Alguns Grupos de Jovens Sudaneses Pegam em Armas para Lutar ao Lado das SAF

EQUIPA DA ADF

Em resposta aos ataques brutais contra civis perpetrados por membros das milícias, alguns dos grupos pró-democracia do Sudão, que outrora protestavam contra as Forças Armadas do Sudão (SAF), reuniram-se para as apoiar.

Nos seis meses que decorreram desde o início dos combates entre as SAF e as Forças de Apoio Rápido (RSF), a milícia controlada por um general conhecido por Hemedti foi acusada de uma série de atrocidades, incluindo violações, execuções sumárias e incendiar comunidades inteiras.

Agora, alguns grupos estão a tomar partido e a deixar claro quem eles culpam pelas atrocidades.

“Acreditamos que esta guerra foi causada por um conflito de interesses entre os generais de ambos os lados, mas testemunhámos e vivemos humilhações generalizadas infligidas pelos soldados das RSF,” um activista anónimo e manifestante pró-democracia de longa data disse ao Middle East Eye (MEE). “Vi as RSF obrigar cidadãos comuns a carregarem os seus próprios bens até aos camiões das RSF, para que pudessem levar o saque. Nunca me vou esquecer disso.”

Entre os que se juntaram à luta contra as RSF contam-se as Facções Populares da Resistência, os Reis dos Confrontos e os Zangados Sem Fronteiras. Outra milícia, a Brigada El Bara Bin Malik, tem ligações ao Departamento de Reserva das SAF. Os grupos são uma minoria das organizações juvenis pró-democracia do Sudão, a maioria das quais se recusou a tomar partido, apelando à paz e prestando ajuda humanitária.

Os representantes da organização “Zangados sem Fronteiras” disseram à rede de televisão Alaraby TV que apoiam “qualquer solução política que conduza à dissolução da Milícia de Apoio Rápido.”

Os grupos também são claros quanto ao facto de estarem a apoiar os soldados de base das SAF e não a sua liderança. A luta contra as RSF uniu tanto os grupos pró-democracia como os seus opositores, que apoiam o governo dominado pelos islamitas, representado pelo General Abdel Fattah al-Burhan das SAF e pelo antigo ditador Omar al-Bashir.

No final de Junho, al-Burhan apelou aos cidadãos sudaneses para que se juntassem à luta contra as RSF, que declarou serem uma milícia rebelde. Hemedti, por outro lado, recrutou combatentes da sua região natal de Darfur e do norte do Sahel para reforçar as suas fileiras contra as SAF fortemente armadas.

“Quanto mais desesperado se torna o impasse entre os generais, mais eles recrutam,” a analista sudanesa Samah Salman disse à ADF por telefone.

Os apoiantes das SAF rotularam as RSF de “milícias estrangeiras” porque Hemedti recrutou combatentes do Chade e do Níger e insistem que têm a obrigação de lutar contra estas.

“Continuamos a ser contra os generais de topo do exército e contra o antigo regime, mas acreditamos que o exército é suposto ser para toda a população sudanesa e que é dever do exército nacional proteger o povo,” um conjunto de grupos pró-democracia de Cartum afirmou num comunicado.

Os membros do grupo pró-democracia disseram ao MEE que se organizaram e treinaram sem a ajuda das SAF para se protegerem dos ataques às suas comunidades em Cartum e na vizinha Omdurman.

“Por isso, a história é simplesmente sobre defendermo-nos a nós próprios, as nossas famílias e propriedades dos ataques das RSF, e a nossa prioridade agora é expulsar as RSF de Cartum,” um activista disse ao MEE.

Outros civis pró-democracia afirmaram ter recebido formação em campos operados pelas SAF na região da capital.

À medida que cada um dos lados do conflito atrai novos combatentes para as suas fileiras, a luta entre al-Burhan e Hemedti ameaça tornar-se abrangente.

“Nenhum dos lados é capaz de dominar completamente o outro,” disse Salman à ADF. “Estamos realmente à beira de uma guerra civil.”

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