EQUIPA DA ADF
Num vídeo recentemente divulgado, um membro das Forças Armadas do Sudão (SAF) mostra um caixote vazio que outrora continha projécteis de morteiro termobárico de 120 mm. Ele assinala a origem das munições, carimbadas com um endereço no topo: Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos, Comando Logístico Conjunto, Abu Dhabi.
Numa altura em que a devastadora guerra civil se arrasta, as autoridades sudanesas continuam a culpar os EAU pelo que dizem ser um apoio clandestino fundamental às Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares.
As SAF estão a partilhar as suas provas: uma variedade de sistemas de armas dos EAU, munições, veículos e outros materiais de apoio às RSF. A importação de armas para a região do Darfur Ocidental, no Sudão, constituiria uma violação do embargo de armas imposto pelas Nações Unidas.
Cameron Hudson, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que os esforços de guerra das RSF dependem dos fornecimentos dos EAU.
“Se os EAU suspendessem todo o apoio às RSF e dissessem aos seus parceiros na região para não apoiarem as RSF, penso que esta guerra poderia terminar muito em breve, muito francamente,” disse à Voz da América numa reportagem de 11 de Outubro de 2024.
De acordo com vários relatórios, as SAF receberam drones militares do Irão, embora o governo sudanês o tenha negado. Os EAU continuam a negar todas as alegações de que estão a abastecer as RSF.
“Os EAU não estão a fornecer qualquer apoio ou suprimentos às Forças de Apoio Rápido ou a qualquer das partes em conflito no Sudão,” o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse à VOA.
Mais de um ano e meio após o início do conflito, a maior crise de deslocações do mundo viu cerca de um quinto da população — 11 milhões de sudaneses — ser forçado a fugir das suas casas, enquanto 25 milhões precisam de assistência humanitária devido à fome que se aproxima, de acordo com a ONU.
O apoio militar estrangeiro a ambos os lados está a prolongar os combates e a aumentar a possibilidade de a guerra transpor as fronteiras do Sudão e desestabilizar o Corno de África.
Numa carta de 11 de Outubro de 2024 dirigida ao Conselho de Segurança da ONU, o Sudão apresentou o que alegou serem novas provas do apoio militar, logístico e financeiro dos EAU às RSF.
A carta incluía imagens de caixas de munições de artilharia pesada capturadas, com os EAU listado como destinatário, e de camiões com matrículas do Dubai que, segundo as SAF, foram utilizados para transportar armas e munições. As SAF afirmaram também que tinham recentemente capturado às RSF medicamentos e material médico fabricados pelos Emirados.
“Estes objectos apreendidos estão na posse das Forças Armadas do Sudão e podem ser examinados por peritos da ONU,” dizia a carta, segundo o jornal Sudan Tribune.
A carta acusava também os EAU de recrutarem mercenários de vários países para combaterem ao lado das RSF, enquanto o Ministério da Informação do Sudão afirmava, num comunicado de 14 de Outubro de 2024, que os EAU tinham facilitado “a transferência de combatentes feridos das RSF para receberem tratamento no Hospital Sheikh Zayed” em Abu Dhabi.
Zachary Fillingham, editor-chefe do Geopolitical Monitor, um site de informações internacionais, disse que o apoio dos EAU às RSF reflecte o seu interesse no resultado da guerra civil do Sudão.
“Abu Dhabi está a escolher um lado na esperança de proteger estes interesses, que incluem a segurança das cadeias de abastecimento alimentar, as exportações de ouro e outros minérios e o desenvolvimento de um novo porto ao longo da costa sudanesa do Mar Vermelho,” escreveu num relatório de situação de 4 de Outubro de 2024.
Hudson afirmou que as ambições dos EAU resultam da sua rivalidade com a vizinha Arábia Saudita, no Golfo Pérsico, visto que ambos os países acreditam que a sua segurança nacional vai para além das suas fronteiras físicas.
“Os EAU têm esta concorrência com os sauditas no Corno de África há muitos anos,” disse. “Parece estar a duplicar o seu investimento, não apenas no Sudão, mas no Chade e na Etiópia, no Quénia, por isso, penso que os EAU querem ser a grande potência no Corno de África.”