À medida que a Índia estreita laços com África, a Marinha Indiana desempenha um papel significativo no estabelecimento de parcerias de segurança marítima. Ela trabalha no combate à pirataria somali, bem como à pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, ao tráfico de drogas e outros crimes marítimos na região do Oceano Índico ocidental, incluindo o Golfo de Áden, o Canal de Moçambique e o Mar Vermelho.
Como parte da sua política “Segurança e Crescimento para Todos na Região” (SAGAR, na sigla inglesa), a Índia forma pessoal marítimo e militar africano em institutos indianos e melhora a partilha de informações para desenvolver a conscientização do domínio marítimo através de centros regionais de fusão de informações e centros de coordenação marítima. Estes esforços, entre outros, “demonstram o compromisso da Índia em servir como provedor de segurança no Oceano Índico e parceiro preferencial dos países africanos que procuram salvaguardar os seus interesses marítimos,” o analista Aritra Banerjee escreveu na Eurasia Review.
No ano passado, a Marinha Indiana resgatou o navio comercial MV Ruen, com bandeira maltesa, cerca de três meses após ter sido sequestrado por piratas somalis, que foram posteriormente detidos e levados para a Índia para serem julgados.
Em Madagáscar e nas ilhas Agaléga, ao largo das Maurícias, a Índia desenvolveu estações de escuta que monitorizam e interceptam comunicações de rádio, enquanto outra está proposta na Ilha da Assunção, ao largo das Seychelles, de acordo com Abhishek Mishra, do Instituto Manohar Parrikar para Estudos e Análises de Defesa, em Nova Deli.
Em 2023, a Índia construiu uma grande pista de aterragem e um cais na ilha maior do norte de Agaléga. A pista de aterragem é operada por oficiais e guardas da Marinha Indiana e pode receber aeronaves de vigilância e guerra anti-submarina Boeing P-8I das Forças Armadas Indianas. As instalações de Agaléga também permitem patrulhas marítimas sobre o Canal de Moçambique, e o seu ponto de parada permitirá à Marinha Indiana observar as rotas marítimas ao redor da África Austral.
“Esta base em Agaléga consolidará a presença da Índia no sudoeste do Oceano Índico e facilitará as suas aspirações de projecção de poder nesta região,” Samuel Bashfield, investigador do Colégio de Segurança Nacional da Universidade Nacional Australiana, escreveu para o Instituto Lowy.
A Índia também faz levantamentos hidrográficos para países africanos e desenvolve a rede de vigilância por radar costeiro nas Maurícias e nas Seychelles.
“A Índia reconhece as diferentes prioridades dos países africanos e ajusta as suas próprias formas de cooperação em matéria de segurança marítima, a fim de responder eficazmente aos desafios emergentes,” Mishra escreveu para o Centro de Segurança Marítima Internacional.
Em Abril, a Índia e 10 países africanos concluíram um exercício naval inédito no Oceano Índico, conhecido como Envolvimento Marítimo Fundamental África-Índia, ou Aikeyme. O exercício foi realizado em Dar es Salaam, co-organizado pela Marinha Indiana e pela Força de Defesa Popular da Tanzânia. Comores, Djibouti, Eritreia, Quénia, Madagáscar, Maurícias, Moçambique, Seychelles e África do Sul também participaram no exercício, que incluiu fases portuárias e marítimas.
No mês seguinte, a Marinha Indiana concluiu uma missão inaugural de um mês da iniciativa Indian Ocean Ship SAGAR na região sudoeste do Oceano Índico. A tripulação de 44 membros a bordo do navio Sunayna da Marinha Indiana incluía pessoal das Comores, Quénia, Madagáscar, Maldivas, Maurícias, Moçambique, Seicheles e Tanzânia, que tripularam o navio em conjunto com a tripulação da Marinha Indiana.
A Índia e a África do Sul concordaram em Setembro de 2024 com uma cooperação naval adicional que inclui o resgate submarino. Os dois países assinaram um acordo segundo o qual a Marinha Indiana enviará um dos seus dois veículos de resgate de imersão profunda em situações de crise.
O interesse de Nova Deli em reforçar a segurança marítima nas águas continentais estende-se ao Golfo da Guiné, epicentro mundial da pesca ilegal, onde também prosperam a pirataria e outros crimes. Em Novembro de 2024, a Índia e a Nigéria prometeram aumentar a colaboração no combate ao terrorismo, na partilha de informações e na segurança marítima. O objectivo é ajudar os dois países a enfrentar as ameaças crescentes no Oceano Índico e no Golfo da Guiné.
Conforme Mishra observou, a Índia também treina com Moçambique e a Tanzânia, no âmbito do Exercício Marítimo Trilateral Índia-Moçambique-Tanzânia, bem como no Exercício Marítimo Índia-Brasil-África do Sul. Os países africanos também participam regularmente nos exercícios MILAN do Simpósio Naval do Oceano Índico.
Além disso, nove países africanos — Comores, Quénia, Madagáscar, Maurícias, Moçambique, Seychelles, Somália, África do Sul e Tanzânia — são membros da Associação da Orla do Oceano Índico (IORA), que promove a integração regional e a cooperação económica entre os países ribeirinhos do Oceano Índico.
“Isso é importante, pois a IORA oferece outra plataforma vital para destacar as ambições e os desafios de desenvolvimento da África,” escreveu Mishra. “Com a Índia prestes a assumir a presidência da IORA em Novembro de 2025, há agora outra oportunidade para a Índia e os países africanos trabalharem em estreita colaboração em questões marítimas.”