EQUIPA DA ADF
Com a sua quarta vaga da COVID-19 que se propaga de forma rápida, alimentada pela variante Ómicron e que se encontra em declínio, o governo da África do Sul anunciou recentemente que estava a por termo ao recolher obrigatório, depois de aproximadamente dois anos.
Terminar o recolher obrigatório, que partia da meia-noite até 4 horas da manhã, faz parte da mudança de abordagem do governo que visa gerir a pandemia sem prejudicar a economia.
“De acordo com os especialistas, as condições permitem que retiremos o recolher obrigatório,” Ministro na Presidência, Mondli Gungubele, disse durante uma conferência de imprensa. O predecessor de Gungubele, Jackson Mthembu, morreu de COVID-19 em Janeiro de 2021.
A nova abordagem coincidiu com uma queda em 30% no número de novos casos de COVID-19 em finais de Dezembro e baixas taxas de internamentos entre os que estavam infectados.
Para além de terminar o recolher obrigatório nocturno, outras alterações incluem:
- Permitir o número de pessoas em eventos internos para até 1.000 pessoas.
- Permitir o número de pessoas em eventos externos para até 2.000 pessoas.
- Permitir a venda de bebidas alcoólicas depois das 23 horas.
- Continuação da ordem de usar máscaras em locais públicos.
“O risco de aumento no número de infecções ainda é elevado dada a elevada transmissibilidade da variante Ómicron. O governo, por conseguinte, apela a todos os organizadores destes aglomerados para que certifiquem que todos os protocolos de saúde sejam observados em todas as ocasiões e que os participantes sejam encorajados a receberem a vacina,” anunciou Gungubele.
Mesmo numa altura em que a África do Sul relaxa as suas restrições, a maior parte do continente continua a ver as suas infecções relacionadas com a variante Ómicron a aumentar. África do Norte é um foco de contaminações, com o número de casos a subir até 44% em início de Janeiro. Argélia e Tunísia encontram-se entre os oito países que registaram uma quinta vaga de infecções.
Especialistas em matérias de saúde estimam que até cerca de 80% dos sul-africanos estiveram expostos à COVID-19, o que lhes conferiu imunidade natural para a Ómicron e outras variantes.
Por essa razão, o virologista Wolfgang Preiser, da Universidade de Stellenbosch, disse que a experiência da África do Sul não deve ser considerada um modelo para outros países, especialmente aqueles que se encontram no Hemisfério Norte, onde o Inverno está no seu auge.
“É por isso que não se pode dizer, ‘Espero que as coisas corram da mesma forma como decorreram na África do Sul,’” disse Preiser.
O Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que a mudança de táctica da África do Sul não é um sinal de que a pandemia chegou ao fim ou de que a COVID-19 já se tornou endémica. Com a média de taxas de positividade dos casos a girar em torno de 11%, o vírus ainda está claramente na sua fase pandémica, disse.
“Eu não acredito que já tenhamos chegado a um certo nível em que podemos nos adaptar,” disse Nkengasong durante o informe semanal.
Mas, acrescentou, a decisão da África do Sul oferece “uma grande lição de saúde pública.”
Os que apoiam a nova abordagem do governo para a COVID-19 descrevem-na como sendo pragmática.
““Isso reflecte a aceitação de que os governos irão cada vez mais estar a procurar formas para viver com o vírus, estando cientes dos efeitos indirectos prejudiciais que as restrições têm estado a causar sobre a economia, os meios de subsistência e outros aspectos da sociedade,” Shabir Madhi, um membro do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul, escreveu no The Conversation.
Reconhecer essa realidade é particularmente importante na África do Sul, país que experimentou a sua pior contracção económica em aproximadamente três décadas.
A nova abordagem também permite que o governo concentre os seus esforços da pandemia, tendo como alvo os surtos, com enfoque para os confinamentos obrigatórios em caso de surgimento de novas variantes, disse a Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde para África.
“Empresta a si própria uma tomada de decisões mais localizada, descentralizada e informada pelos dados,” disse Moeti. “O facto de ter cessado o estado de emergência, não significa que não podem ser reimpostas restrições a nível local.”