Tecnologia do M23 Pode Superar as Forças da SADC e da Manutenção da Paz na RDC

EQUIPA DA ADF

Os rebeldes do M23 no leste da República Democrática do Congo (RDC) adquiriram armamento de alta tecnologia que não é típico destas milícias, o que levanta a questão de saber se as tropas da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) poderão ficar em desvantagem quando tentarem ajudar a controlar os rebeldes.

A tentativa de abate de um drone de observação das Nações Unidas a cerca de 70 quilómetros a norte de Goma, em Fevereiro, foi o sinal mais recente de que os combatentes do M23 possuem armas de uso militar para além das armas ligeiras mais comuns entre estes grupos.

Nesse incidente, a ONU observou um conjunto de mísseis terra-ar (SAM), mais tarde identificado como um sistema SAM móvel WZ551 6×6 IFV de fabrico chinês. O sistema possui oito mísseis teleguiados infravermelhos TY-90 e dois sistemas de sensores montados numa torre.

O conjunto de SAM disparou contra o drone da ONU, mas não o atingiu.

De acordo com o Grupo de Especialistas da ONU sobre o Congo, para além das unidades SAM móveis, o M23 também parece possuir “numerosas armas contra aeronaves e também tem no seu arsenal armas antiaéreas e sistemas de defesa aérea móveis MANPAD [mísseis terra-ar portáteis],” bem como morteiros de 120 mm guiados por GPS.

O relatório do Grupo de Especialistas da ONU incluiu duas fotografias que mostram a cauda de um morteiro semelhante recuperado após um ataque a um campo das Forças Armadas da RDC (FARDC) em Kanyamahoro, em Outubro de 2023.

A RDC recebeu recentemente armas sofisticadas, incluindo drones da Bulgária, da China e da Turquia, para combater o M23 e outros grupos rebeldes que proliferam nas regiões orientais do país.

A utilização de armamento sofisticado por parte do M23 deu-lhe uma vantagem sobre as FARDC e permitiu-lhe varrer a região do Kivu do Norte. O M23 tem estado em movimento desde 2022, quando regressou à vida depois de ter sido derrotado pelas FARDC em 2013.

Bintou Keita, chefe civil da missão de manutenção da paz da ONU na RDC, conhecida como MONUSCO, descreveu o M23 como actuando cada vez mais como um exército convencional do que como uma milícia armada. Em 2022, disse ao Conselho de Segurança da ONU que o armamento do M23 poderia constituir uma ameaça que a MONUSCO e outros grupos de manutenção da paz não estariam preparados para combater.

Prevê-se que a MONSUCO retire os seus 15.000 efectivos até ao final de Dezembro de 2024. Entretanto, o Malawi, a África do Sul e a Tanzânia estão a enviar colectivamente cerca de 5.000 soldados. As forças da Missão da SADC na RDC (SAMIDRC) foram destacadas a 15 de Dezembro de 2023, para substituir a Força Regional da Comunidade da África Oriental que os líderes da RDC expulsaram nesse mesmo mês.

Em Fevereiro, a África do Sul informou que dois dos seus soldados morreram e três ficaram feridos quando uma bala de morteiro atingiu a sua base.

Os avanços do M23 permitiram-lhe controlar várias estradas e as comunidades de Bunagana, Kitchanga, Kiwanja, Mweso, Rubaya e Rutshuru. Está a aproximar-se de Goma, a capital do Kivu do Norte, que faz fronteira com o Ruanda. Os combatentes do M23 fizeram com que milhares de civis fugissem à sua frente, à medida que iam varrendo uma comunidade atrás da outra.

Henriette Muyume está entre os civis forçados a fugir.

“Estamos a fugir dos combates entre rebeldes e soldados,” disse Muyume à Al Jazeera. “Não sabemos para onde podemos ir, mas não podemos sobreviver nesta situação. É demais para nós.”

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