Nova Página da Internet Documenta Violações de Direitos Humanos do Grupo Wagner

EQUIPA DA ADF

Uma página da internet de fonte aberta recentemente criada, chamada “All Eyes on Wagner” (Todos de Olhos no Grupo Wagner), rastreia as actividades dos mercenários que trabalham para o Grupo Wagner da Rússia em África e outras partes.

Este site documenta abusos de direitos humanos do Grupo Wagner com base na informação obtida das redes sociais, reportagens, fotografias aéreas, imagens de satélite e outros materiais publicados.

“O projecto visa confirmar e documentar as alegações de incidentes de direitos humanos, predação económica e vectores de expansão em países onde os mercenários do Grupo Wagner estão estabelecidos,” de acordo com a página da internet.

O modelo é semelhante a um utilizado pela bellingcat.com, que utiliza recursos de fonte aberta e de pesquisa crowdsource para documentar crimes de guerra como aqueles cometidos durante a invasão russa à Ucrânia.

Documentar as más práticas do Grupo Wagner num único lugar será de grande importância para quaisquer acusações futuras de crimes de guerra aos combatentes do Grupo Wagner e seus apoiantes financeiros, de acordo com um especialista em segurança e antigo analista de inteligência canadiano, Phill Gurski, presidente da Borealis Threat and Risk Consulting, com sede no Canadá.

“Irá trazer alguma luz sobre aquele muitíssimo mau grupo de pessoas,” disse Gurski falando sobre o All Eyes on Wagner. “O facto de termos pessoas a mostrarem ao mundo o que esses homens estão a fazer é importante.”

O Grupo Wagner estabeleceu a sua presença na Líbia, onde apoiou as tropas leais ao Marechal Khalifa Haftar, durante a guerra civil daquele país. Recentemente mudou-se para o Mali a convite da junta no poder e assinou acordos para depor o líder sudanês Omar al-Bashir antes de ser deposto.

A posição mais proeminente do Grupo Wagner pode ser na República Centro-Africana onde um membro serve como Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente e as tropas foram acusadas de crimes contra civis em partes controladas por rebeldes daquele país.

Muitas destas operações estão representadas na base de dados daquela página da internet, que documenta crimes como o assassinato do dia 2 de Março de 35 malianos, próximo da comunidade de Danguèrè Wotoro, cujos corpos foram encontrados incendiados e com as suas mãos atadas nas costas. O relatório inclui uma imagem dos corpos.

“As vítimas eram todas do sexo masculino e muitas delas tinham as mãos atadas e o rosto vendado. Parecem ter sido alvejados,” indica o relatório. “Estes homens teriam sido alvejados no acampamento gerido pelo exército maliano e por mercenários do Grupo Wagner.”

A base de dados reporta as mortes de Fevereiro de duas raparigas por uma de muitas minas armadilhadas russas e outros explosivos que as forças do Grupo Wagner deixam para matar os civis que regressam, uma vez que as forças de Haftar se retiraram dos bairros de Trípoli, em 2021.

A base de dados inclui 15 relatos de violações sexuais e assassinatos perpetrados por mercenários do Grupo Wagner na República Centro-Africana, como as mortes indiscriminadas do dia 15 de Fevereiro de 2021, de civis que se refugiavam numa mesquita na comunidade de Al Taqwa.

A página da internet também rastreia as actividades mineiras da Lobaye Invest, com ligações ao Grupo Wagner. A empresa é detida por Yevgeny Prigozhin, pessoa de confiança do presidente russo, Vladimir Putin. As actividades mineiras da Lobaye, muitas vezes, são utilizadas para pagar as operações do Grupo Wagner.

Gurski disse que All Eyes on Wagner demonstra o poder da internet e da tecnologia para documentar crimes de guerra e violações de direitos humanos que teriam sido muito mais difíceis de descobrir nas décadas passadas.

“A inteligência tradicional agora fornece cerca de 5% de material extra,” disse Gurski. “Os serviços de inteligência agora têm o luxo de concentrar-se em material que ninguém mais tem acesso.”

Quanto mais a página da internet manter o Grupo Wagner no olho do público, maiores as possibilidades do descontentamento público pressionar os líderes do mundo inteiro para exigirem a responsabilização do grupo e dos seus operadores, desse Gurski.

“Isso deixa as pessoas iradas,” disse Gurski. “E a ira das pessoas galvaniza os seus governos. O facto de isso estar a acontecer para o Grupo Wagner é muito bom.”

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