Relatórios Descrevem Recrutamento Forçado de Jovens na Etiópia
EQUIPA DA ADF
Tedla Hirigo, de 17 anos, trabalhava como vendedor ambulante na cidade de Adama, na região de Oromia, na Etiópia, no dia 11 de Novembro, quando a polícia o deteve.
“Quando visitei a esquadra à noite, os agentes disseram-me que ele seria enviado para um campo de treino militar, a menos que eu pagasse 30.000 birr pela sua libertação,” a mãe de Tedla disse ao jornal etíope, The Addis Standard. Ela disse que Tedla era a principal fonte de rendimento da sua família. “Foi criado sem pai e não temos meios financeiros para pagar uma quantia tão elevada.”
Várias fontes referem que o governo federal está a recrutar pessoas à força para reforçar as suas forças militares no âmbito do conflito cada vez mais intenso na região de Amhara.
“Os jovens estão a ser reunidos e enviados para campos militares em muitos locais de Adis Abeba,” informou a Meseret Media no dia 28 de Outubro. “As nossas fontes disseram-nos que depois de levarem estas crianças que fazem trabalhos pesados para a esquadra da polícia, mantêm-nas na prisão durante algum tempo e depois levam-nas para o campo militar.”
Outra fonte disse ao The Addis Standard, sob condição de anonimato, que as autoridades da cidade de Fital e das aldeias circunvizinhas anunciaram um esforço para que os jovens se alistem voluntariamente para receberem formação militar. O residente disse que ninguém se ofereceu e “as forças do governo, em colaboração com os administradores locais, começaram a reunir as pessoas.”
O The Standard relatou histórias semelhantes na cidade de Sheger, que rodeia a capital federal, e da detenção de mais de 20 oromianos que foram ameaçados com o recrutamento militar na esquadra de polícia do distrito de Setema, na zona ocidental de Jimma, várias centenas de quilómetros a sudoeste de Adis Abeba.
Numa declaração de 15 de Novembro, o governo regional de Oromia refutou as alegações de que as forças de segurança estariam a raptar pessoas para obterem um resgate, descrevendo-as como “propaganda infundada” e “difamação.”
O conflito na região de Amhara registou uma escalada significativa desde que a Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF) lançou uma ofensiva a que chamou “operação final” contra uma milícia de Amhara conhecida como Fano. Segundo consta, foram destacados mais 40.000 soldados.
Os apelos à paz “caíram em saco roto,” disse o porta-voz da ENDF, Coronel Getnet Adane, no dia 1 de Outubro, segundo a Voz da América.
“A única linguagem que eles entendem é a força,” disse. “De agora em diante, falaremos com eles nessa língua. Para que a paz prevaleça, é necessário enfrentá-los com a força. Têm de ser visados, atingidos.”
Membros das forças de segurança da Etiópia têm estado implicados em casos de rapto e extorsão, de acordo com um relatório de finais de Setembro da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, nomeada pelo Estado.
“Está a ser feito em plena luz do dia, sobretudo na cidade de Sheger,” disse uma fonte do governo de Oromia ao Meseret Media.
No mesmo dia em que a ENDF anunciou a sua ofensiva militar, o grupo de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional acusou o exército de fazer “detenções arbitrárias em massa” na região de Amhara.
Tigere Chagutah, director regional da organização para a África Oriental e Austral, alegou que centenas de pessoas, incluindo membros da comunidade académica, foram detidas nas principais cidades da região de Amhara desde 28 de Setembro.
“A campanha em curso do exército e da polícia etíope de detenções arbitrárias em massa na região de Amhara é mais uma prova do total desrespeito do governo pelo Estado de direito,” afirmou num comunicado.
“Testemunhas oculares afirmaram que as autoridades chegaram com uma ‘lista’ e não obtiveram mandados de captura e de busca antes de deterem centenas de civis em toda a região. Em grande parte, os detidos não foram levados a tribunal no prazo de 48 horas, tal como exigido pelas leis nacionais e pela Constituição do país.”
A Amnistia Internacional instou as autoridades etíopes a pôr termo à utilização de prisões e detenções arbitrárias como instrumentos de repressão.
“Acabem imediatamente com estas detenções arbitrárias, apresentem queixa contra os detidos por crimes internacionalmente reconhecidos e sigam o devido processo, ou libertem-nos sem mais demoras,” afirmou o grupo.