Golpe de Estado Pode Preparar Caminho Para Grupo Wagner no Burquina Faso

EQUIPA DA ADF

Depois do segundo golpe de Estado do Burquina Faso, no dia 30 de Setembro, a população saiu para as ruas de Ouagadougou, levantando bandeiras russas. As pessoas reuniram-se, em parte, como resultado dos esforços incansáveis de desinformação da Rússia, que pintam Moscovo como um aliado no combate ao terrorismo. Mas também revelam algo mais profundo sobre o Burquina Faso: o anseio pela paz.

“A população está desesperada para encontrar algum tipo de salvador para o país,” director de projectos do Sahel, do Grupo Internacional da Crise, Jean-Hervé Jezequel, disse num podcast do dia 7 de Outubro.

Especialistas alertam que é improvável que haja paz após o envolvimento da Rússia. Existem sinais de que a Rússia possa aproveitar esta oportunidade para que os seus mercenários do Grupo Wagner montem a sua loja no Burquina Faso, seguindo o padrão que utilizaram no Mali depois dos seus recentes golpes de Estado.

A contínua instabilidade do Burquina Faso faz com que seja um alvo convidativo para o Grupo Wagner. As minas de ouro daquele país são cobiçadas para financiar ainda mais a máquina de guerra da Rússia no continente e na Ucrânia.

Quando assumiu o poder e dirigiu-se à nação depois do mais recente golpe de Estado, o Capitão do Exército, Ibrahim Traoré, deu indicações de trabalhar com mercenários russos, mas não o declarou abertamente.

“Os franceses há muito tem sido os nossos parceiros,” disse numa conferência de imprensa televisionada. “Mas podíamos ter outros parceiros agora para nos apoiarem. Na verdade, nós estamos numa parceria com a Rússia. Precisamos de fortalecê-la.

“Portanto, podemos ter várias parcerias com todas as potências que estiverem dispostas a ajudar-nos nesta luta.”

O analista Samuel Ramani, do grupo de reflexão sobre segurança, do Royal United Services Institute, acredita que Traoré estava a tentar lançar as suas apostas nos países do Ocidente e considera os resultados do Grupo Wagner no Mali como uma lição.

“Penso que o Burquina Faso quer evitar cair na mesma armadilha em que caiu o Mali,” disse Ramani à BBC. “Eles agora estão completamente dependentes e capturados pelo Estado russo.”

Para além de não conseguir trazer resultados, os operativos do Grupo Wagner também foram acusados de crimes contra a humanidade e massacres de civis, incluindo execuções sumárias de 300 pessoas, na vila de Moura, no Mali.

“O Grupo Wagner é bom para criar caos,” disse Ramani. “Mas, como uma força de combate, enfrenta dificuldades, particularmente em territórios novos e hostis.”

Jezequel disse que o registo histórico do Grupo Wagner no Mali revela que este tem menos probabilidades de melhorar a segurança no Burquina Faso.

“Existem grandes limitações, enormes dificuldades na capacidade dos russos,” disse. “Até agora, não acho que a aliança com a Rússia tenha dado qualquer vantagem estratégica ao governo do Mali.”

O preço do envolvimento do Grupo Wagner num país tende a ser isolamento no palco do mundo, perdas de civis e perda de recursos naturais.

“Quando os russos entram nesses teatros, é difícil retirá-los,” disse Ramani. “A mesma coisa aconteceu na República Centro-Africana.”

Enquanto Traoré considera as suas opções na procura de parceiros estrangeiros, os especialistas afirmam que os burquinabês foram direccionados para as suas crenças pró-russas e anti França por uma rede de propaganda elaborada que opera no Sahel.

“Não há dúvidas de que existe um tipo de campanha de influência russa a ocorrer nesses países que serve vários propósitos,” Cameron Hudson, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse à revista Foreign Policy. “É contestatário daqueles países, por isso, está a enfraquecer a sua liderança.

“Penso que é aí onde os russos podem ganhar espaço … onde existem estas transições a acontecer, onde no espaço político tudo se encontra à disposição. É como um certo tipo de jogo de cadeiras, e os russos encontram-se junto da vitrola.”

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