Exército do Mali, Grupos Rebeldes e Extremistas Lutam pelo Controlo de Kidal

EQUIPA DA ADF

Durante anos, o governo e o exército do Mali não tiveram praticamente qualquer presença na cidade estratégica de Kidal, no norte do país. No entanto, desde que chegou ao poder num golpe de Estado em 2020, o Coronel Assimi Goïta deixou claro o seu desejo de retomar o reduto rebelde Tuaregue e restabelecer a soberania territorial do Mali.

A recente retirada da missão de manutenção da paz das Nações Unidas, MINUSMA, desencadeou um vazio de segurança e uma corrida ao controlo das vastas terras desérticas do norte do Mali.

Os combatentes são as tropas da junta militar, os rebeldes Tuaregues e vários grupos militantes extremistas. A peça central da sua conquista é Kidal, historicamente uma fonte de múltiplas insurgências que se espalharam por toda a região do Sahel.

“Uma estimativa conservadora é que a junta do Mali e as autoridades só têm a seu cargo cerca de 20% do território nacional,” Beverly Ochieng, analista da BBC Africa, disse num podcast de 23 de Novembro.

“Portanto, não se trata apenas de um problema do norte, mas de todo o país.”

Uma grande coluna do exército maliano, juntamente com mercenários russos do Grupo Wagner e apoio aéreo, começou a deslocar-se para o norte em Outubro, estabelecendo-se na aldeia de Anéfis, cerca de 110 quilómetros a sul de Kidal.

Pelo caminho, a coluna maliana defendeu-se dos ataques de uma coligação de facções separatistas Tuaregues chamada Quadro Estratégico Permanente (Cadre stratégique permanent, ou CSP), que se mudou para a base da MINUSMA em Kidal quando as forças de manutenção da paz partiram a 31 de Outubro.

Seguindo o conselho do Grupo Wagner, a junta do Mali exigiu, em Junho, a saída da força de cerca de 15.000 homens da MINUSMA. No final de Outubro, a deterioração da situação de segurança obrigou a ONU a acelerar a sua retirada de Kidal, que tinha sido planeada para meados de Novembro.

“Tivemos de partir devido às graves condições de segurança que estavam a pôr em risco a vida dos soldados da paz,” a porta-voz da MINUSMA, Fatoumata Kaba, disse à BBC. “O princípio que foi adoptado é que todas as bases da MINUSMA devem ser entregues às autoridades civis do Mali e, sempre que foi possível, fizemo-lo.”

As forças malianas atacaram Kidal, tendo como alvo a antiga base da ONU e outros locais com uma série de ataques de drones, no dia 7 de Novembro. O presidente do Conselho Municipal de Kidal, Arbakane Ag Abzayack, disse à The Associated Press que o vice-presidente da Conselho Municipal estava entre pelo menos 14 vítimas.

“Seis pessoas, incluindo crianças, foram mortas por ataques aéreos do exército do Mali,” um funcionário da saúde disse à Agence France-Presse (AFP).

No dia 14 de Novembro, os rebeldes cortaram as linhas telefónicas e abandonaram Kidal quando as tropas malianas entraram. Um oficial do Mali disse à AFP que o exército controlava a pista de aterragem de Kidal e a base das Nações Unidas.

Enquanto a junta declarava uma vitória simbólica, o CSP afirmava que se retirava “por razões estratégicas” depois de ter “durante vários dias travado o avanço [do exército], infligindo grandes perdas humanas e materiais.”

“A luta continua,” declarou o grupo num comunicado. Goïta prometeu o mesmo numa mensagem nas redes sociais.

A questão que se coloca agora ao exército do Mali, amplamente alargado, é saber durante quanto tempo conseguirá manter o controlo dos remotos territórios do norte que conquistou.

O recrudescimento dos combates na região obrigou milhares de pessoas a abandonar as suas casas e aumentou drasticamente o número de mortos, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, que registou cerca de 400 vítimas, quase metade das quais civis, entre Agosto e meados de Outubro.

Os analistas dizem que o prolongamento dos combates no norte do Mali irá provavelmente alimentar o recrutamento de separatistas Tuaregues e de grupos terroristas extremistas.

“O CSP acusou o exército e os seus aliados do Grupo Wagner de cometerem atrocidades contra civis, nomeadamente em Ersane, uma aldeia situada a meio caminho entre Gao e a cidade de Kidal, onde 17 pessoas foram alegadamente mortas por execução e os seus cadáveres foram armadilhados com explosivos,” informou o Grupo de Crise, no dia 13 de Outubro.

As autoridades malianas negaram as acusações.

Ochieng disse que a situação de Kidal é “bastante fluida e tensa,” com os civis a fugirem para o sul, para Menaka, e para o norte, para a Argélia.

“As pessoas estão a carregar colchões, estão a carregar tudo o que podem para poderem chegar a um lugar seguro,” disse. “As pessoas podem sentir a necessidade de se juntar a alguns dos grupos armados como forma de autodefesa ou de sobrevivência.”

Ochieng disse que a eficácia da estratégia da junta do Mali de estabelecer a sua presença e consolidar o poder em torno das bases abandonadas da MINUSMA ainda está por se ver.

“As bases da ONU tornaram-se o local estratégico para a sua presença ou para o destacamento de forças,” disse. “Mas não nas zonas longínquas, que, especialmente perto das fronteiras, são afectadas pela violência.

“É óbvio que não se pode ter um exército em todos os sítios, especialmente numa zona como o Sahel, onde há volatilidade em vastas zonas, não só dentro do país, mas também fora das fronteiras.”

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