Novo Relatório Descreve Dinâmica da Violência no Sahel

EQUIPA DA ADF

Centenas de pessoas, na sua maioria civis desarmados, foram chacinadas em Moura, uma aldeia na região de Mopti, no Mali, em Março de 2022. De acordo com um relatório da ONU publicado em Maio, o Grupo Wagner, de mercenários da Rússia, supervisionou o massacre.

“Estas conclusões são extremamente perturbadoras,” Volker Türk, alto comissário da ONU para os direitos humanos, disse ao The Guardian. “As execuções sumárias, as violações e a tortura durante um conflito armado constituem crimes de guerra e podem, dependendo das circunstâncias, constituir crimes contra a humanidade.”

As acções do Grupo Wagner no Mali no ano passado, juntamente com a retirada da França de todas as tropas do país, é um dos três principais desenvolvimentos que impulsionaram a violência em toda a região do Sahel ao longo de 2022 e em 2023, de acordo com um relatório de Junho, da Hoover Institution, um grupo de reflexão de políticas públicas.

Para além do massacre de Moura, o Grupo Wagner visou civis durante ataques nas regiões de Koulikoro, Segou e Tombuctu, onde opera o famoso grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM). Apesar das promessas de segurança, o JNIM floresceu no Mali desde a chegada do Grupo Wagner.

De acordo com o relatório da Hoover Institution, os outros dois factores que impulsionam a violência no Sahel são: o fracasso em conter a Província do Estado Islâmico no Sahel (IS Sahel) no Burquina Faso, Mali e Níger; e as novas tácticas utilizadas pelo JNIM e pela al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM).

Em 2022, a violência extremista matou mais de 19.100 pessoas em África, um aumento de 48% em relação ao ano anterior, de acordo com um novo relatório do Centro de Estudos Estratégicos de África. O aumento do número de vítimas mortais ligadas ao terrorismo foi marcado por um aumento de 68% envolvendo civis.

A maior parte da violência registou-se na região do Sahel — principalmente no Burquina Faso, Mali e Níger — e na Somália. Estas zonas foram responsáveis por 77% de todos os incidentes violentos registados no continente em 2022.

Actividades do IS Sahel

A actividade do IS Sahel atingiu o seu pico em 2019, o que levou a França a criar a força “Takuba” de forças de operações especiais francesas e europeias. A Takuba teve algum sucesso, nomeadamente matando o fundador do grupo, Adnan Abou Walid al-Sahrawi, em 2021.

No entanto, quando os militares franceses começaram a retirar-se em 2022, o grupo expandiu o seu âmbito de acção na região de Ménaka, no nordeste do Mali, onde implementou a sharia em locais públicos e prestou assistência básica aos residentes locais.

De acordo com o relatório da Hoover Institution, o grupo está a modelar práticas utilizadas pelo Estado Islâmico no Iraque e na Síria, tais como o reaproveitamento de materiais religiosos e de propaganda para utilização no Sahel.

“Um dos exemplos mais recentes é a distribuição em vários locais no nordeste do Mali do panfleto árabe ‘Esta é a Nossa Doutrina e Este é o Nosso Método,’ que foi originalmente produzido pela gráfica do Estado Islâmico, Maktabat al-Himma, há cerca de nove anos para refutar alegações negativas e ganhar o apoio de facções e tribos locais no Iraque e na Síria,” escreveu Wassim Nasr para a Hoover Institution.

O IS Sahel apoderou-se da cidade de Tidermene, no nordeste do Mali, a 10 de Abril, sem luta. Reuniu os habitantes, distribuiu panfletos e disse-lhes para se prepararem para pagar o zakat, um imposto islâmico. Ao longo de 2022 e 2023, o IS Sahel empreendeu uma grande ofensiva em toda a região da tríplice fronteira do Mali com o Burquina Faso e o Níger.

Expandir o Recrutamento

O JNIM foi formado como afiliado da AQIM por volta de 2017 e as actividades dos grupos evoluíram ao longo do tempo para sobreviver à pressão militar. Em 2021, o JNIM enquadrou a sua guerra na região do Sahel como uma guerra contra a presença francesa.

Como Nasr escreveu, os grupos são sensíveis às percepções locais e começaram recentemente a enfatizar a natureza regional da sua luta. Recentemente, o JNIM tem visado sobretudo locais militares e evitado “alvos fáceis.” Sempre que os grupos cometem actos de violência contra civis, atribuem normalmente a culpa dos incidentes às forças armadas locais.

Um relatório recente do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos contesta essas alegações, afirmando que, em 2022, só o Burquina Faso registou um aumento de 400% nos incidentes violentos que envolviam sobretudo o JNIM.

A AQIM está agora a recrutar membros para além das comunidades Árabes e Tuaregues e a apelar às comunidades Fulani.

Isso dá ao grupo “um alcance sem precedentes para o sul e até aos vizinhos Senegal e Costa do Marfim,” escreveu Nasr. “Está agora a tentar expandir-se ainda mais, recrutando noutras comunidades.”

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