Leste da RDC Debate-se com Aparentemente Infindável Conflito

EQUIPA DA ADF

Durante meses, os cidadãos do leste da República Democrática do Congo (RDC) assistiram a um grande reforço militar, cessar-fogos e negociações — tudo com o objectivo de pôr fim ao reinado de terror dos rebeldes do M23.

Com muito pouca segurança na sua vida quotidiana, muitos se perguntam se a região estará presa num estado de conflito permanente.

Os investigadores Judith Verweijen e Christoph Vogel examinaram as últimas três décadas de violência e descobriram que esta tem sido “cada vez mais impulsionada pelo legado de problemas anteriores não resolvidos.”

“Os acordos de paz, como o acordo de 2013 com o M23, ficaram geralmente no papel,” escreveram num artigo de 30 de Maio para a publicação Global Observatory, do Instituto Internacional da Paz.

“Não só as questões estruturais que estão na origem da violência permaneceram em grande parte por resolver, como a não implementação dos acordos levou, muitas vezes, a uma violência renovada devido às queixas resultantes. Serão necessários esforços políticos profundos para quebrar este círculo vicioso.”

A Força Regional da Comunidade da África Oriental (EACRF) destacou milhares de soldados entre Novembro de 2022 e Abril de 2023. Apesar das notícias positivas sobre a retirada dos combatentes do M23, os civis dizem que os rebeldes permanecem em algumas das cidades que foram supostamente libertadas.

“A chegada dos soldados da CAO não mudou nada,” disse recentemente um comerciante de Bunagana à Agence France-Presse. “Continuo a pagar impostos ao M23.”

O analista de segurança Jean-Jacques Wondo Omanyundu criticou a EACRF, que é impopular entre alguns congoleses que se recordam de intervenções militares anteriores de países vizinhos.

A EACRF assumiu uma “postura passiva apesar das frequentes violações do cessar-fogo por parte dos combatentes do M23 e da sua recusa em confinar-se a áreas específicas,” disse à revista The New Humanitarian.

A porta está aberta para a RDC trazer mais uma força regional, desta vez, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, mas os observadores continuam cépticos quanto ao fim dos combates.

O Leste da RDC tem sido palco de uma violência persistente desde a década de 1990, incluindo duas guerras. Como resultado, mais de 5 milhões de pessoas morreram, de acordo com algumas estimativas. Outros milhões foram forçados a fugir das suas residências.

Mais de 120 grupos armados, incluindo extremistas, insurgentes antigovernamentais e milícias locais, continuam a operar principalmente nas províncias de Ituri, Kivu do Norte e Kivu do Sul.

Alguns combatem em linhas étnicas. Outros combatem como representantes de governos vizinhos. Outros combatem em defesa das suas comunidades. Outros ainda lutam pelo território e pelo controlo de recursos minerais valiosos.

“Durante todos estes anos, estamos a andar em círculos,” Onesphore Sematumba, um analista do Grupo Internacional de Crise, disse à Al Jazeera.

Alguns especialistas defendem a necessidade de um “dividendo de paz”, em que todos os países da região vejam que é do seu interesse económico promover a paz.

Um factor de complicação é o ouro, que os grupos rebeldes e os actores externos disputam há anos.

“O ouro é especialmente procurado no leste da RDC –– é extremamente fácil de contrabandear através das fronteiras e dos postos de controlo, qualidades importantes na economia paralela,” escreveu o director do Congo Research Group, Jason Stearns, numa publicação de 15 de Maio no seu blogue.

É também procurado pelos países vizinhos da RDC. A maior exportação do Ruanda é o ouro congolês. Em 2014, representava 1% das exportações de Kigali e, em 2020, tinha aumentado para 47%. O Uganda registou uma tendência semelhante, uma vez que o ouro do leste da RDC constituiu 56% das suas exportações em 2021.

“É evidente que o leste do Congo é visto como um local de competição geopolítica pelo Uganda e pelo Ruanda,” escreveu Stearns.

 Verweijen e Vogel manifestaram a esperança de que o círculo vicioso de violência e extracção de minerais em solo congolês possa ser quebrado.

“Mesmo quando um acordo de paz é finalmente alcançado, a sua implementação a longo prazo só pode ser bem-sucedida através de um compromisso político sustentado de todos os actores envolvidos, incluindo a determinação dos países vizinhos em deixar de conduzir guerras por procuração em solo congolês.”

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