Boko Haram Destrói Economia do Lago Chade com Extorsão e Violência

EQUIPA DA ADF

A região do Lago Chade orgulha-se de ter comunidades interligadas que partilham laços étnicos e económicos de quatro países. Elas praticam o comércio e estão misturadas umas com as outras durante séculos. Mas a chegada do Boko Haram prejudicou esses laços e destruiu as economias locais.

Desde 2013, o grupo terrorista infiltrou-se nas comunidades de toda a região onde os Camarões, Chade, Níger e Nigéria se encontram. Actualmente, o Boko Haram domina a economia transfronteiriça, gerando milhões de dólares, através da operação de mercados públicos e um conjunto de crimes, como extorsão, rapto e assaltos à mão armada.

“O grupo ataca as comunidades locais para garantir a sua resiliência, sobrevivência e capacidade de continuar a causar destruição,” escreve Malik Samuel, autor de um recente relatório do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), o qual examina as formas através das quais o Boko Haram e os seus afiliados exploram a região do Lago Chade, para financiar as suas operações.

O relatório do ISS utiliza “Boko Haram” como um termo genérico para os três grupos separatistas que derivaram da organização original. Esses grupos separatistas são o Ansarul Muslimina Fi Biladis-Sudan (Ansaru), a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP) e o Jama’atu Ahlis-Sunna Lidda’Awati Wal-Jihad (JAS).

Cerca de 90% da população da bacia do Lago Chade depende da agricultura, pastorícia e da pesca para a sua sobrevivência. Depois de aproximadamente uma década sob domínio do Boko Haram, cerca de um terço dos 30 milhões de residentes agora precisam de ajuda humanitária e 3,2 milhões abandonaram as suas residências. Mais de 3 milhões encontram-se em situação de insegurança alimentar.

As medidas governamentais destinadas a acabar com os grupos terroristas, como a proibição do transporte de combustível em bidões ou o banimento da exportação de peixe, prejudicaram a economia local. Isso, por sua vez, gerou falta de confiança nas autoridades governamentais enquanto fornecia aos grupos terroristas rendimentos do mercado negro e fazia com que eles fossem fontes importantes da obtenção de rendimento na região.

“A situação e as medidas para combatê-la perpetuaram a insegurança e acrescentaram as dificuldades de governação e socioeconómicas pré-existentes,” escreveu Samuel.

Em alguns casos, o Boko Haram beneficia de membros corruptos das forças de segurança locais, que fornecem armas aos militantes, adquirem gado roubado e agem como intermediários na aquisição de viaturas utilizadas em ataques.

“O conluio de indivíduos das forças de segurança talvez seja o facilitador mais importante para a resiliência do Boko Haram, uma vez que estas entidades são directamente responsáveis por derrotar o grupo e manter a segurança na região,” escreve Samuel.

O ISS desenvolveu o seu relatório através de uma série de entrevistas com antigos terroristas, membros da comunidade, entre outras pessoas da região.

O ISWAP angaria aproximadamente 43 milhões de dólares por ano, através da extorsão de dinheiro de cerca de 10.000 pescadores que procuram obter permissão para trabalhar no Lago Chade. Também recebe cerca de 2,2 milhões de dólares por ano em impostos sobre o peixe seco ou defumado empacotado e enviado a partir do lago. O ISWAP angaria mais rendimentos através do aluguer de alguns dos seus 350 barcos a equipas de pesca e através da cobrança às pessoas que pescam com redes ao longo da costa.

Os terroristas afirmam que os pagamentos fazem parte do “zakat,” um imposto autorizado nos termos da lei islâmica, muitas vezes, para fins de caridade. Na realidade, o dinheiro que levam dos agricultores e pastores vai para os bolsos dos terroristas.

Em suma, para acabar com o domínio do Boko Haram sobre a região do Lago Chade, vai ser necessário mais do que acção militar, disse Samuel. Ele recomenda que:

  • Os governos devem retirar os membros corruptos das forças de segurança cujo conluio apoia o terrorismo directa ou indirectamente.
  • As organizações regionais devem fortalecer a sua capacidade de acabar com o branqueamento de capitais, como uma forma de destruir as redes financeiras do Boko Haram.
  • Os grupos transfronteiriços, como a Força-Tarefa Conjunta Multinacional, devem trabalhar para impedir que os grupos terroristas tenham acesso ao Lago Chade, limitando, deste modo, a capacidade de o ISWAP extorquir os pescadores locais.

Nos seus esforços para impedir que os terroristas tenham um paraíso fiscal económico, na bacia do Lago Chade, os governos devem reconsiderar o tipo de tácticas rigorosas que podem prejudicar os meios de subsistência dos residentes cumpridores da lei da região, observa Samuel.

As medidas para acabar com esta economia e enfraquecer o Boko Haram, muitas vezes, demonstram ser contraproducentes,” escreve Samuel. “Em última instância, essa tendência contribui para a resiliência e subsistência do Boko Haram.”

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