EQUIPA DA ADF
Enquanto as vacinas da COVID-19 começam a ser implementadas no mundo, os países africanos estão a unir-se numa abordagem de duas vertentes para assegurar que não sejam deixados para trás.
Juntamente com outros 150 países, os países africanos aderiram à COVAX, um consórcio que visa fornecer bilhões de doses da vacina aos países de médio e baixo rendimento. A COVAX é liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a Coligação para as Inovações de Preparação para a Epidemia e a Gavi, a Aliança da Vacina.
“Nos termos deste esquema, mesmo os países pobres devem ter vacinas suficientes para proteger os funcionários do sector de saúde e 20% da sua população mais vulnerável,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), escreveu recentemente na revista Nature.
Estas doses iniciais irão para os funcionários do sector de saúde e para pessoas em alto risco de morte por COVID-19, incluindo idosos e aqueles que tenham problemas de saúde, como diabetes. O escritório regional da OMS para África informou que as vacinações podem iniciar em Março. Mas Nkengasong acredita que iniciarão mais tarde.
Para além da COVAX, os países africanos criaram os seus próprios meios a nível do continente para adquirir vacinas em massa. A Equipa Africana da Tarefa de Aquisição da Vacina (AVATT) é liderada pelo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que também preside a União Africana. A AVATT pretende negociar directamente com os fabricantes da vacina e angariar os fundos necessários para adquirir doses para o continente.
A África do Sul pagou 22 milhões de dólares para garantir que haja vacinas suficientes através da COVAX para cobrir 10% da sua população. Num discurso proferido em finais de Dezembro, Ramaphosa disse que o país está a negociar os seus acordos em separado para a aquisição da vacina, para além de fazer parte da COVAX e da AVATT.
O África CDC estima que custará 12 bilhões de dólares para adquirir doses suficientes para vacinar 60% dos 1,3 bilhões de residentes do continente — o ponto em que a população alcança a imunidade comunitária e bloqueia a propagação incontrolada do vírus da COVID-19.
O Banco Africano de Exportações e Importações comprometeu-se em alocar 5 bilhões de dólares aos seus membros. A União Africana está a trabalhar com o Banco Mundial e com outros doadores no sentido de angariar os fundos remanescentes.
Mesmo com a COVAX e a AVATT a operarem, é provável que se chegue até meados de 2021 sem que a África tenha visto a sua primeira vacinação. Existem vários motivos para tal:
- Os países produtores das vacinas já possuem encomendas internas dos seus primeiros lotes das vacinas provenientes da sua linha de produção.
- Enquanto a COVAX trabalha no sentido de assegurar que haja doses da vacina, os países-membro estão individualmente a negociar em separado com a COVAX sobre quando e como eles irão receber os seus lotes da vacina.
- As instalações de armazenamento em temperaturas extremamente baixas, necessárias para as vacinas da Pfizer e da Moderna, constituem desafios logísticos para muitos países africanos sem condições para o efeito.
Todas estas condições fazem com que as autoridades sanitárias dos países africanos procurem, antecipadamente, por alternativas que melhor se adequam aos seus orçamentos e à sua capacidade técnica.
“Essa realidade está sujeita a negociações com os fabricantes para o fornecimento, e também a nossa avaliação das vacinas em si, tendo em conta vários aspectos — a eficiência, a segurança e a sustentabilidade para o país,” Professor Barru Schoub, presidente da Comissão Consultiva Ministerial da África do Sul para a COVID-19, disse à emissora eNCA.
A COVAX está a trabalhar em acordos com vários produtores da vacina para atingir a meta de 2 bilhões de doses. Até agora a lista inclui: Oxford/AstraZeneca (170 milhões de doses), Johnson & Johnson (500 milhões), Serum Institute da Índia (200 milhões) e Sanofi/GSK (200 milhões). Para além destas, a COVAX tem opções para até outras 900 milhões de doses de vacinas da Oxford/AstraZeneca ou da Novavax. Entretanto, nenhuma foi aprovada para uso até então.
“Teremos de passar o primeiro trimestre [de 2021] para garantir que tenhamos o que precisamos pronto para a distribuição,” Dr. Nicaise Ndembi, conselheiro sénior de ciências na área de vacinas do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse à ADF.
Entretanto, países como Angola, Gana, Marrocos, Nigéria e África do Sul estão a trabalhar para melhorar a sua capacidade de fabricar a vacina da COVID-19 a fim de satisfazer as necessidades futuras, reduzir os custos de importação e criar a confiança na mesma.
Ndembi acrescentou que o atraso na implementação da vacina da COVID-19 assemelha-se ao que aconteceu com os tratamentos médicos, como o do HIV ou da pólio, que vieram para os países africanos muito depois de outros países e, por vezes, demonstraram estar abaixo do padrão.
Qualquer vacina aceite para África terá de ser vetada pela OMS, disse.
“Não aceitamos vacinas que estejam abaixo do padrão.”