A Paz de Tigré Demonstra o Desejo da União Africana de Encontrar Soluções Africanas para Problemas Africanos

EQUIPA DA ADF

Com a assinatura de um acordo de cessar-fogo, no início de Novembro, o governo etíope e os rebeldes tigrenhos terminaram o seu conflito brutal e demonstraram a capacidade da União Africana de encontrar soluções africanas para os problemas crónicos de conflitos armados dos seus Estados-membros.

O papel que os oficiais da União Africana e vários governos africanos desempenharam para intermediar um acordo de paz no conflito, que já dura há 2 anos, na Etiópia, demonstra como um sistema de segurança continental mais activo está a emergir, de acordo com o investigador Alexander Clarkson.

“Os esforços recentes de países e instituições africanas para mediar o acordo de paz na Etiópia e conter a crescente violência no leste [da República Democrática] do Congo podem muito bem ser um sinal das mudanças na dinâmica de poder entre os Estados africanos e no mundo,” escreveu Clarkson recentemente na revista World Politics Review.

As conversações organizadas pela União Africana, na África do Sul, terminaram no início de Novembro com um acordo que restaurou o controlo da Etiópia sobre Tigré e reabriu a região para o mundo. O acordo foi formalmente assinado numa reunião no Quénia.

“Este momento não é o fim do processo de paz,” antigo presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, disse depois da assinatura do acordo. Implementar o acordo continua a ser de extrema importância para o seu sucesso, acrescentou.

O acordo será fiscalizado por um painel da União Africana dirigido por Obasanjo juntamente com outros especialistas escolhidos de toda a África.

A União Africana está a celebrar a sua vitória na Etiópia cerca de 20 anos depois dos Acordos de Arusha, o seu primeiro sucesso como uma organização capacitada para interceder nos conflitos internos dos Estados-membros. Os Acordos de Arusha deram um fim aos conflitos internos entre Hutus e Tutsis no Burundi.

Desde essa altura, a União Africana ajudou a resolver conflitos em todo o continente, desde as Ilhas Comores, no leste, passando pela Líbia, no norte, até Libéria e Serra Leoa, no oeste.

Assim como em outros sucessos da União Africana, a resolução de Tigré veio não de uma intervenção militar, mas de conversações. A comunicação demonstrou, várias vezes, ser uma das soluções africanas que a União Africana procura utilizar para resolver os problemas africanos, de acordo com Dr. Silk Ugwu Ogbo, director da Escola de Comunicação e Jornalismo, da Universidade Pan-Atlântica da Nigéria.

“Isso significa que as partes em conflito devem estar envolvidas para comunicar da ‘forma africana’ e devem continuar a conversar uma com a outra até que o entendimento e o cometimento sejam alcançados e as relações sejam reparadas e restauradas,” escreveu Ogbo na revista International Journal of African Society, Cultures and Traditions, em 2017.

A “forma africana” de resolver os conflitos pode assumir a forma de cânticos, tambores, danças e mais, acrescentou.

“O que é vital é que África não deve abandonar as suas formas tradicionais de resolver conflitos, através de canais de comunicação familiares e fiáveis,” escreveu Ogbo.

Embora Ogbo tenha elogiado a abordagem da União Africana para resolver os conflitos do continente, os críticos afirmaram que a União Africana levou muito tempo para acabar com as hostilidades em Tigré.

À medida que entra na sua próxima década, a União Africana ainda tem trabalho por fazer para afirmar o seu mandato com eficácia, de acordo com o senegalês Oumar Ba, professor de governação, na Universidade Cornell, nos Estados Unidos.

“A guerra no país anfitrião da União Africana, Etiópia, demonstra que, apesar do seu amplo mandato e da Arquitectura de Paz e Segurança de África, aquela organização ainda está a lutar para ser eficaz com uma presença significativa na resolução de conflitos no continente,” disse Ba, nos comentários publicados pela universidade.

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