EQUIPA DA ADF
Uma tecnologia relativamente nova promete ser um grande passo em frente na luta contra a COVID-19 na África rural.
É denominada refrigeração de accionamento solar directo (SDD, na sigla inglesa) e tem o poder de manter frias as vacinas que salvam vidas, nos ambientes mais exigentes.
A energia solar já provou ser um factor decisivo de mudança em partes de África onde a electricidade não é fiável ou é inexistente. Agora, está a ser implantada uma nova geração de geleiras e congeladores movidos a energia solar para ampliar o armazenamento em cadeia de frio para zonas rurais e remotas.
“A necessidade de vacinar uma grande percentagem da população africana de mais de 1,3 bilhões de pessoas contra a COVID-19 agrava todos os desafios logísticos,” disse Pat Lennon, especialista em cadeia de frio na organização sem fins lucrativos para a saúde global, PATH.
“As geleiras exigem muita energia, e os congeladores ainda mais,” disse Lennon na página da internet da sua organização. “Os congeladores de frio extremo em locais quentes exigem muito mais energia. Acrescente-se a tudo isso uma rede eléctrica pouco fiável, e devem ser trazidos geradores, e os problemas continuam a agravar-se.”
Na África Subsaariana, estima-se que apenas 28% das instalações de saúde possuem electricidade fiável. Apenas 43% da população tem algum tipo de electricidade.
“Tal como a electricidade, a capacidade de armazenamento é um desafio para todas as vacinas da cadeia de frio, mas é dificultada por fórmulas em temperaturas extremamente baixas — e tornado completamente sem precedentes pelas exigências da COVID-19”, disse Lennon.
Versões mais antigas de geleiras alimentadas por energia solar usam sistemas de baterias industriais para armazenar energia de noite e em dias nublados. Para além de serem dispendiosas e pesadas, as baterias de chumbo-ácido deterioraram-se em climas quentes.
As geleiras SDD resolvem o problema das baterias, eliminando-as.
Em 2010, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou a primeira geleira de vacinas de accionamento solar directo para manter as temperaturas das vacinas no intervalo exigido de 2 a 8 graus Celsius.
Mais recentemente, a OMS, o UNICEF e a GAVI, a aliança da vacina, financiaram e implementaram geleiras SDD para reforçar os programas de imunização para crianças.
Desde 2017, a Gavi tem vindo a liderar uma iniciativa no valor de 250 milhões de dólares para fornecer mais de 15.300 geleiras SDD a 36 países africanos, incluindo 5.400 geleiras para a Nigéria e aproximadamente 3.400 para a República Democrática do Congo (RDC).
O Dr. Karan Sagar, que lidera os sistemas de saúde e a equipa de reforço de imunizações da Gavi, disse que o equipamento fora da rede foi responsável por um aumento de 25% nas taxas de vacinação de crianças em África, ao longo da passada década.
“Esta é uma prova da capacidade das cadeias de fornecimento em alcançar até as comunidades mais remotas do mundo,” disse à Reuters.
Mesmo assim, o armazenamento em temperaturas extremamente baixas e o âmbito de uma vacinação global contra a COVID-19 motivam os tremendos desafios actuais.
“Poucas economias africanas têm qualquer capacidade de armazenamento em temperaturas extremamente baixas,” explicou Sagar.
A RDC e o Ruanda têm-na. Estes países adquiriram armazenamento em temperaturas extremamente baixas para a nova vacina contra o Ébola, o que ajudou a acabar com os surtos no Verão de 2020.
Congeladores cheios de blocos de gelo de álcool sintético mantêm as vacinas a temperaturas de menos 60 a menos 80 graus Celsius, durante um máximo de 6,5 dias. Mas o número de doses foi uma fracção do necessário para deter a COVID-19.
A vacina contra o Ébola foi “usada com sucesso em vários países africanos,” disse Lennon. “Mas há uma diferença quase inimaginável entre a escala desses surtos e os da COVID-19.”