Shaka Zulu e a Sua Lança Mortífera

Equipa da ADF

Durante algum tempo, as escaramuças entre tribos rivais Nguni, no que é actualmente a África do Sul, eram apenas fanfarronice, mas não confrontos.

Os adversários colocavam-se a uma distância de 35 a 45 metros, armados com uma assegai, uma lança de 1,8 metros, e um escudo comprido chamado isihlangu. Os guerreiros atiravam lanças uns aos outros, mas devido à distância e ao desvio dos arremessos, conseguiam desviar-se facilmente. Os “combates” normalmente terminavam quando ambas as partes atiravam todas as lanças e ninguém ficava ferido.

Shaka Zulu, da tribo Zulu de Nguni, considerava que o lançamento cerimonioso das lanças era uma perda de tempo. Por volta de 1800, Shaka criou um novo tipo de lança chamada iklwa. Era uma arma afiada, parecida com uma espada, cerca de um metro mais curta e uma lâmina mais larga. Armado com este novo instrumento, Shaka perseguia os adversários e prendia os seus escudos, retirando-lhes a protecção. Em seguida, esfaqueava o adversário, normalmente tirando-lhe a vida. 

A cerimónia de lançamento da lança não foi abandonada por completo. Continuou a ser realizada, sendo atirada de longe contra as formações inimigas, antes de os guerreiros se aproximarem para um combate corpo a corpo com a iklwa. Os guerreiros zulus usavam também um chamboco de cabo comprido.

Quando Shaka treinou os seus apoiantes com a nova arma, estes tornaram-se uma força dominante. Ele desenvolveu também um conjunto de tácticas ofensivas chamadas de “formação de búfalo.” O grupo principal de guerreiros era “o peito” que enfrentava o inimigo de frente. Dois flancos, conhecidos como “os chifres”, tentavam rodear o inimigo, enquanto uma reserva, chamada “o ventre”, permanecia na retaguarda no caso de o inimigo tentar escapar. 

Shaka tornou-se um mestre da táctica, do posicionamento e do artifício. No campo de batalha, ele era implacável. Utilizava um sistema de guerra total. Ensinou os seus guerreiros a não fazer prisioneiros e a matar todos os inimigos. Ele era igualmente impiedoso com a sua tribo; todos os homens zulus deviam ser guerreiros. Se um homem não correspondesse às exigências físicas exactas de Shaka, era morto. 

Alguns historiadores descreveram os zulus como “os espartanos de África.” Dizem que Shaka obrigou os guerreiros a deixarem de usar sandálias para endurecer os pés para que pudessem correr descalços, de maneira mais rápida e ágil. 

Antes do aparecimento de Shaka, os zulus eram uma tribo pequena, composta por cerca de 1.500 habitantes, num pequeno território de 26 quilómetros quadrados. Até 1828, Shaka governava 250.000 pessoas e comandava um exército de 40.000 guerreiros. Durante o seu reinado, foi responsável pela morte de 2 milhões de pessoas.

As tribos vizinhas e conquistadas adoptaram os seus métodos militares e a sua crueldade, o que deu origem a 25 anos de caos, massacres e genocídio, mesmo após a sua morte. Esta época foi conhecida como “Mfecane” ou “Esmagamento.”

Shaka e a sua mãe foram abandonados quando ele era jovem e ele procurou vingar-se a vida inteira. A sua raiva acabou por transformá-lo num louco. Houve um dia em que mandou matar 7.000 zulus por não se lamentarem devidamente durante uma cerimónia. Em Setembro de 1828, foi assassinado pelos seus meios-irmãos.

A memória de Shaka está presente numa dezena de biografias, bem como mini-séries televisas e num filme. 

O seu legado é claro: ele mudou a noção de guerra e tornou a tribo zulu conhecida mundialmente.

Comentários estão fechados.