Frota de Pesca da China Devora Recursos numa Escala Global

EQUIPA DA ADF

Especialistas consideram a enorme frota de pesca da China como sendo uma das causas do prejuízo económico e ambiental que ocorre no mundo.

Desde que a China começou a construir a sua frota de pesca em águas longínquas, em meados da década de 90, ela tornou-se no pior infractor das normas da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) do mundo, de acordo com a Iniciativa Global Contra o Crime Transnacional.

A pesca INN é particularmente prejudicial na África Ocidental onde já causou pobreza e desemprego. De acordo com a Greenpeace, Guiné, Guiné-Bissau, Mauritânia, Senegal, Serra Leoa e Gâmbia perderam cerca de 2,3 bilhões de dólares por ano, de 2010 a 2016, por causa da pesca INN.

No Gana, a pesca ilícita ameaça destruir as unidades populacionais de peixe pelágico pequeno como a sardinha, que reduziu em 80% nas passadas duas décadas, informou a Fundação para a Justiça Ambiental.

Mais de 100.000 pescadores e 11.000 canoas operam no Gana, e o seu sector de pescas garante o sustento de mais de 2,7 milhões de pessoas, Steve Trent, director-executivo da fundação, disse à ADF num e-mail.

“As unidades populacionais de peixe [no Gana] encontram-se num declínio acentuado, motivado, em grande parte, pela pesca ilegal generalizada dos arrastões industriais de propriedade chinesa,” disse Trent.

A pesca INN ajuda a financiar três fábricas chinesas de produção de farinha de peixe, na Gâmbia. Os residentes da cidade costeira de Gunjur dizem que baleias, tartarugas, golfinhos, enguias e raias mortas têm aparecido na costa desde que a fábrica de produção de farinha de peixe, Golden Lead, foi aberta em 2016. Um ano depois de a fábrica ter sido aberta, uma lagoa próxima mudou de cor, e os pássaros e os peixes que lá existiam começaram a morrer, de acordo com a Quartz África.

A Agência Nacional do Meio Ambiente da Gâmbia ordenou que o tubo de esgotos da fábrica fosse retirado, depois de os residentes locais terem reclamado que este despejava águas residuais no oceano. Alguns meses depois, a fábrica instalou um novo tubo no centro da Praia de Gunjur, hasteando uma bandeira chinesa durante o processo.

“Quando hastearam uma bandeira na nossa praia, daquela forma, vimos realmente que isto é um insulto,” disse um residente à Quartz África. “Apesar de não estarmos contra os investimentos nesta região, pedimos que estas coisas sejam feitas de forma responsável e que não causem prejuízos para o nosso povo ou para o meio ambiente.”

Na água, os arrastões chineses ganharam uma reputação agressiva.

Três Pescadores da Mauritânia foram mortos nas águas do Atlântico, ao largo da costa de Nouadhibou, quando o seu barco foi atingido e afundado por um enorme arrastão chinês em Setembro. No mesmo mês, bateram e atearam fogo no capitão de um barco de pesca senegalês quando o mesmo entrou a bordo de um arrastão chinês para confrontar a tripulação por causa das suas manobras perigosas.

“Antes de eu terminar de falar, uma chuva de golpes caiu sobre mim,” disse o capitão num comunicado da seneweb.com. “Depois aspergiram gasolina em mim e queimaram-me.”

A China diz que a sua frota de pesca em águas longínquas possui 2.600 barcos, mas estudos como o que feito pelo Instituto de Desenvolvimento Internacional afirma que o número é muito próximo de 17.000.

A frota da China não está apenas interessada em peixe.

O país procura fortalecer a sua influência nos oceanos mundiais, através das Forças Armadas Populares da Milícia Marítima, que é activada em caso de necessidade para garantir a segurança de locais marítimos estratégicos, com maior frequência na Malásia, nas Filipinas, Taiwan e Vietname.

Nos passados cinco anos, a China reforçou a milícia, contratando tripulações mais experientes e que auferem melhores pagamentos, para trabalharem nas embarcações, que são equipadas com canhões de água montados em mastros, para aspergir água contra navios rivais, e cascos de aço reforçado para fazer colisões, de acordo com maritime-executive.com.

Uma ramificação do Exército de Libertação Popular, a milícia marítima tipicamente faz a entrega de suprimentos aos postos avançados chineses e espia e comunica as actividades de países rivais em territórios disputados, mas destaca-se por tentar intimidar as outras embarcações, de acordo com um relatório da página foreignpolicy.com.

A enorme frota da China é, em termos gerais, financiada pelos subsídios do governo. Nenhum outro país gasta mais em subsídios com o sector das pescas do que a China, que pagou 7,2 bilhões — cerca de 21% do total global — em 2018.

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