Será Que a Nova Vaga da COVID-19 da África do Sul Indica Mudança?

EQUIPA DA ADF

A mais recente vaga de infecções pela COVID-19 da África do Sul está a demonstrar ser substancialmente diferente das vagas anteriores. Isso deve-se parcialmente ao alto nível de imunidade da população, de acordo com especialistas do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas (NICD) daquele país.

A nova vaga, que está a ser impulsionada pelas subvariantes BA.4 e BA.5 da variante Ómicron, é diferente das vagas anteriores de várias formas:

  • Embora os níveis de infecção sejam elevados, os níveis de internamento continuam baixos.
  • As mortes continuam muito inferiores em relação às vagas anteriores, atingindo o pico num ponto ligeiramente superior em relação ao ponto mais baixo do pico das vagas anteriores.
  • A actual vaga está a acontecer numa altura em que a África do Sul eliminou todas as medidas obrigatórias de protecção como o uso da máscara e o distanciamento social.

Também é significativo o facto de que a actual vaga esteja a ser causada por subvariantes, não por variantes como as vagas anteriores.

A exposição a ambas as variantes iniciais e à variante Ómicron original parecem ter concedido um certo nível de imunidade a cerca de 90% de sul-africanos. As novas subvariantes foram capazes de causar reinfecções em algumas pessoas, mas os sintomas foram, em termos gerais, mais ligeiros, de acordo com especialistas em saúde pública.

“Os actuais padrões demonstram que, num contexto como o da África do Sul com elevados níveis de imunidade da população, é possível ter um aumento substancial na transmissão que não sobrecarrega o sistema de saúde, mesmo sem colocar novas restrições em vigor,” Dra. Michelle Groome, directora do Departamento de Vigilância e Resposta de Saúde Pública do NICD, escreveu no The Conversation.

Com o Inverno a passar para o Hemisfério Sul, a África do Sul está a experimentar um rápido aumento no número de casos causados pela BA.4 e pela BA.5. Botswana, Eswatini e Namíbia já registaram aumentos significativos juntamente com a África do Sul.

Este aumento foi suficiente para reverter o declínio geral no número de casos do continente nos últimos dois meses. Os novos casos aumentaram em média 36% em Maio, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.

Estudos recentes de novas estirpes da Ómicron demonstram que, apesar de elas produzirem infecções ligeiras em pessoas com imunidade, podem ser tão perigosas quanto as outras variantes para pessoas sem protecção.

Pesquisas feitas pelo Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul demonstraram que as mortes em excesso (a estimativa de mortes acima das normas históricas) começam a registar um ligeiro aumento, mas em números muito mais inferiores do que em quaisquer das vagas anteriores.

Dados do NICD publicados em finais de Maio sugerem que a actual vaga já atingiu o pico e começou a registar um declínio. Embora a positividade de casos tenha sido tão elevada quanto nas vagas anteriores, a taxa média de infecções de menos de 15 por cada 100.000 habitantes é muito inferior do que a vaga original da Ómicron, que atingiu o pico com pouco menos de 40 por cada 100.000 no fim de 2021.

A actual experiência da África do Sul com as estirpes da Ómicron pode tornar-se o modelo para futuras vagas sazonais de infecção, escreveu Broome.

“De agora em diante, esperamos que os números de casos aumentem e diminuam,” escreveu Broome. “O que importa agora é saber se existe acompanhamento suficiente em vigor para detectar grandes alterações a tempo de dar resposta.”

Um acompanhamento rigoroso das infecções irá manter os sistemas de prestação de cuidados de saúde adiantados em relação às futuras vagas, impedindo que os hospitais e as clínicas estejam sobrecarregados, de acordo com Broome.

Entretanto, a experiência da África do Sul pode representar um fim da fase pandémica da COVID-19.

“A mudança para os reaparecimentos causados por subvariantes em vez de novas variantes potencialmente anuncia uma mudança no padrão evolucionário do vírus e um movimento no sentido de tornar-se endémica,” escreveu Broome.

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