e terroristas no continente fracassaram.

Os analistas afirmam que as actividades dos mercenários do Grupo Wagner da Rússia, em África, não estão a ser úteis. Promovido como uma organização de combate ao terrorismo, o grupo traz um efeito mais desestabilizador do que benefícios para a segurança. O grupo é acusado de pilhar recursos naturais e cometer abusos de direitos humanos, o que leva alguns civis a estarem do lado de grupos terroristas.

“Eles fazem parte do problema, não da solução,” James Kariuki, vice-embaixador da Grã-Bretanha nas Nações Unidas, disse ao Conselho de Segurança da ONU, em Janeiro.

O desenrolar da guerra na Ucrânia coincide com milhares de tropas internacionais partindo de países africanos. No Mali, por exemplo, a França retirou todas as suas forças, em Agosto de 2022, seguida pelas forças britânicas, em Novembro, resultando na diminuição de esforços de combate ao terrorismo.

“A indisposição de alguns exércitos de confrontarem organizações terroristas sozinhos implica maior controlo destas organizações,” afirmou o relatório do AOCE. “Estes grupos penetram sociedades de formas que afectam negativamente a segurança e a estabilidade daqueles países, fazendo com que eles sejam propensos à instabilidade política.”

De acordo com o AOCE, muitas organizações terroristas do continente recrutam novos combatentes em zonas com grave insegurança alimentar, impulsionada, em parte, pela guerra da Rússia na Ucrânia. Nestas zonas, eles atacam populações vulneráveis, obrigando-as a juntarem-se às suas fileiras em troca de comida.

As conclusões do relatório do AOCE, em termos gerais, são semelhantes às conclusões do relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que rotularam a África Subsaariana como o novo epicentro da violência extremista.

O relatório da ONU concluiu que a maioria da população que se junta às organizações extremistas é primariamente motivada pela falta de emprego. Outros são motivados pela pressão de familiares e amigos ou são persuadidos por motivos religiosos. O relatório conclui que muitas pessoas que se juntam a organizações extremistas não confiam nas forças estatais.

A maioria dos novos recrutas são provenientes das zonas rurais e possuem baixo nível de escolaridade. O relatório da ONU citou a estratégia do Boko Haram, na Nigéria, de ter como alvo jovens provenientes de estratos socioeconómicos com educação formal limitada. Isso ajuda a explicar a apetência pelo grupo nos Estados de Borno e Yobe, que possuem as taxas de alfabetização mais baixas daquele país.

“Em muitos países… a falta de rendimento, a falta de oportunidades de emprego, de meios de subsistência e o desespero estão essencialmente a obrigar as pessoas a abraçarem as oportunidades existentes,” disse o Administrador do PNUD, Achim Steiner.

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