Será Que Armar Civis é a Resposta para a Insegurança da Nigéria?

EQUIPA DA ADF

O governador do Estado de Zamfara, Bello Matawalle, diz que mais de 30.000 bandidos estão a operar em todos os seis Estados do norte da Nigéria, incluindo o seu próprio.

Desde que o governo federal designou os bandidos armados de terroristas, o uso de força contra estes grupos agora faz parte da estratégia militar daquele país.

Uma das abordagens de Matawalle em Zamfara, que se pensa ser o epicentro do banditismo na Nigéria, é armar os civis.

“A crise desafia todas as formas de soluções,” disse num comunicado de imprensa, no dia 1 de Abril.

Ele orientou o comissário da polícia do Estado a emitir 500 licenças de porte de armas em cada um dos 19 emirados do Estado, para aqueles que desejem defender-se a si próprios.

“O governo está pronto para facilitar que a população, especialmente os nossos agricultores, tenha armas básicas para se defender,” disse o gabinete de Matawalle, num comunicado do dia 26 de Junho.

Os bandidos, que se refugiam nas florestas remotas do noroeste da Nigéria, tornaram-se cada vez mais mortais em 2022, tendo aumentado os seus ataques e raptos que têm como alvo os residentes das aldeias e agricultores.

AFP/GETTY IMAGES

Nas regiões noroeste e centro-norte, 2.331 civis foram mortos no primeiro trimestre de 2022. Nesse período, aquelas regiões sofreram 65% do número total de incidentes de segurança na Nigéria, de acordo com a empresa de segurança de Abuja, Beacon Consulting.

O plano do governador despertou críticas e apoio.

“Não se pode apelar que os indivíduos se armem, visto que isto resultará em anarquia,” o Coronel do Exército da Nigéria (reformado), Dan Amuta, disse ao jornal nigeriano Vanguard. “Para mim, a declaração do governador não passa de um erro. Não é correcto apelar que todos fiquem armados. Isso não é possível.”

Bello Galadi, um advogado da capital do Estado de Zamfara, Gusau, teceu duras críticas contra o plano do governador, dizendo que o cidadão médio tem dificuldade de alimentar a sua família e não tem dinheiro para adquirir uma arma. Ele estimou que o preço de uma AK-47 em cerca de 1 milhão de nairas (2.400 dólares).

“É suicídio por parte do nosso governador proceder com este acordo de segurança que irá permitir que os cidadãos tenham armas,” disse ao canal de notícias de Abuja, HumAngle Media. “Irá levar a um estado de anarquia e guerra.”

Murtala Abdullahi, director do gabinete de violência armada, do HumAngle Media, argumentou que armar civis e milícias iria criar mais riscos de segurança do que resolvê-los, numa altura em que a Nigéria já está a sofrer de proliferação de armas.

“Iria simplesmente significar entregar a responsabilidade do governo aos civis, particularmente a tarefa de protecção e policiamento das comunidades,” disse. “Para além disso, armar civis ou criar milícias apoiadas pelo Estado não é um substituto para o investimento tão necessário de construção de capacidade de policiamento.”

A iniciativa de Matawalle de armar civis surge depois de as conversações sobre amnistia com líderes de militantes ter fracassado. O governador também desligou as operadoras de telecomunicações no Estado, durante semanas, num determinado período, para paralisar as gangues armadas.

O Estado de Zamfara afirma que está a recrutar guardas de protecção comunitária adicionais para ajudar a combater os bandidos e irá criar uma unidade paramilitar dirigida por um comissário de polícia reformado.

O Estado também baniu o uso de motorizadas e a venda de gasolina nas zonas mais afectadas pelo banditismo.

“Qualquer pessoa que for encontrada a conduzir motorizadas dentro da área é considerada um bandido,” lê-se no seu comunicado do dia 26 de Junho.

Adebayo Akinade, director-geral do Instituto de Segurança, da Universidade de Lagos, acredita que o governo federal forçou Matawalle a usar uma mão dura para combater o banditismo.

“Se o governo federal tivesse garantido a segurança, não haveria necessidade de uma ordem do governador Matawalle,” disse ao Vanguard. “A ordem foi a única opção aberta para o governador nas circunstâncias em que se encontrava.”

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