EQUIPA DA ADF
A altamente contagiosa variante Delta da COVID-19 está a assolar a África, causando uma vaga sem precedentes de infecções, hospitalizações e mortes.
“A velocidade e a escala da terceira vaga são diferentes de tudo o que já vimos,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, disse recentemente durante uma conferência de imprensa virtual, em finais de Junho.
Os casos estão a duplicar a cada três semanas, em comparação com a cada quatro semanas, no início da segunda vaga, disse Moeti.
“África ainda pode conter o impacto destas infecções que aumentam de forma rápida, mas a janela de oportunidade está a fechar-se,” acrescentou. “Todos, em todos os lugares, podem fazer a sua parte tomando precauções para prevenir a transmissão.”
A variante Delta é cerca de 75% mais contagiosa do que o vírus original da COVID-19. Ela atingiu África numa altura em que o continente está a debater-se com dificuldades para ter acesso às vacinas e para administrar as doses existentes.
O Instituto Serum da Índia, que tinha providenciado vacinas para África através da facilidade internacional COVAX, parou de enviar doses repentinamente, no início deste ano, quando a variante Delta assolou aquele país.
“Isso criou uma enorme crise,” disse Strive Masiyiwa, o empresário zimbabweano que trabalha como enviado especial da União Africana em matérias de COVID-19 e coordenador da AVATT, a Equipe de Tarefa de Aquisição de Vacinas da África.
De acordo com os seus planos originais, os líderes africanos esperavam ter recebido mais de 700 milhões de doses de vacinas até a esta altura. A proibição de exportação da Índia reduziu significativamente a velocidade das coisas.
No início do mês de Julho, o número de casos de COVID-19, em África, esteve em 5,6 milhões com mais de 145.800 mortes, comunicou o Africa CDC. Estudos sobre as mortes em excesso durante a pandemia sugerem que a contagem global das mortes seja maior.
Novas infecções pela COVID-19 aumentaram em 209.000 dentro da semana que findou a 1 de Julho, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC). Metade destes casos ocorreram na África do Sul, onde a variante Delta está rapidamente a ganhar terreno. Em termos gerais, as infecções registaram um aumento em 29%, em Junho, de acordo com o Africa CDC.
A variante Delta está presente em 21 países africanos, e 10 estão a experimentar aumentos significativos. Os sistemas de saúde estão a enfrentar dificuldades em fazer o acompanhamento. Na África do Sul, o presidente Cyril Ramaphosa disse que a rede de prestação de cuidados de saúde está sob pressão.
As mortes também estão a registar um aumento. Na República Democrática do Congo, que tem estado a ser lento a vacinar a sua população, a taxa de mortalidade mais do que duplicou em Junho.
“A variante Delta é perigosa e está a continuar a evoluir e a apresentar mutações, o que exige uma avaliação constante e ajuste cuidadoso da resposta de saúde pública,” Director-General da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse durante um recente evento dirigido aos jornalistas.
O Africa CDC começou a enviar equipas de resposta rápida para países que estão a experimentar um aumento exponencial, para ajudá-los a achatar a curva de infecções, de acordo com o director do Africa CDC, Dr. John Nkengasong.
As equipas foram enviadas para Namíbia, Seicheles e Zâmbia. Nkengasong partilhou um vídeo no Twitter, mostrando equipas do Africa CDC a chegarem à capital zambiana, Lusaka, com grandes quantidades de equipamentos de protecção e outros materiais.
Até agora, pouco mais de 1% dos 1,2 bilhões de habitantes do continente foram totalmente vacinados contra a COVID-19. Ao mesmo tempo, a tão famosa fadiga da pandemia, fez com que muitos abandonassem as precauções, como o uso da máscara e o distanciamento social.
“A boa notícia é que alguns países estão a fazer um progresso” muito bom em termos de vacinações, disse Nkengasong.
O Marrocos vacinou 24% da sua população e utilizou todas as suas doses. A Nigéria utilizou 90% das suas vacinas. A África do Sul utilizou 50% das suas vacinas, de acordo com Nkengasong.
Entretanto, a empresa sul-africana Aspen Pharmaceutical espera começar a disponibilizar, em Agosto, cerca de 400 milhões de doses da vacina de dose única da Johnson & Johnson, produzidas localmente. As vacinas da J&J demonstraram ser eficazes na protecção contra a variante Delta.
Masiyiwa afirmou que os desenvolvimentos na Aspen Pharmaceutical e as notícias sobre planos para fabricar vacinas no Senegal e em outros pontos são promissores, embora tenham vindo muito tarde para impedir a crescente vaga da variante Delta.
“Há progresso,” disse Masiyiwa. “Mas temos uma situação extraordinária com a terceira vaga.”