Com Partida da EACRF, Força da África Austral Procura Acalmar Tempestade na RDC

EQUIPA DA ADF

Enquanto uma força regional sai do leste da República Democrática do Congo (RDC), outra está a chegar para tomar o seu lugar.

A pedido do governo congolês, a Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF) iniciou a sua retirada, enquanto a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) está a ser enviada para o caótico campo de batalha que é o leste da RDC.

“A EACRF vai transferir as responsabilidades de segurança no leste da RDC para as forças da SADC,” afirmou a força regional numa publicação de 3 de Dezembro no X, a plataforma anteriormente conhecida como Twitter. “Foram elaborados planos para assegurar uma transferência harmoniosa para a força designada que permitirá a continuidade dos esforços de paz na região.”

No dia 17 de Novembro, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, anunciou que a SADC, um bloco regional de 16 países, vai enviar a sua força denominada SAMIDRC com a missão de apoiar o exército congolês na luta contra os rebeldes do M23.

Numa entrevista a jornalistas franceses, Tshisekedi acusou o Ruanda e o seu presidente, Paul Kagame, de estarem na origem da instabilidade.

O Ruanda nega veementemente as alegações. Um porta-voz do governo disse que o destacamento de uma outra força regional não resolve a causa principal daquilo a que chamou uma falha de segurança e governamental de longa data do governo da RDC.

Analistas como Delphin R. Ntanyoma, investigador visitante na Universidade de Leeds, afirmam que a situação continua a tornar-se cada vez mais complexa. Ntanyoma registou recentemente alguns riscos para a missão da SAMIDRC:

“O objectivo principal seria atingir os rebeldes do M23, deixando de fora os outros grupos armados do leste da RDC,” escreveu num artigo de 24 de Novembro no The Conversation Africa. “Isso poderia dar ao Ruanda mais espaço para explorar a força rebelde M23.”

Ntanyoma receia que seria um erro ignorar os mais de 120 outros grupos armados que operam no Leste, alguns dos quais também perpetram violência contra civis e alimentam tensões étnicas.

Observou também que a alegação do M23 de lutar pela protecção dos Tutsis congoleses é significativamente diferente, e deve ser dissociada, do desejo do Ruanda de erradicar os restos dos grupos responsáveis pelo genocídio de 1994.

Outra preocupação é que a concentração em objectivos militares negligencie o potencial de paz. O governo da RDC criticou a EACRF pela sua falta de vontade de combater o M23, mas a sua missão era supervisionar o cessar-fogo e facilitar as negociações.

Os críticos dizem que uma abordagem puramente militar para lidar com a violência no leste da RDC seria pouco aconselhável.

“A força da SADC pode acabar por ficar em menor número numa vasta região,” escreveu Ntanyoma. “Corre o risco de ver os seus esforços criticados, tal como os da Comunidade da África Oriental, devido à sua capacidade limitada de combater as causas subjacentes à violência no leste do Congo.”

Alguns congoleses acreditam que as respostas estão dentro da RDC, quer sejam diplomáticas ou militares.

“A RDC deve manter a ideia de que nem uma única força estrangeira trará a paz à RDC,” o Dr. Nkere Ntanda, professor de ciências políticas na Universidade de Kinshasa, disse a Moses Havyarimana, da VOA.

“A RDC terá de se organizar, de organizar o seu exército, de organizar a sua segurança e todas as suas forças para se defender. Por isso, a SADC não vai fazer qualquer diferença.”

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