Guerra da Rússia e Seca Podem Criar Consequências Mortais em África

EQUIPA DA ADF

O medo da fome em África está a aumentar devido ao triplo efeito da contínua guerra da Rússia na Ucrânia e uma seca em todo o continente.

Depois de a Rússia invadir a Ucrânia, muitos países registaram aumento dos preços de produtos alimentares.

A Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) estima que o preço dos produtos alimentares atingiu um recorde máximo de 14 anos, em Março. O óleo aumentou para o seu preço mais elevado desde 2008. Os fertilizantes também registaram um aumento acentuado do preço.

O professor de Economia, Vitalii Dankevych, da Universidade Nacional da Polissia, em Zhytomyr, Ucrânia, disse que a guerra impediu que alguns agricultores ucranianos pudessem plantar culturas, o que geralmente começa na terceira semana de Março.

“A Primavera mais difícil para plantar na história da Ucrânia independente está a acontecer,” escreveu Dankevych para a organização sem fins lucrativos, Food Tank. “Os agricultores simplesmente não estão a ser capazes de entrar nos seus campos porque eles e as suas comunidades estão a lutar para sobreviver.

“O trigo, a cevada, a aveia, a ervilha e alguns vegetais são geralmente plantados nas próximas semanas para evitar a perda de humidade dos solos. Geralmente, os agricultores fertilizam os cereais do inverno e as culturas industriais, particularmente o trigo, o centeio e a colza durante este tempo.”

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, a invasão da Rússia pode custar à Ucrânia cerca de um terço das suas culturas este ano.

Hanan Morsy, secretária-executiva adjunta da UNECA e economista-chefe, alistou 10 países africanos mais dependentes de produtos alimentares da Ucrânia.

Os 10 países são: Egipto, Etiópia, Quénia, Líbia, Marrocos, Nigéria, Senegal, África do Sul, Sudão e Tunísia, dependendo muito da Ucrânia e da Rússia para trigo e milho. A Rússia está a atacar infra-estruturas agrícolas e a bloquear mais de 90 navios de exportação ucranianos no Mar Negro.

“É importante lembrar que esses 10 países constituem metade da população de África e dois terços do produto interno bruto do continente,” disse durante um encontro virtual no dia 24 de Março. “Então, mesmo que sejam apenas 10 países, há implicações significativas para África como um tudo, incluindo riscos de segurança alimentar a aproximar-se.”

Quase todos os países africanos estavam no Índice Global de Fome de 2021 antes da Rússia ter invadido a Ucrânia e 1 em cada 5 pessoas do continente está malnutrida — mais de 300 milhões de pessoas —, de acordo com a ONU.

O Programa Mundial de Alimentação (PMA) também está a alertar para uma catástrofe, dizendo que metade de cereais que utiliza para alimentar os necessitados vem da Ucrânia. Foi obrigada a cortar ajuda para alguns países por causa da guerra da Rússia.

Mais de 43 milhões de pessoas famintas encontram-se no Sahel e na África Ocidental, um número que quadruplicou nos últimos três anos, comunicou a PMA, no dia 8 de Abril.

Depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, os preços de produtos alimentares em África aumentaram 30 a 50% em muitas partes e duplicaram noutras.

Para além de a invasão da Rússia desestabilizar os mercados mundiais, também acrescenta os já existentes impactos mortais da seca em toda a África.

Colheitas fracas em 2021 já tinham deixado os agricultores preocupados com a colheita deste ano, mas milhões de pessoas na África Oriental estão a preparar-se para o impacto da pior seca depois de décadas.

A ONU estima que mais de 15 milhões de pessoas no Corno de África estão a sofrer graves problemas de fome por causa da seca persistente, uma vez que a região é assolada pelas piores condições de seca registadas desde 1981.

Grupos humanitários afirmam que a segurança alimentar provavelmente irá deteriorar ainda mais sem financiamento urgente e apoio.

A organização internacional de ajuda, Oxfam, alertou que a crise da fome pode tornar-se uma catástrofe. Se a ajuda não alcançar os mais vulneráveis, a directora-executiva da Oxfam International, Gabriela Bucher, disse que centenas de milhares de pessoas na África Oriental podem morrer este ano.

“A pura verdade é que neste momento a África Oriental não está na agenda global,” disse ao The Associated Press.

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