Com a Saída da França, Analistas Esperam que Mercenários do Grupo Wagner Avancem para Burquina Faso

EQUIPA DA ADF

Agora que a junta do Burquina Faso obrigou as tropas francesas a abandonarem o país, os analistas dizem que os mercenários russos do Grupo Wagner podem preencher o vazio.

Mamadou Drabo, secretário-executivo do grupo cívico alinhado com a junta, Save Burkina, disse à The Associated Press (AP) que os líderes do país convidaram instrutores russos para treinar os seus soldados.

“Pedimos ao governo russo, devido à colaboração bilateral entre o Burquina e a Rússia, que nos enviasse pessoas para treinar os nossos homens,” disse Drabo à AP.

Outros países africanos que fizeram pedidos semelhantes viram-se a trabalhar em estreita colaboração com mercenários do Grupo Wagner — um acordo que, muitas vezes, sujeita os seus cidadãos à brutalidade e priva as suas economias de recursos valiosos.

“É o que temos visto acontecer em vários países,” disse a analista Sorcha MacLeod à AP. “Vimo-lo na RCA [República Centro-Africana] e no Mali. Tem sido um jogo de dominó.”

MacLeod faz parte do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre a Utilização de Mercenários e há muitos anos que estuda a actividade do Grupo Wagner em África.

Em Dezembro de 2022, após a visita do Primeiro-Ministro de Burquina Faso, Apollinaire Kyelem, à Rússia, o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, sugeriu que os seus vizinhos do norte tinham oferecido ao Grupo Wagner direitos sobre uma mina de ouro perto da fronteira ganesa em troca de ajuda na luta contra os extremistas.

O Grupo Wagner segue um padrão semelhante na RCA, no Mali e no Sudão, com grande parte da riqueza mineral extraída a ser canalizada através do Médio Oriente para financiar a invasão russa à Ucrânia. O líder de Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse que planeia mudar o seu foco para África e afastar-se da Ucrânia, onde o Grupo Wagner sofreu mais de 30.000 baixas.

A junta contestou a afirmação de Akufo-Addo em Dezembro. Porém, em Fevereiro, os governantes pediram 30 milhões de dólares às minas de ouro do país para o que descreveram como uma necessidade pública. O objectivo exacto não foi claro.

Na altura, os dirigentes da junta negaram que o Grupo Wagner estivesse a operar no Burquina Faso. No entanto, os analistas vêem o pedido como o próximo passo para trazer o Grupo Wagner para o país.

“Pode ser uma coincidência o facto de os burquinabês terem exigido a compra do ouro logo após terem expulsado os franceses e começado a aproximar-se dos russos,” disse à AP o analista William Linder, da 14 North Strategies.

Linder disse que a decisão da junta deixa as empresas mineiras preocupadas com a possibilidade de o governo alterar os acordos existentes a favor do Grupo Wagner. Na RCA, o Governo retirou os direitos de exploração da mina de ouro de Ndassima a uma empresa canadiana e cedeu a mina ao Grupo Wagner.

Noutros locais da RCA, o Grupo Wagner matou ou expulsou mineiros artesanais na sua campanha para controlar a extracção de ouro e diamante no país. O Grupo Wagner é também suspeito da morte de nove cidadãos chineses, mortos em Março, pouco depois da abertura da mina de Chimbolo, de propriedade chinesa.

A presença do Grupo Wagner na RCA e no Mali precedeu um forte aumento da violência contra as populações civis em ambos os países. Na RCA, o Grupo Wagner liderou ataques a comunidades suspeitas de albergarem combatentes rebeldes, colocou minas terrestres em estradas públicas e executou pessoas. No Mali, os combatentes do Grupo Wagner participaram no assalto de três dias que ficou conhecido como o massacre de Moura, no qual foram mortos 300 homens civis.

O Grupo Wagner também inundou os países onde opera com propaganda pró-russa e apoiou líderes autoritários em detrimento da democracia.

“Existe agora um vazio onde a França costumava estar,” disse MacLeod à AP. “A Rússia tem ambições imperialistas em África. É desestabilizadora para a região.”

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