EQUIPA DA ADF
O antigo Primeiro-Ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, afirma que cabe ao povo do seu país, com a ajuda da comunidade internacional, pôr fim à guerra brutal que tem devastado o Sudão desde Abril de 2023.
“O povo sudanês é o principal responsável pelo fim desta guerra,” Hamdok disse recentemente à DW durante uma entrevista de uma hora. “Se conseguirmos unir-nos numa frente alargada que reúna toda a gente contra a guerra, esse será o primeiro passo para acabar com esta guerra. Mas, também, não vivemos isolados. Precisamos do apoio das comunidades regional e internacional.”
Os dois generais que estão no centro dos combates — o chefe das Forças Armadas o Sudão (SAF), General Abdel Fattah al-Burhan, líder de facto do país, e o líder das Forças de Apoio Rápido (RSF), General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo — têm de ser responsabilizados pela destruição que causaram, acrescentou Hamdok.
“Penso que todos aqueles que cometeram estas atrocidades devem ser julgados,” afirmou. “Eles precisam de saber que há consequências para o que se faz.”
Enquanto Primeiro-Ministro, Hamdok liderou a componente civil do Conselho de Soberania do Sudão, composto por 11 membros, que foi criado para governar o Sudão temporariamente após os protestos populares que levaram ao derrube militar do ditador de longa data Omar al-Bashir em Julho de 2019.
O acordo de partilha do poder incluía cinco membros das forças armadas, cinco civis e um presidente civil. O calendário de 39 meses previa que os militares, liderados por al-Burhan, supervisionassem o conselho durante os primeiros 21 meses. Hamdok e o grupo de civis liderariam então o conselho durante os 18 meses seguintes, com o objectivo de se tornar uma democracia parlamentar.
No entanto, antes que os civis pudessem tomar o poder, al-Burhan e Hemedti deram um novo golpe de Estado em Outubro de 2021, prendendo brevemente Hamdok e outros civis que se recusaram a apoiar as suas acções. Hamdok foi reintegrado no cargo de Primeiro-Ministro um mês depois, mas demitiu-se em Janeiro de 2022.
O golpe de Estado de 2021, como referiu Hamdok na entrevista, foi o último de uma longa história de transição do Sudão entre golpes militares e governos civis.
“É o fracasso das forças armadas, que desorganizaram o país durante 55 anos,” afirmou Hamdok. “Isto é apenas uma continuação disso.”
Depois de a luta pelo poder entre al-Burhan e Hemedti se ter transformado numa guerra, Hamdok formou a Taqaddum (“Progresso” em árabe), uma organização civil que apelava a um fim pacífico dos combates e a uma transição renovada para o regime democrático.
Enquanto líder da Taqaddum, Hamdok encontrou-se com Hemedti, o que levou o procurador-geral sudanês, Fath al-Tayfour, a acusá-lo e a outros membros da Taqaddum de serem cúmplices de crimes de guerra. Al-Tayfour apelou à Interpol para que prendesse Hamdok.
Hamdok nega que tenha escolhido um lado ou sido cúmplice de crimes de guerra.
“Trata-se de um equívoco,” afirmou à DW. “Não somos um intermediário ou um mediador. Estamos totalmente alinhados com as aspirações do nosso povo.”
Taqaddum declarou-se neutra em relação à guerra crescente entre al-Burhan e Hemedti, que está a atrair milícias mais pequenas de todo o país. Recusou-se a reconhecer como legítimo o governo de al-Burhan que actua em Port Sudan.
A descida para a violência levou alguns observadores a sugerir que o Sudão poderia estar a caminhar para um colapso social ao longo de linhas étnicas como o que levou ao genocídio no Ruanda.
“Estamos a trabalhar incansavelmente para evitar esse destino,” Hamdok disse à DW.
Desde o início dos combates entre as SAF e as RSF, mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas e mais de 2 milhões procuraram refúgio noutros países. Cerca de 25 milhões de pessoas — mais de metade da população do Sudão — necessitam de ajuda humanitária. Mais de 750.000 pessoas estão à beira da fome, de acordo com grupos de ajuda humanitária.
As Nações Unidas e outros observadores afirmam que o conflito está a ser alimentado por forças externas, como os Emirados Árabes Unidos, que fornecem ajuda às RSF. Hamdok apelou à intervenção de actores externos para ajudar todas as partes a encontrar uma solução pacífica.
Apesar dos combates e da destruição, Hamdok continua optimista quanto ao futuro do Sudão. A transformação do Sudão numa democracia não será feita de um dia para o outro, mas vai acontecer, afirmou.
O povo sudanês derrubou as ditaduras militares em 1964, 1985 e 2019, salientou Hamdok.
“O povo sudanês acumulou uma experiência muito forte de resistência,” disse à DW.
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