Rússia Surge Como Maior Fornecedor de Armas na África Subsaariana
EQUIPA DA ADF
A dura guerra da Rússia com a Ucrânia não a impediu de vender armas em África e em todo o mundo.
a Rússia ultrapassou a China como principal fornecedor de armas à África Subsaariana, entre 2018 e 2022, segundo um novo relatório do Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI).
A Rússia conquistou 26% da quota de mercado da região, contra 21% nos cinco anos anteriores, conforme mostra o relatório. A quota de mercado da China na região caiu de 29% para 18% entre 2013 e 2022.
Os principais importadores de armas russas no continente são Argélia, Angola, Egipto e Sudão.
As armas russas estão a chegar a África enquanto as transferências de armas diminuem globalmente. Em alguns países, os observadores estabeleceram uma ligação entre as vendas de armas russas em África e a presença da força mercenária russa do Grupo Wagner.
“Vemo-la no Mali, também a vemos na Líbia e na República Centro-Africana,” disse Siemon T. Wezeman, investigador sénior do Programa de Transferência de Armas do SIPRI, ao jornal francês Le Monde. “Mesmo com um embargo da ONU, as armas estão a entrar e estão a entrar com o Grupo Wagner.”
As importações de armas do Mali aumentaram em 210%, entre 2013 e 2022. Depois dos golpes malianos de 2020 e 2021, a França e os Estados Unidos tornaram-se mais relutantes em fornecer armas ao país. A Rússia, porém, aumentou as suas exportações de armas para o Mali depois dos golpes, de acordo com o relatório do SIPRI.
Enquanto a guerra com a Ucrânia avança, os mercenários do Grupo Wagner estão a ser enviados para a região do Sahel, onde a agitação dos últimos anos resultou em golpes militares no Burquina Faso, Chade e Mali. O Grupo Wagner afirma a influência do Kremlin na região, através de duvidosas operações de combate ao terrorismo e acordos de segurança em troca de recursos.
Conforme Lisa Klaasen escreveu no Blog de Política da Universidade de Oxford, fundos provenientes destes acordos “sem compromisso” — que incluem treino militar, venda de armas e acesso a recursos naturais como ouro, diamantes, urânio e petróleo — pretendem cobrir as perdas resultantes de sanções em que a Rússia incorreu desde que invadiu a Ucrânia.
No entanto, os acordos não parecem estar a dar frutos para os países africanos em conflito.
A Rússia emergiu como o principal traficante de armas da África Subsaariana, à medida que surgiam certas bolsas da região entre os novos epicentros do extremismo violento do mundo.
Em 2021, quase metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo global ocorreram em partes da região. Quatro dos 10 países mais afectados foram Burquina Faso, Mali, Níger e Somália, onde ocorreram 77% das mortes relacionadas com o terrorismo, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Embora se espere que a guerra na Ucrânia assinale uma queda nas exportações de armas russas, Wezeman não espera que os envios para África parem por completo.
“É provável que mantenham pequenos stocks de armas para os países africanos — para satisfazer estes Estados e assegurar a sua neutralidade no Conselho de Segurança da ONU ou noutros órgãos políticos,” acrescentou Wezeman.
Nem é provável que o Kremlin deixe de avançar a sua agenda no continente. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, visitou Angola, Eritreia, Eswatini, Mali, Mauritânia, África do Sul e Sudão em 2023, depois de visitar a República Democrática do Congo, Egipto, Etiópia e Uganda, em 2022.
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