Grupo Wagner Pilha Diamantes da RCA

EQUIPA DA ADF

Um novo relatório demonstra como a Rússia utiliza os seus mercenários do Grupo Wagner para extrair diamantes da República Centro-Africana.

Uma pesquisa publicada em Dezembro de 2022 pelo jornal belga De Standaard, a rede de Media European Investigative Collaborations (EIC) e o projecto All Eyes on Wagner concluíram que “em troca de apoio militar para o governo da RCA, o Grupo Wagner da Rússia recebe acesso a matérias-primas preciosas.”

Desde que criou uma base na RCA, o Grupo Wagner movimentou-se rapidamente para tomar e controlar várias minas.

“Onde quer que existam minas e garimpeiros, estas pessoas ligadas ao Grupo Wagner estão lá, armadas,” afirmou o relatório da EIC. “Quando alguém [um minerador de ouro ou de diamante] encontra algo bom, eles vão ter com aquela pessoa.

“Até já houve assassinatos desta natureza, para levar a mercadoria de outras pessoas.”

Dezenas de mineiros foram alegadamente mortos em pelo menos três principais ataques, em 2022, alegadamente envolvendo mercenários que trabalham para o Grupo Wagner. O grupo foi fundado por Yevgeny Prigozhin, um conselheiro próximo do presidente russo, Vladimir Putin.

Pauline Bax, directora-adjunta de África, no Grupo Internacional da Crise, disse que a mineração na RCA tem sido assolada pela violência desde que o Grupo Wagner chegou.

“Existem relatos constantes de atacantes que chegam de helicóptero, matando mineradores artesanais de ouro e rebeldes — [posteriormente] levam tudo o que eles podem e depois vão,” disse num comunicado.

“Às vezes, voltam cerca de um mês depois e fazem a mesma coisa. Não tem nada a ver com garantir a segurança de um local de extracção mineira.”

Uma empresa de exportação de diamantes na RCA chamada Diamville, alegadamente é uma das muitas subsidiárias do Grupo Wagner, que foi acusada de cometer crimes de guerra e violações de direitos humanos na RCA, no Mali e na Ucrânia.

Uma investigação de Julho de 2022, feita por EIC, Mediapart e All Eyes on Wagner, entrevistou profissionais da área de diamantes familiarizados com a indústria da RCA.

“São os resultados da pilhagem e outras coisas que passam por eles [Diamville],” disse um deles, de forma anónima, por medo de retaliação. “Os produtos que eles levam à força das pessoas, de pobres recolhedores e pobres artesãos.”

Um outro disse que os operativos do Grupo Wagner criaram um cartel para obrigar recolhedores independentes de diamantes para venderem exclusivamente a Diamville.

“Qualquer um que tentar descobrir qualquer coisa sobre os russos será tido como alvo,” disse. “Assim que falo, se puderem decifrar a nossa comunicação, estou morto.”

A estratégia bem estabelecida do Grupo Wagner é criar empresas a nível local como uma fachada para poderem roubar ou exportar recursos naturais.

A investigação da rede EIC, em Dezembro de 2022, demonstrou que Diamville, um dos quatro maiores exportadores de diamante da RCA, enviou 296 quilates, avaliados em aproximadamente 132.000 euros, para Bélgica, em Novembro de 2019.

Cerca de 86% de diamantes brutos do mundo passam pela Antuérpia, Bélgica.

Os diamantes do conflito, também conhecidos como diamantes de sangue, tipicamente vão por via subterrânea através dos vizinhos Camarões e Sudão, embora alguns passem por canais oficiais com licenças de exportação, de acordo com De Standaard.

Embora o valor dos diamantes definitivamente ligados ao Grupo Wagner seja relativamente pequeno, investigadores suspeitam que possa haver uma quantidade muito maior a ser exportada a partir da RCA. Em Junho de 2022, quatro meses depois do início da guerra da Rússia na Ucrânia, diamantes avaliados em aproximadamente 400 milhões de euros foram exportados pela Rússia para Bélgica.

Especialistas afirmam que as receitas do Grupo Wagner, incluindo diamantes de sangue da RCA, financiam directamente as operações militares do grupo na Ucrânia.

Num discurso de Março de 2022, preferido no Parlamento Federal da Bélgica, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, emitiu uma repreensão implacável contra os compradores de diamantes de sangue da RCA e de outras partes de África.

“A paz vale muito mais do que qualquer coisa,” disse. “Mais do que quaisquer valores, mais do que quaisquer diamantes.”

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