Aumentam Apelos para a RCA Expulsar as Forças do Grupo Wagner

EQUIPA DA ADF

Em meados de Novembro, membros do Grupo Wagner, apoiado pelo Kremlin, Rússia, atacaram dois locais de extracção mineira, na cidade de Kouki, República Centro-Africana (RCA), matando 19 mineiros artesanais. As tropas do Grupo Wagner também atearam fogo em casas e lojas, incendiando alguns residentes vivos.

O Grupo Wagner afirmou que os mortos eram membros de grupos rebeldes que lutavam contra o governo, de acordo com o Corbeau News Centrafrique, da RCA. Os aldeões contradisseram esta afirmação. As forças rebeldes saíram da aldeia há um ano, disseram. Os mortos eram mineiros artesanais e cidadãos do Chade.

Histórias semelhantes abundam por toda a RCA, onde mercenários do Grupo Wagner passaram os últimos quatro anos a apoiar a campanha do presidente, Faustin-Archange Touadéra, contra a Coligação de Patriotas para a Mudança, um conjunto de rebeldes ligados ao antigo presidente, François Bozizé.

Ver as forças do Grupo Wagner e os veículos militares russos que utilizam para viajar passou a ser comum na República Centro-Africana CORBEAU NEWS CENTRAFRIQUE

A relação da RCA com o Grupo Wagner começou em 2017 com menos de 200 mercenários recrutados como conselheiros militares. Actualmente, cerca de 3.000 combatentes do Grupo Wagner estão presentes em 30 bases espalhadas por todo o país. As forças incluem sírios que foram redistribuídos de operações do Grupo Wagner na Líbia.

Empresas mineiras associadas ao Grupo Wagner agora também operam no país. O antigo oficial de inteligência russa, Valery Zakharov, serve como conselheiro nacional de segurança de Touadéra.

Apesar de afirmarem ser conselheiros, as tropas do Grupo Wagner rapidamente entraram em franco apoio a Touadéra, abandonando o seu programa de treinamento a favor de combate directo contra os insurgentes, de acordo com soldados que servem nas FACA, as Forças Armadas Centro-Africanas.

As fortes tácticas do Grupo Wagner incluem a colocação de minas terrestres nas estradas e a pilhagem de aldeias. Também são acusados de violações, desaparecimentos forçados e execuções dos residentes locais.

“Estamos a ver algumas das mais graves violações dos direitos humanos e as vemos numa escala abrangente,” Sorcha MacLeod, membro do Grupo de Trabalho das Nações Unidas Sobre o Uso de Mercenários, disse à CNN. “As pessoas que estão no terreno estão aterrorizadas.”

O grupo de MacLeod apelou que Touadéra expulsasse o Grupo Wagner do país, mas Touadéra não demonstra qualquer intenção de o fazer. Pelo contrário, o seu governo exibiu equipamento militar russo adquirido recentemente, incluindo veículos blindados, pelas ruas da capital.

As forças do Grupo Wagner também abusaram os seus supostos aliados nas FACA.

No dia 8 de Novembro, dezenas de forças do Grupo Wagner, que viajavam numa coluna de seis veículos blindados, pararam na aldeia de Bondiba, a caminho de Baboua, de acordo com o Corbeau News Centrafrique. Quando encontraram os membros das FACA, em Bondiba, as tropas do Grupo Wagner os obrigaram a deitar-se no chão antes de roubar-lhes o dinheiro, os telemóveis e qualquer coisa de valor que tivessem. Posteriormente, pilharam as lojas da aldeia, levando dinheiro e bens.

Cerca de duas horas depois, os soldados das FACA abandonaram as suas posições em Bondiba e regressaram a casa, em Bangui. Eles afirmaram que não recebem subsídios de alimentação há seis meses e os russos tinham pilhado o pouco que os aldeões tinham.

Alguns dias depois do ataque, as forças do Grupo Wagner pilharam a cidade de Bria, passando de porta em porta, a cerca de 1 hora da madrugada, acordando os residentes que já estavam a dormir e levando tudo, desde esteiras até dinheiro e motorizadas. As forças do Grupo Wagner mataram dois homens e raptaram seis pessoas, todas elas envolvidas no comércio de diamantes, levando-as para Bangui de avião, pela manhã, noticiou o Corbeau.

As actividades do Grupo Wagner estão a prejudicar o apoio público que o grupo tinha no início da sua campanha na RCA.

“Eles vieram para o nosso país não para colaborar connosco, mas para matar-nos,” um homem identificado como Bashir disse ao Vice News. O seu irmão, disse ele, foi torturado pelas forças do Grupo Wagner e mais tarde foi alvejado mortalmente na rua por homens que ele afirmou terem sido contratadas pelo Grupo Wagner.

“Os que cometeram estes crimes devem ser trazidos à justiça,” disse Bashir. “Caso contrário, isso voltará a acontecer.”

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