Manutenção da Segurança em Moçambique Será Uma Tarefa Difícil

EQUIPA DA ADF

Entre os vários desafios para expulsar os extremistas islâmicos das florestas densas do nordeste de Moçambique encontra-se um outro problema: como manter os esforços militares conjuntos?

Para além das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), as forças militares da região e do Ruanda foram destacadas em 2021 para a província instável de Cabo Delgado, onde os insurgentes extremistas têm estado a aterrorizar civis por vários anos.

Desde 2017, pelo menos 3.600 pessoas daquela província foram mortas por terroristas e mais de 820.000 fugiram das suas residências.

Houve progresso no terreno contra o Ansar al-Sunna, que é conhecido a nível local por al-Shabaab, apesar de não estar relacionado com o grupo terrorista baseado na Somália, que recebe o mesmo nome.

“Depois de sofrer derrotas em Cabo Delgado no ano passado, o al-Shabaab retirou alguns dos seus combatentes daquela região,” especialista sul-africano em matéria de segurança, Liesl Louw-Vaudran, disse ao jornal The Irish Times. “Eles ressurgiram em — um província que se encontra a oeste de Cabo Delgado, que faz fronteira com o Malawi — onde recentemente têm estado a atacar e pilhar aldeias.”

Membros da Força de Defesa Popular da Tanzânia que servem na SAMIM são vistos na província moçambicana de Cabo Delgado, no dia 24 de Janeiro de 2022. SAMIM

Louw-Vaudran, investigador sénior do Instituto de Estudos de Segurança, alertou que o nível das tropas e o equipamento logístico são menos do que o necessário, havendo também falta de comunicação e colaboração entre as três forças.

No dia 12 de Janeiro, a Comunidade Para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) renovou o mandato da sua Missão de Força de Intervenção em Moçambique (SAMIM) pela segunda vez. O bloco regional orçou 29,5 milhões de dólares para a primeira metade do período de prorrogação de seis meses.

Quando a SAMIM foi destacada, em Julho de 2021, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse que o seu país orçamentou aproximadamente um bilhão de rands (mais de 64 milhões de dólares) para a sua contribuição dos primeiros três meses do destacamento.

As forças da SAMIM são aproximadamente um terço dos 2.916 soldados que a missão originalmente havia solicitado, e existem alegadamente apenas dois helicópteros para o transporte de tropas de e para o local de batalha.

Dos aproximadamente 1.500 homens que havia prometido, a África do Sul destacou apenas 300 tropas das forças especiais.

Embora se espere que tropas de infantaria venham reforçar a SAMIM nos próximos meses, especialistas sul-africanos alertam que tais destacamentos não estão garantidos por causa das dificuldades financeiras e logísticas.

A SAMIM até agora tem sido financiada pelos Estados-membros da SADC, mas alega-se que o bloco regional contactou os órgãos internacionais para solicitar apoio financeiro.

O Ruanda também desempenhou um papel fundamental e solicitou financiamento da União Europeia para apoiar os seus esforços. Relatórios de Cabo Delgado demonstram a existência de 2.000 a 3.000 soldados ruandeses centrados na costa e especificamente garantido a segurança das reservas de gás natural de Moçambique, próximo da cidade de Palma.

“Com os insurgentes neste momento a recusarem-se efectivamente a enfrentar as forças ruandesas ao longo daquele corredor, o conflito está cada vez mais a tornar-se uma luta de três direcções, com os insurgentes de um lado e as forças moçambicanas e as da SAMIM do outro,” de acordo com o relatório de 17 a 23 de Janeiro, do observatório do conflito, Cabo Ligado.

Depois de um ataque descarado e mortal contra a cidade de Palma, Moçambique, no dia 24 de Março de 2021, os militantes islâmicos pousaram para tirar uma fotografia que foi publicada no grupo das redes sociais do Estado Islâmico.

A natureza fragmentada da actual abordagem em Moçambique e uma clara necessidade de financiamento internacional fazem com que os observadores questionem se a SADC é capaz de manter o seu destacamento de tropas a longo prazo.

De acordo com as Nações Unidas, 97 das suas 393 actividades humanitárias no país decorrem em Cabo Delgado. De 1995 a 2015, a ONU fez uma parceria com a União Africana para reduzir a percentagem de moçambicanos que enfrentam insegurança alimentar de 61% para 24%.

Com um histórico de operações conjuntas de manutenção da paz no continente, poderão a ONU e a UA desempenhar um papel na manutenção das operações no norte de Moçambique?

“A Força Africana de Intervenção da UA (ASF) é coordenada a partir de Adis Abeba, [Etiópia], e logicamente que as forças regionais de intervenção deviam depender do apoio de poder de convocação da Comissão da UA,” Louw-Vaudran escreveu no site da sua organização. “Contudo, foram levantados questionamentos por algum tempo sobre o papel da ASF em lidar com situações que se alteram rapidamente e complexas.

“Cada vez mais, os oficiais da UA solicitam ajuda ad hoc de países africanos para resolver crises no continente, especialmente de extremismo violento, conforme se vê em Moçambique.”

Embora o seu futuro formato seja obscuro, a vontade política para a missão regional continua em vigor, conforme evidenciado pelos pronunciamentos do Presidente da SADC e Presidente do Malawi, Lazarus Chakwera.

“O que nos resta agora é permanecermos firmes e juntos,” disse na abertura da cimeira da SADC, no dia 12 de Janeiro. “Não podemos ceder. Não podemos recuar. Não podemos retroceder.

“A nossa abordagem para esta missão deve continuar a ser multidimensional e abrangente. Não deve apenas centrar-se em neutralizar a ameaça, mas também ter planos pós-conflito para reconstruir.”

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