Com Unidades Populacionais de Peixe Esgotadas, China Lança Redes Pelo Mundo

EQUIPA DA ADF

Desde as costas de África até a América do Sul, no Oceano Índico e no Pacífico Sul, a frota de pesca em águas longínquas (PAL) da China está cada vez mais a dizimar as unidades populacionais de peixes do mundo inteiro.

A frota de arrasto de fundo da China captura aproximadamente 2,35 milhões de toneladas de peixe por ano no continente africano, avaliadas em mais de 5 bilhões de dólares, de acordo com a Fundação para a Justiça Ambiental (EJF).

“Esta é uma grande soma de dinheiro que dificilmente se pode obter,” Steve Trent, fundador e PCA da EJF, disse ao Financial Times. “As pessoas que são afectadas, como sempre acontece, são primeiramente as comunidades costeiras pobres. Quando o peixe acaba, elas não têm meios de subsistência alternativos, não há outros meios para alimentar as suas famílias.”

De acordo com a Guarda Costeira dos EUA, 93% das principais unidades populacionais de peixe do mundo são classificadas como estando completamente exploradas, sobreexploradas ou significativamente esgotadas.

O arrasto de fundo destrói os ecossistemas que os peixes precisam para sobreviver. As enormes redes de deriva dos arrastões capturam todo o tipo de vida marinha. A China é o pior infractor da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) do mundo, de acordo com o Índice de Pesca INN.

“O impacto dessas redes de deriva é absolutamente desastroso,” Vanya Vulperhorst, directora de campanhas da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, da Oceana Europe, disse ao Wine and Water Watch, uma instituição sem fins lucrativos que promove o uso ético das águas. “Elas capturam de forma indiscriminada, e o resultado é que espécies em vias de extinção e protegidas estão a ser mortas em grandes quantidades.”

As actividades da frota de arrasto do fundo da China, em África, representam 78,5% dos seus projectos de pesca offshore aprovados, de acordo com dados colhidos pela EJF junto do Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais da China.

A PAL tem como alvo a África Ocidental desde a década de 1980. Os arrastões de fundo chineses representam 50% do total das capturas da pesca em águas longínquas da China, comunicou a EJF.

O comércio marítimo ilegal lesa a região em cerca de 1,95 biliões de dólares em toda a cadeia de valores pesqueiros e 593 milhões de dólares por ano em rendimento dos agregados familiares. A pesca INN também está ligada a outros crimes, como pirataria, raptos e tráfico de drogas.

A PAL da China, de longe a maior do mundo, rotineiramente faz o uso de equipamento ilegal, captura espécies protegidas e pratica o arrasto em zonas proibidas. Ela passa a pente fino os oceanos do mundo, porque as suas próprias espécies nativas encontram-se gravemente sobreexploradas. Em resposta, a China seguiu uma abordagem intransigente para a pesca ilegal nas suas próprias águas.

 

Em 2020, por exemplo, o governo da China impôs uma proibição rigorosa de pesca, de 10 anos, no rio Yangtze, de 6.300 quilómetros, para preservar as populações de peixes nativos. A acção foi feita em resposta a uma queda significativa da captura doméstica de peixe na China, que saiu de 7,65 milhões de toneladas em 2017 para 6,82 milhões de toneladas em 2019.

Whitley Saumweber, professor de assuntos marinhos e membro sénior da Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia, argumentou que a China devia adoptar e aplicar plenamente as práticas de pesca transparentes e sustentáveis da pesca em águas longínquas para ajudar a preservar as unidades populacionais de peixe no mundo.

“Ninguém irá dizer de forma bem-sucedida o que a China deve fazer com as suas frotas,” acrescentou Saumweber, numa reportagem do portal Mongabay. “Mas, se pudermos convencê-los que um compromisso com a transparência e padrões globais para a sustentabilidade são para o seu melhor interesse, isso teria um efeito transformador sobre o mercado global e um impacto em cascata sobre o comportamento de outras frotas.”

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