Apesar dos Obstáculos, Tecnologia Ajuda Satélites a Rastrearem Embarcações de Pesca INN

EQUIPA DA ADF

As embarcações de pesca que operam nas águas costeiras africanas utilizam sistemas electrónicos diferentes para comunicarem a sua posição e evitarem colisões com outros barcos. Os sistemas também fornecem uma forma para rastrear as embarcações que podem estar a envolver-se na pesca ilegal — mas apenas quando os dispositivos estiverem activos.

Não é incomum que embarcações que operam ilegalmente desliguem os seus sistemas de identificação automática (AIS) ou os sistemas de monitoria de embarcações (VMS) para evitarem detecção. Agora, a nova tecnologia de satélite fornece uma forma para identificar embarcações de pesca envolvidas na pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), independentemente de quando e onde o fizerem.

Satélites equipados com radar de abertura sintética (SAR) conseguem detectar embarcações no escuro ou em condições meteorológicas adversas — dois factores que podem impossibilitar os satélites que utilizam câmaras. Os outros satélites podem rastrear as embarcações, identificando as suas transmissões de rádio. Os sistemas de imagem infravermelha podem detectar barcos que operam à noite. Todas as três tecnologias permitem que as autoridades façam a monitoria das embarcações que desligam os seus sistemas AIS ou VMS.

Os satélites também podem identificar transbordos, nos quais o peixe capturado ilegalmente passa de uma embarcação para outra no meio do mar.

“Os Estados e os órgãos de gestão podem tirar proveito de dados gerados por satélites para detectarem actividades  INN para ganhar clareza sobre onde melhor concentrar os recursos limitados,” os investigadores da Global Fisheries Initiative escreveram num relatório.

A pesca INN é o terceiro crime de recursos naturais mais lucrativo depois do abate ilegal de madeira e da mineração ilegal. Os países africanos são vítimas de quase metade da pesca INN que ocorre em todo o mundo e perdem aproximadamente 11,5 bilhões de dólares para esta prática anualmente, de acordo com a Financial Transparency Coalition.

O crescente volume de dados produzidos através de sistemas de satélite permite que os países comparem e tomem medidas em conjunto para acabar com a pesca INN nas suas águas e fazerem com que as unidades populacionais de peixe sejam mais sustentáveis, de acordo com o relatório.

“Nos próximos anos, esperamos ver mais e mais dados de SAR baseados no espaço, a ponto de podermos revisitar de forma rápida a maioria dos lugares do mundo,” Jared Dunnmon, director técnico da unidade de inteligência artificial, da Unidade de Inovação em Defesa, do Departamento de Defesa dos EUA, recentemente disse ao Defense One. “Este é um factor de mudança.”

Algoritmos automatizados rapidamente analisam grandes volumes de dados SAR para detectar e caracterizar embarcações e permitir que os governos façam o rastreio da pesca ilegal de uma forma sem precedentes, disse Dunnmon.

Como um exemplo das capacidades dos satélites, a base de dados online da Global Fishing Watch comunica que houve aproximadamente 4.000 embarcações detectadas ao largo da costa dos Camarões, entre Março de 2022 e finais de Fevereiro de 2023. Cerca de um terço destas embarcações não foram identificadas, significando que não tinham AIS ou VMS ou os haviam desligado para encobrir as suas actividades.

A base de dados de satélite da Global Fishing mostra concentrações de actividades de pesca ao redor da fronteira dos Camarões e da Nigéria assim como ao largo da costa do Senegal e da Gâmbia.

Os satélites podem fazer mais do que detectar a pesca INN enquanto ela ocorre. Eles podem também medir as condições do oceano e a distribuição da vida marinha de uma forma que ajuda os países a preverem onde e quando a INN provavelmente venha a acontecer, para poderem estar prontos para agir contra ela, segundo o analista Cody Knipfer, escrevendo para a revista The Space Review.

“Com esta informação, as autoridades podem alocar melhor os recursos e priorizar as inspecções e a fiscalização da aplicação da lei para as zonas actuais ou zonas onde se prevê maiores populações de peixe, que são as que estão em maior risco de pesca ilegal,” escreveu Knipfer.

Apesar das suas capacidades, os satélites não podem acabar com a pesca INN ou abordar as suas causas, escreveu Knipfer.

“Para vencer a luta contra a pesca ilegal, serão necessários esforços de aplicação da lei, parcerias eficazes e cooperação internacional,” escreveu Knipfer.

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