Poucas Pistas Sobre o Desaparecimento do Observador de Pescas Guineense Depois de Três Anos

EQUIPA DA ADF

Emmanuel Essien, um observador de pescas ganês, de 28 anos de idade, orgulhava-se do seu trabalho, que inclui a denúncia de tácticas de pesca ilegal a bordo de embarcações estrangeiras.
A sua diligência pode ter-lhe custado a vida.Essien estava a bordo do arrastão chinês Meng Xin 15, quando captou imagens de vídeo da tripulação envolvida em saiko, a transferência ilegal de peixe, de um arrastão para uma canoa grande. Duas semanas depois, no dia 5 de Julho de 2019, ele desapareceu enquanto trabalhava na mesma embarcação.O seu relatório sobre as imagens de vídeo que ele captou incluía a seguinte afirmação: “Peço de forma humilde que a polícia investigue mais,” comunicou o The Guardian.

Depois de três anos, a Divisão da Polícia Marinha dos Serviços de Polícia do Gana não tem informações sobre o paradeiro de Essien ou sobre o que causou o seu desaparecimento. Os relatórios iniciais da polícia afirmavam que não existem sinais de crime. As provas de Essien podiam ter significado uma multa de 1 milhão de dólares para o capitão da embarcação, de acordo com o The Guardian.

De acordo com a lei ganesa, as autoridades devem ter um corpo para poder declarar que uma pessoa está morta — ou processar alguém pelo seu desaparecimento, comunicou a página da internet de notícias, myjoyonline.com.

©LIU YUYANG/GREENPEACE

A família de Essien, incluindo uma filha e um filho menores, tem dificuldades para compreender o desaparecimento. O irmão de Essien, James Essien, disse que a sua sobrinha, de 6 anos de idade, na altura do desaparecimento do pai, constantemente perguntava onde estava o seu pai. A família vive em Acra.

“Eu não acredito que o governo e as autoridades valorizaram o trabalho que o meu irmão estava a fazer,” James disse ao The Guardian, em 2019. “Se o fizessem, teriam dado alguma seriedade e urgência à investigação. Não sabemos nada. Não compreendemos como isso pode levar tanto tempo.”

O The Guardian entrevistou dois pescadores na região próxima de Tema na sequência do desaparecimento de Essien. Os pescadores falaram na condição de anonimato. Eles afirmaram que alguns observadores das pescas eram agredidos por membros da tripulação chineses e ambos viram observadores a aceitarem subornos.

“Os observadores estão lá para denunciar mau comportamento,” disse um pescador. “É como ser um espião. Quando ouvimos falar sobre o desaparecimento de um observador, ficamos muito tristes. É muito perigoso.”

Eles concordaram que seria difícil que um observador caísse do barco para o mar.

“Seria muito difícil,” disse um deles. “Ele não trabalha no convés como os pescadores.”

James Essien disse que o seu irmão estava prestes a desistir do seu emprego porque já não se sentia confortável.

“Não acredito que o meu irmão se tenha lançado do barco para o mar,” disse ao The Guardian. “Não existe a possibilidade de que ele tenha feito isso. Suspeito que tenha havido uma tentativa coordenada para acabar com ele. Ele ia escrever uma denúncia. Talvez tenha havido uma discórdia. Talvez os chineses não tenham gostado disso.”

Geralmente, os observadores partilham espaço nas embarcações com o capitão e a tribulação chinesa, longe dos outros trabalhadores. Kobina Yankson, um professor do departamento de pescas e ciências aquáticas da Universidade de Cape Coast considerou terrível esta prática.

“Como é que se coloca um jovem sozinho numa embarcação de pesca com a tripulação chinesa?” Yankson, agora falecido, disse no relatório de 2020, feito pelo Comité das Pescas do Centro-Oeste do Golfo da Guiné. “E ele deve denunciar ilegalidades e tirar fotografias. Vocês pensam que a tripulação irá permitir que ele faça isso? Não sei quem deu esse conselho.”

Uma fonte da comissão das pescas do Gana disse ao The Guardian que os observadores são alertados sobre hostilidades nas embarcações estrangeiras e são ameaçados “na maior parte das vezes” quando filmam actividades ilegais.

A posse de arrastões por estrangeiros é ilegal no Gana, mas os arrastões chineses utilizam empresas fictícias ganesas para poderem pescar. De acordo com a Fundação para a Justiça Ambiental, as empresas chinesas financiam cerca de 90% dos arrastões industriais no Gana.

O Meng Xin 15 pertence a Dalian Meng Xin Ocean Fisheries, uma empresa estatal chinesa, comunicou o China Dialogue Ocean.

A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada tem sido frequente em Gana há décadas. Ela devasta as unidades populacionais de peixe e ameaça os meios de subsistência de 2,7 milhões de ganeses.

“Os arrastões de pesca são a nossa maior dor de cabeça neste momento,” Edward Kotei, um pescador de Jamestown, disse no relatório do Comité das Pescas do Centro-Oeste do Golfo da Guiné. “Eles inundam as nossas costas e desrespeitam as leis. Eles vêm de longas distâncias para os nossos territórios para pescar. Os arrastões vêm de longas distâncias até à costa para pescar o peixe e despejam grandes quantidades de peixe pequeno para as águas e depois saem dos nossos territórios para outros lugares.”

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