Depois de Falhar Militarmente, al-Burhan Tenta Diplomacia de Mediação

EQUIPA DA ADF

Enquanto o conflito entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) se arrasta, o líder de facto do Sudão, General Abdel Fattah al-Burhan, passou várias semanas em Agosto e Setembro a viajar para fora do Sudão para reforçar as relações com os países vizinhos e aliados no Golfo Pérsico.

Al-Burhan visitou também a reunião anual dos chefes de Estado na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde proferiu um discurso. O seu rival Hemedti também publicou uma mensagem em vídeo. Cada um deles culpou o outro pelo início do conflito que dilacerou o seu país, ao mesmo tempo que se comprometeram a encontrar uma solução pacífica.

A diplomacia de mediação de al-Burhan na África Oriental e no Médio Oriente destina-se a reforçar a sua posição de líder do Sudão e a tentar fazer politicamente o que não conseguiu fazer militarmente, segundo Muhammad Khalifa al-Siddiq, professor de ciências políticas na Universidade Internacional de África em Cartum.

“Ao visitar o Egipto e o Sudão do Sul, ainda que brevemente, Burhan está a mostrar que está disposto a procurar uma solução política rápida, numa altura em que várias iniciativas internacionais estão em cima da mesa,” disse al-Siddiq à France24. “Se ele pensasse que podia resolver o conflito apenas com meios militares, teria ficado em casa e utilizado todos os meios disponíveis para derrotar as RSF.”

Os países que al-Burhan visitou — Egipto, Eritreia, Qatar, Sudão do Sul e Turquia — ou estiveram abertamente do seu lado no conflito, como o Egipto, ou desempenharam um papel de mediação em conflitos anteriores no Sudão, como é o caso do Sudão do Sul.

Após o fracasso das conversações de paz em Jeddah, na Arábia Saudita, o Egipto criou, em Julho, um grupo de vizinhos do Sudão e de seis outros países para tentar encontrar uma solução para o conflito.

Al-Burhan pode estar a procurar apoio financeiro para reconstruir o Sudão após o fim do conflito ou pode estar a procurar mais armas para o seu lado, disse Waleed Madibo, do Sudan Policy Forum, à Al Jazeera.

Pouco depois do início das hostilidades, em Abril, al-Burhan anulou a lei de 2017 que fazia das RSF uma ala oficial das forças armadas e declarou a milícia um grupo rebelde. A declaração de al-Burhan visava isolar as RSF, segundo os especialistas, e avisou a União Africana e outros países para evitarem contactos com as RSF, que têm os seus próprios aliados na Líbia e nos Emirados Árabes Unidos, bem como com os mercenários russos do Grupo Wagner.

“Ao dissolver as RSF, ele fechou a porta a qualquer reconciliação,” disse Madibo.

Os analistas dizem que al-Burhan só pôde viajar depois de ter saído do seu quartel-general em Cartum, que tem estado sob ataque dos combatentes das RSF desde Abril, e estabelecido uma nova base a mil quilómetros de distância, em Port Sudan. Com al-Burhan em Port Sudan, Hemedti ameaçou criar um governo rival em Cartum, um acto que dividiria efectivamente o país em leste e oeste.

A ameaça de Hemedti mostra a necessidade urgente de substituir o Conselho de Soberania no poder para restaurar a ordem no Sudão, segundo o major-general reformado do exército Amin Magzoub, director do Centro de Estudos Estratégicos e de Segurança, em Cartum.

“Há necessidade de criar um verdadeiro governo para substituir a actual administração, que está mandatada para gerir os assuntos quotidianos do país,” disse Magzoub ao The National. “A ausência continuada de um governo genuíno colocará o Sudão no caminho para ser um Estado falhado.”

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