2022 Marcado por Conflitos e Golpes de Estado

EQUIPA DA ADF

À medida que 2022 chegava ao fim, a história da segurança africana era marcada por conflitos contínuos, golpes de Estado e instabilidade causada por eles. A guerra civil continuou a incomodar a Etiópia, as forças regionais continuaram a sua batalha contra os militantes jihadistas na Somália, no Sahel e no norte de Moçambique.

Mesmo o Ébola continuou mais uma vez os seus avanços, desta vez, no Uganda.

Abaixo encontra-se uma lista de alguns dos eventos e histórias que continuaram a representar desafios de segurança no continente à medida que o ano chegava ao fim.

GUERRA CIVIL DA ETIÓPIA: Depois de dois anos de guerra civil, houve esperança de uma vitória quando as forças de Tigré e governamentais assinaram um acordo de paz, em Pretória, África do Sul. Nos termos do acordo, as hostilidades irão terminar e a ajuda humanitária virá para Tigré, onde milhares de pessoas necessitam de alimentos, comunicou a revista Addis Standard. Embora exista a esperança de que o frágil cessar-fogo irá manter, os observadores estão preocupados com a presença desestabilizadora de soldados provenientes da vizinha Eritreia. A guerra já fez cerca de 500.000 mortos e deixou milhares de deslocados.

O LESTE DA RD CONGO: A luta contra uma diversidade de grupos rebeldes no leste da República Democrática do Congo continuou ao longo de 2022. Facções armadas, incluindo as Forças Democráticas Aliadas, o Interahamwe, os rebeldes do M23 e uma dezena de outros grupos congoleses fomentaram a instabilidade na região durante anos. Começando com o envio de 12.000 soldados da Comunidade da África Oriental (CAO), do Burundi, Quénia, Sudão do Sul e Uganda, espera-se que a paz irá retomar nas instáveis regiões do leste daquele país em 2023.

OS EFEITOS DA GUERRA DA RÚSSIA E UCRÂNIA EM ÁFRICA: A invasão da Rússia na Ucrânia causou efeitos económicos terríveis e permanentes em quase todos os países africanos. Com maior destaque, o conflito atingiu a Somália de forma particularmente pesada, visto que aquele país depende muito da importação de produtos alimentares, com 90% do seu trigo a vir dos países beligerantes, de acordo com a Reuters. A guerra contribuiu para um aumento do preço de combustíveis e de fertilizantes para os agricultores de todo o continente, o que também causou o aumento do preço dos produtos alimentares.

OS GOLPES DE ESTADO CONTINUAM:O Burquina Faso manteve a tendência alarmante de golpes de Estado de 2021, quando, em Janeiro de 2022, o exército depôs o Presidente Roch Marc Kaboré e transferiu o controlo para o Tenente-Coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba. No final de Setembro, um dos oficiais juniores de Damiba, o capitão Ibrahim Traoré, tirou-o do poder após acusações de que Damiba não tinha conseguido estancar o extremismo violento. Tentativas fracassadas de golpes de Estado também aconteceram na Guiné-Bissau, em Fevereiro de 2022, e em São Tomé e Príncipe, em finais de Novembro de 2022.

VIOLÊNCIA DE MILITANTES NO SAHEL: 2022 esteve prestes a tornar-se o pior ano para Burquina Faso e Mali no que diz respeito à violência, desde que a instabilidade começou no Sahel em 2012, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos. De Janeiro a Junho de 2022, a crise regional piorou. As mortes no Mali já tinham ultrapassado o total de 2021 até aquele momento. Os eventos de extremismo violento no Sahel quadruplicaram desde 2019, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África.

RESSURGIMENTO DO ÉBOLA: Os surtos de Ébola voltam a aparecer em África em 2022, primeiro na RDC e mais tarde no Uganda. As autoridades sanitárias da RDC declararam um surto no dia 23 de Abril de 2022, na província do Equador, e um outro no dia 21 de Agosto de 2022, na província do Kivu do Norte, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Cada surto terminou com um mínimo de transmissão. Contudo, no Uganda, um surto mais significativo que iniciou no dia 20 de Setembro tinha feito 55 mortos até ao dia 5 de Dezembro e outras 22 pessoas que podem ter sido contaminadas também morreram. A estirpe do Sudão causou o surto e tinha começado a reduzir até ao início de Dezembro, de acordo com a página da internet Science.

VIOLÊNCIA NO NORTE DE MOÇAMBIQUE: A força regional da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) continuou a lutar contra os insurgentes na província de Cabo Delgado, em Moçambique, enquanto o ano de 2022 chegava ao fim. De acordo com um canal de notícias sul-africano, News24, os soldados da SAMIM mataram mais de 30 insurgentes e confiscaram armas, munições e equipamento em finais de Novembro. A batalha resultou na morte de dois homens das tropas da SAMIM, sendo um do Botswana e outro da Tanzânia. A SAMIM é composta por 2.000 soldados dos países-membros da SADC. O Ruanda também possui 2.500 tropas na luta, de acordo com News24.

PROTESTOS CONTRA GOLPES DE ESTADO NO SUDÃO CONTINUAM: O Sudão tem sido um caldeirão de instabilidade desde que um golpe de Estado militar, de Outubro de 2021, depôs o governo de transição que procurava tirar o país de um governo ditador, de 30 anos, de Omar al-Bashir. Até Julho de 2022, as forças de segurança tinham causado a morte de 113 protestantes contra golpe, de acordo com um relatório das Nações Unidas e centenas de outros tinham sido presos. Dezenas de milhares de pessoas ainda desafiam realizar manifestações um ano depois do golpe de Estado em Cartum e em outras partes. Os partidos políticos sudaneses e o exército assinaram um acordo no dia 5 de Dezembro para iniciar uma transição de dois anos em direcção a eleições e a um governo civil. Contudo, três dias depois, os protestantes saíram mais uma vez para as ruas de Cartum para exigir que as autoridades militares no poder sejam depostas, comunicou o portal Sudan Tribune. Espera-se que as negociações continuem.

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