Dinastias Familiares Crescentes Prejudicam a Responsabilização e Encorajam a Corrupção

EQUIPA DA ADF

Quando assumiu o poder na Eritreia, aproximadamente 30 anos atrás, Isaias Afwerki prometeu eleições multipartidárias e o desenvolvimento de instituições da sociedade civil. Décadas depois, Afwerki consolidou todo o poder em si próprio e parece estar a preparar o seu filho, Abraham, para assumir o seu lugar.

Afwerki sénior tem 76 anos de idade e supostamente tem problemas de saúde, incluindo um acidente vascular cerebral, que já alimentou rumores da sua morte. Sem nenhum vice-presidente e nenhuma linha de sucessão criada, Afwerki parece um exemplo de um problema de liderança que afecta muitos países em toda a África: dinastias familiares, quando os chefes de Estado do sexo masculino colocam os seus filhos nos seus cargos, dos quais eles podem eventualmente tomar o poder, geralmente sem eleições.

Os especialistas afirmam que tais dinastias evitam a responsabilização, encorajam a corrupção e criam ressentimento entre as populações que anseiam ver novo sangue. A concentração de poder e o abuso de riquezas dos recursos naturais dos países aumenta as divisões políticas e, em última instância, enfraquecem as instituições políticas e desestabilizam os países.

“Em causa está a auto-sucessão, uma busca pela imortalidade política alimentada pelo ego, para a qual os praticantes parecem estar dispostos a sacrificar o próprio sistema,” sociólogo nigeriano, Ebenezer Obadare, escreveu recentemente para o Conselho de Relações Exteriores. “Acima de tudo, quanto mais tempo esta situação continua, maior é a impossibilidade de haver uma transferência pacífica de poder.”

Os valores democráticos continuam populares entre os jovens africanos, alimentando a oposição à política do “homem forte” das gerações anteriores, escreveu Obadare.

Contudo, a oposição pública não persuadiu os líderes de países como Eritreia e República do Congo, entre outros, a abandonar a transferência do poder baseado em dinastia.

Na Eritreia, Abraham Isaias Afwerki foi nomeado como conselheiro especial do seu pai para estudos estratégicos, em 2018. Ele assume cada vez mais cargos públicos desde que a Eritreia assinou um acordo de paz com a Etiópia. O jovem Afwerki recentemente fez parte de uma delegação de 2021, da Eritreia, na Arábia Saudita, que se tornou um apoiante fundamental da ditadura de Afwerki.

Na República do Congo, o presidente Denis Sassou N’Guesso nomeou o seu filho, Denis-Christel Sassou N’Guesso, ao cargo de Ministro de Cooperação Internacional. O filho anteriormente tinha trabalhado na Assembleia Nacional, tendo ganhado com 99% dos votos, e como director da empresa nacional de petróleos.

O Sassou N’Guesso mais novo está a caminho de suceder o seu pai, apesar de acusações internacionais de corrupção. Viaturas, imoveis e outros itens pertencentes a Denis-Christel, avaliados em milhares de dólares, já foram confiscados com base em provas de que estes foram adquiridos com dinheiro retirado do seu próprio tesouro nacional.

Ele e a sua irmã Claudia gastaram mais de 70 milhões de dólares em fundos do Estado, adquirindo bens imóveis e outros itens, de acordo com o grupo de fiscalização, Global Witness.

“Os Sassou N’Guesso têm a fama de levarem vidas de luxo, que não são compatíveis com os salários relativamente modestos dos funcionários públicos do Congo,” escreveram os investigadores do Global Witness, em 2019, como parte da sua investigação dos gastos luxuosos do jovem Sassou N’Guesso.

Os investigadores afirmam que o tipo de sucessão de pai para filho, que está a acontecer em quase toda a África, tem pouco a ver com o bem-estar dos países e mais a ver com o bem-estar das famílias que estão no poder. Manter a liderança na família ajuda as gerações anteriores a evitarem punições de crimes cometidos quando estavam no poder, como o desvio do dinheiro dos cofres nacionais.

De acordo com o Dr. Seidu Alidu, um cientista político da Universidade do Gana, a transferência de pai para filho também pode ter a ver com a protecção da riqueza familiar.

“Eles querem alguém que possa continuar com aquele processo em particular que eles iniciaram ou que pode proteger os interesses de investimento da família com aqueles recursos em particular,” disse à agência de notícias alemã, Deutsche Welle.

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