‘Guerreiros Natos’: Milícias Locais da Somália Lutam Contra o Al-Shabaab

EQUIPA DA ADF

Os combatentes comunitários estão a assumir a liderança na luta da Somália contra o al-Shabaab, numa altura em que o governo muda de táctica contra o grupo.

O governo somali lançou a segunda fase das operações destinadas a eliminar o al-Shabaab em Agosto. As milícias de clãs, conhecidas localmente como “Ma’awisley,” concentrar-se-ão nos Estados centrais de Hirshabelle e Galmudug.

O governo paga aos combatentes subsídios mensais e poderá vir a integrá-los no exército nacional. O antigo chefe dos serviços secretos nacionais, Brigadeiro-General Abdirahman Turyare, está a ajudar a mobilizar os combatentes locais.

“A mobilização actual é diferente da mobilização que estava a ter lugar nos últimos meses, que se centrava apenas nas forças armadas nacionais,” disse Turyare à Voz da América. “O plano é voltar a mobilizar as forças armadas, descansar alguns dos soldados que estiveram na linha da frente durante um ano e meio, substituí-los por forças recém-formadas, voltar a mobilizar as Ma’awisley [milícias locais] e deixar a comunidade local liderar a luta.”

O governo também fornece às milícias de clãs apoio logístico, munições, alimentos e evacuações médicas. Os clãs ligam o exército às populações locais e demonstram que os civis se voltaram contra o al-Shabaab, segundo o Grupo Internacional de Crise.

Uma estratégia semelhante ajudou o governo e os combatentes locais a conquistar vastas áreas ocupadas pelo al-Shabaab, entre Agosto de 2022 e Janeiro de 2023. Durante esse esforço, o Exército Nacional da Somália e os combatentes Ma’awisley libertaram 70 comunidades, incluindo Rage-El, uma aldeia libertada após 13 anos sob o controlo do al-Shabaab.

A ofensiva recuperou cerca de um terço do território controlado pelo al-Shabaab. O governo da Somália informou também que 3.000 militantes foram mortos e mais de 3.700 ficaram feridos na primeira fase dos ataques, com a ajuda de combatentes locais, alguns dos quais idosos.

“Eles são guerreiros natos,” disse Hussein Sheikh Ali, conselheiro de segurança nacional da Somália, à revista Foreign Policy. “Toda a gente quer ter uma arma se quiser sobreviver.”

Alguns observadores receiam que o plano de utilização das milícias locais seja precipitado, enquanto outros reconhecem que a luta contra os terroristas será um desafio para as forças não profissionais.

Alguns “clãs continuam divididos no seu apoio ao al-Shabaab e ao governo com base em quem controla as áreas onde cada clã é proeminente,” informou o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED). “Esta divisão desempenha um papel fundamental na forma como se desenrola a operação de contra-insurgência.”

Dada a resiliência do al-Shabaab, o Ministro do Petróleo e dos Recursos Naturais da Somália, Abdirizak Omar Mohamed, antigo Ministro da Segurança Interna, insiste que o governo não subestime o grupo.
“O al-Shabab não é o derrotado aqui,” disse Mohamed à Foreign Policy. “Consideramos que se trata de uma organização muito resistente, muito adaptável, mas acreditamos que, com o apoio do público e com a mobilização das comunidades locais …, o governo somali prevalecerá nesta guerra contra o al-Shabab.”

A violência entre o al-Shabaab e as forças de segurança somalis, incluindo Ma’awisley, atingiu um pico febril nos Estados de Hirshabelle e Galmudug após o início da segunda fase.

A “violência política” aumentou mais de 70% nesses Estados entre meados de Agosto e meados de Setembro, segundo o ACLED. A violência incluiu 236 batalhas e 100 incidentes de explosões ou violência em zonas remotas. Tanto Hirshabelle como partes de Galmudug situam-se na região de Gallaudet.

As forças somalis e as milícias locais assumiram o controlo de várias localidades na região de Galgaduud, mas o al-Shabaab recuperou algum território depois de os agentes de segurança e as milícias de clãs terem abandonado as suas posições na linha da frente, informou o ACLED. As forças somalis e as milícias de clãs também entraram em confronto com o al-Shabaab na região de Middle Shabelle, que faz fronteira com Galgaduud, durante a segunda fase da contra-insurgência.

Os combates prosseguem enquanto a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS) se retira do país. No final de Junho, 2.000 soldados da ATMIS saíram da Somália e espera-se que outros 3.000 soldados da ATMIS se retirem até ao final de Setembro. A ATMIS tem até Dezembro de 2024 para transferir todas as responsabilidades de segurança para a Somália.

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