EQUIPA DA ADF
O Presidente da Somália, Hassan Sheik Mohamud, tem estado tão concentrado na sua divergência com a Etiópia sobre o acordo portuário com a Somalilândia que poderá estar a deixar uma abertura para o al-Shabaab, segundo
Selam Tadesse Demissie, investigador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS).
Em Janeiro, a Etiópia aceitou reconhecer a independência da Somalilândia em troca da utilização do porto de Berbera, no Golfo de Áden.
“É como se fosse Natal para o al-Shabaab,” Demissie disse à PassBlue, uma organização noticiosa independente que cobre as Nações Unidas. “No momento em que se abranda a luta contra o al-Shabaab, ele remobiliza-se, faz tudo o que pode para voltar mais forte. E é exactamente aí que estamos agora.”
A disputa entre a Somália e a Etiópia coincide com a retirada das tropas da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), que passará para uma nova missão, a Missão de Apoio e Estabilização da União Africana na Somália (AUSSOM), em 2025.
Prevê-se que a AUSSOM transfira gradualmente as responsabilidades de segurança para as forças de segurança somalis e retire o seu pessoal até ao final de 2028.
No entanto, os acontecimentos recentes vêm sublinhar os receios dos analistas que duvidam que as forças de segurança da Somália consigam conter o al-Shabaab depois de as forças internacionais partirem. O grupo terrorista afiliado à al-Qaeda ainda controla vastas áreas do centro e do sul da Somália.
Em Novembro, um ataque do al-Shabaab em Halane Base Camp, em Mogadíscio, matou dois soldados da ATMIS e feriu outros dois.
“Este atentado hediondo não nos dissuadirá, a nós e às forças de segurança somalis, de prosseguir uma paz duradoura na Somália,” o director da ATMIS, Mohamed El-Amine Souef, disse num comunicado publicado na plataforma social X. “Reafirmamos o nosso compromisso inabalável de combater o terrorismo e construir uma Somália pacífica e próspera.”
No mês anterior, um bombista suicida matou pelo menos sete pessoas e feriu outras seis ao detonar um colete carregado de explosivos em frente a um restaurante lotado em Mogadíscio. Entre os mortos encontrava-se o humorista somali, Sugal Abdulle, e um agente da polícia responsável pela segurança do hospital especializado, Yardim Eli, de construção turca, de acordo com a Voz da América (VOA).
Nenhum grupo reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas a polícia local disse que parece ter sido obra do al-Shabaab.
“O bombista suicida fez-se explodir no meio de civis e membros da polícia, que se encontravam debaixo de árvores em frente ao restaurante,” a testemunha Osman Nur Aden disse à VOA.
Um novo pacto de defesa assinado pelo Egipto e pela Somália ameaça ampliar ainda mais a disputa de Mogadíscio com a Etiópia, escreveu recentemente Corrado Čok, membro visitante do Conselho Europeu de Relações Externas. O Egipto enviou dois carregamentos de armas para a Somália, alarmando a Etiópia.
A rivalidade do Egipto com a Etiópia tem origem na Grande Barragem do Renascimento Etíope, uma barragem no Rio Nilo que ameaça a segurança hídrica do Egipto. O pacto com o Egipto também pode colocar o governo da Somália contra os seus Estados, aumentando o vazio de segurança que o al-Shabaab poderia explorar, segundo Čok.
A Somália também não quer a Etiópia envolvida na AUSSOM, embora Adis Abeba seja o principal contribuinte de tropas da ATMIS. A Somália quer que as tropas egípcias substituam as tropas etíopes.
“Se a próxima missão da UA não se concretizar, o vazio de segurança resultante poderá criar as condições para que o al-Shabaab conquiste áreas-chave do país e desestabilize toda a região,” escreveu Čok.
Surgiram também divisões entre o governo federal e os governos estaduais da Somália, visto que os altos funcionários dos Estados de Jubaland e do Sudoeste se opuseram ao apelo do governo federal para que as tropas etíopes se retirassem, porque isso deixaria partes dos seus Estados desprotegidas.
“Estas fricções intra-somalianas podem ser o golpe final para o processo de construção do Estado no país, fragmentando ainda mais a acção política e militar, que o al-Shabaab está pronto a explorar,” escreveu Čok. “O risco de isto acontecer pode aumentar se, uma vez posicionadas, as tropas etíopes ou egípcias apoiarem clãs somalis opostos.”
ADF is a professional military magazine published quarterly by U.S. Africa Command to provide an international forum for African security professionals. ADF covers topics such as counter terrorism strategies, security and defense operations, transnational crime, and all other issues affecting peace, stability, and good governance on the African continent.