Piratas armados em dois pequenos barcos atacaram um cargueiro de bandeira liberiana, o Basilisk, quando este navegava a cerca de 380 milhas náuticas a leste da Somália, no dia 23 de Maio.Os piratas fugiram quando o navio de guerra espanhol Canarias reagiu. Os membros da tripulação do Canarias trataram o capitão do Basilisk, que foi atingido no braço, de acordo com a Ambrey, uma empresa de gestão de riscos marítimos. O Canarias está ligado à Operação Atalanta, da Força Naval da União Europeia na Somália (EUNAVFOR).
Menos de duas semanas antes, piratas somalis, munidos de espingardas do tipo Kalashnikov e granadas propulsoras de foguetes, atacaram o petroleiro Chrystal Arctic, com pavilhão das Ilhas Marshall, no Golfo de Áden. Seguiu-se um tiroteio e os piratas fugiram num pequeno navio.
Uma fragata italiana, o Federico Martinego, também afecta à Operação Atalanta, capturou os seis piratas horas mais tarde, de acordo com a EUNAVFOR, que comunicou a presença de dois ou mais grupos de piratas ao largo da costa da Somália.
De acordo com o Gabinete Marítimo Internacional (IMB) da Câmara de Comércio Internacional (CCI), foram registados 33 incidentes de pirataria e assalto à mão armada contra navios em todo o mundo nos primeiros três meses de 2024, contra 27 incidentes no mesmo período de 2023. Durante esse período, 35 membros da tripulação foram mantidos reféns, nove foram raptados e outros ameaçados.
Os incidentes de pirataria na Somália também aumentam à medida que as marinhas internacionais abandonam as águas em torno da Somália para se protegerem dos repetidos ataques da milícia Houthi do Iémen no Mar Vermelho e noutras águas regionais.
Registaram-se cinco incidentes de pirataria somali no primeiro trimestre de 2024, em comparação com zero incidentes no mesmo período do ano passado, de acordo com o IMB.
O aumento da pirataria também é alimentado “por factores locais, como o ressentimento em relação à pesca ilegal estrangeira e uma aparente parceria entre os piratas e o grupo jihadista al-Shabaab,” escreveram os analistas da Risk Assistance Network + Exchange (RANE), uma plataforma de informação sobre riscos. Os piratas somalis são conhecidos por utilizarem nos seus ataques arrastões de pesca sequestrados.
Alguns observadores acreditam que os militantes do al-Shabaab na região de Sanaag, no norte da Somália, chegaram a um acordo para proteger os piratas em troca de 30% das receitas dos resgates e de uma parte de qualquer pilhagem, informou o jornal dos Emirados, The National.
O acordo poderá fornecer fundos essenciais ao al-Shabaab, depois de o governo somali ter reprimido as suas outras fontes de dinheiro ilegais e congelado as suas contas bancárias. Os terroristas também são suspeitos de negociar com piratas e rebeldes Houthi para adquirir armas.
De acordo com a RANE, as eleições locais na região somali de Puntlândia, em Janeiro, também podem ter funcionado como um motor temporário para o ressurgimento de ataques piratas. Durante a época eleitoral, as forças de segurança deixaram as posições de segurança costeiras para policiar o interior, criando um vazio de segurança ao largo da costa da região.
Os piratas estão particularmente activos ao largo da cidade costeira de Eyl, em Puntlândia, que o al-Shabaab controla.
A convergência dos ataques dos piratas somalis e dos Houthi está a perturbar o comércio mundial. As vias navegáveis ao largo da Somália são algumas das mais movimentadas do mundo. Todos os anos, cerca de 20.000 embarcações passam pelo Golfo de Áden a caminho do Mar Vermelho e do Canal de Suez — a rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia.
Os ataques, que muitas vezes incluem pedidos de resgate, fizeram com que os preços dos guardas de segurança armados e da cobertura de seguro aumentassem, cinco representantes da indústria naval disseram à Reuters.
“O ressurgimento da actividade dos piratas somalis é preocupante e agora, mais do que nunca, é crucial proteger o comércio, salvaguardar as rotas e a segurança do pessoal marítimo que mantem o comércio em movimento,” o Secretário-Geral da CCI, John W.H. Denton, disse na página de internet da organização. “Devem ser tomadas todas as medidas para assegurar o livre fluxo ininterrupto de mercadorias ao longo das cadeias de abastecimento internacionais.”
A pirataria atingiu o seu pico na Somália em 2011, quando os piratas somalis lançaram 212 ataques, mas apenas cinco ataques foram registados entre 2017 e 2020. Este abrandamento foi atribuído a operações navais coordenadas de combate à pirataria, a medidas de segurança, como guardas armados nos navios, e ao aumento da perseguição e detenção de piratas.
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