Violência no Darfur Ocidental Reitera o Passado Sangrento

EQUIPA DA ADF

Os ataques no Darfur Ocidental estão a despertar receios de que a região possa retornar à violência do seu período mais sombrio. Grupos humanitários e organizações internacionais estão a apelar para uma intervenção numa altura em que os confrontos aumentam.

Em meados de Junho, uma disputa de terra entre duas tribos, próximo da vila de Kulbus, levou à morte de mais de 100 pessoas e ao deslocamento de milhares. Testemunhas e grupos de direitos humanos afirmam que forças, controladas pelo segundo no comando da junta no poder no Sudão, estão a apoiar combatentes árabes nos ataques e estão a aumentar a violência.

Abkar Altom Adam, secretário-geral do Conselho da Shura de Gimir, disse ao Sudan Tribune que as Forças de Apoio Rápido (RSF) apoiam os combatentes árabes da tribo Rizeigat nos seus ataques contra membros da tribo não árabe, Gimir.

A violência, próximo de Kulbus, em meados de Junho, surgiu a partir de uma disputa entre um homem Gimir e um homem Rizeigat, em torno de terras agrárias e durou dias. Os dois homens morreram no tiroteio que irrompeu durante os combates iniciais, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

As tribos Gimir e Rizeigat reconciliaram-se no Darfur do Sul, mas o surto de violência no Darfur Ocidental continuou a fazer parte de um padrão de confrontos entre aqueles grupos nos últimos dois anos.

A violência no Darfur Ocidental aumentou desde o golpe de Estado militar de Outubro de 2021, que interrompeu a transição para um governo civil. Os ataques levaram a mortes de profissionais de saúde e de crianças.

“Nem o governo de transição do Sudão nem os actuais líderes militares abordaram de forma significativa as causas subjacentes da violência no Darfur,” escreveu a Human Rights Watch (HRW) num relatório recente sobre a violência na região do Darfur Ocidental. “A impunidade pelos abusos continua a ser uma norma.”

O governo do Sudão continua a não abordar a marginalização, as disputas relacionadas com o controlo e acesso a terras e os recursos naturais e a falta de justiça pelos abusos passados e actuais, disse a HRW.

Um surto de violência diferente, em Abril, entre os não árabes Massalit e os seus vizinhos árabes, matou mais de 200 pessoas, na região de Kereneik, no Darfur Ocidental, obrigou 124.000 pessoas a fugir e fez com que várias aldeias fossem pilhadas e incendiadas, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

“Os dois últimos meses demonstraram de forma demasiadamente clara os dividendos devastadores da retirada dos soldados de manutenção da paz e de ignorar-se a contínua necessidade de protecção de civis em Darfur,” disse o investigador da HRW do Sudão, Mohamed Osman, no relatório.

Abdel Rasoul al-Nur, director-executivo da localidade de Kulbus, onde irrompeu a violência em Junho, disse ao Sudan Tribune, pouco depois de a violência ter ocorrido, que 111 pessoas da tribo Gimir foram mortas.

“Existem dezenas de pessoas desaparecidas que não foram encontradas,” acrescentou. Ele disse que não tinha informação sobre as mortes entre as tribos árabes envolvidas nos confrontos.

Abkar al-Toum, um líder tribal de Kulbus disse à Al-Jazeera que pelo menos 62 pessoas foram encontradas carbonizadas depois de os combatentes terem incendiado 20 aldeias.

As autoridades locais enviaram tropas para separar os grupos e proteger as fontes de água locais.

Semanas depois da escalada inicial da violência, o número de mortes aumentou para mais de 125, incluindo 25 membros da tribo Rizeigat, e o número de pessoas que fugiu dos confrontos alcançou 50.000, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Mais de 15.000 pessoas fugiram para o vizinho Darfur do Norte.

O actual espasmo de violências faz eco à guerra que irrompeu na região de Darfur duas décadas atrás, quando o então presidente Omar al-Bashir utilizou pastores árabes conhecidos como Janjaweed para atacar tribos africanas não árabes que se queixavam de discriminação por parte do governo.

Aquela violência matou 300.000 pessoas e deixou 2,5 milhões de pessoas desabrigadas.

Grupos de direitos humanos afirmam que muitos dos antigos Janjaweed agora são membros das RSF controladas pelo General Mahomed Hamdan Dagalo, segundo no comando em relação ao líder do golpe, General Abdel Fattah al-Burhan. Dagalo é conhecido pela alcunha “Hemedti.”

A recente violência trouxe rápidas condenações pela comunidade internacional, exigindo que a violência acabe.

Toby Hayward, coordenador do Sudão para o Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, disse que a violência coloca a segurança de toda a região em risco.

“Se não houver intervenção ou mediação e se se permitir que a violência continue, os agricultores não poderão cultivar e a época agrícola será perdida,” escreveu Hayward no Twitter. “Isso seria catastrófico para todas as comunidades.”

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