EQUIPA DA ADF
Com a aproximação do final do ano, os países africanos estão a preparar-se para uma nova ronda de infecções pela COVID-19, que as autoridades de saúde pública esperam que seja menos intensa do que as vagas anteriores.
“Tudo indica que baixamos de forma muito rápida e estabilizamos,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), disse recentemente. “Agora, o que receio é que devemos ser muito cautelosos e não sermos complacentes.”
Em todo o continente, os países estão a registar uma redução no número de casos, depois de a terceira vaga mortal de infecções impulsionada pela variante Delta ter atingido o pico em meados do ano. Desde essa altura, os números de novos casos e de mordes reduziram de forma constante. Os novos casos baixaram 20% em Setembro e mais 11% em Outubro, de acordo com o Africa CDC.
A experiência demonstra que provavelmente venha a ocorrer uma quarta vaga continental em finais de Dezembro ou no início de Janeiro. Nove países, variando geograficamente desde a Argélia, Benin às Maurícias, estão a experimentar um aumento da quarta vaga. Esse número aumentou com o recente acréscimo de Burkina Faso.
Até agora, as autoridades sanitárias esperam que a quarta vaga seja menos intensa do que a terceira, que foi impulsionada pela variante Delta e é responsável por cerca de um terço do número de mortes a nível do continente, desde o início da pandemia.
Embora os laboratórios tenham identificado várias novas variantes, nenhuma delas assolou da forma que as variantes Delta e Beta fizeram. Os especialistas em matéria de saúde pública estão a observar com atenção a famosa variante Delta Plus, também conhecida como AY.4.2, que está a impulsionar a mais recente vaga de infecções na Europa e pode atingir o continente africano.
Enquanto se preparam para a quarta vaga, alguns sistemas de saúde confiam nas lições que aprenderam da terceira vaga. Uma dessas lições é: aumentar o fornecimento de oxigénio médico.
“Ao construir capacidade de produção de oxigénio e instalações de tratamento durante a terceira vaga, vimos que nos ajuda muito,” disse Fortunate Bhembe, director dos serviços farmacêuticos do Ministério de Saúde de Eswatini.
Desde que a COVID-19 atingiu o continente, no início de 2020, África registou mais de 8,5 milhões de casos e mais de 200.000 mortes.
O número de mortes registadas em África é apenas 4% dos 5 milhões registados no mundo inteiro, depois de menos de dois anos de pandemia. Contudo, estudos feitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e os demográficos sugerem que o impacto da COVID-19 no continente seja, na realidade, muito maior.
Um estudo feito pelos escritórios regionais da OMS para África estima que os programas de testagem captam cerca de 14% das infecções — o que significa que seis em cada sete casos não são detectados, o que contribui para a contínua propagação da doença.
Um estudo de dados, feito na África do Sul, que possui a contagem mais rigorosa de mortes do continente, estima que o real número de mortes pela COVID-19 é o triplo dos registos oficiais. Se estender até ao nível do continente, isso colocaria os números reais da pandemia de África muito próximo de 660.000.
Todos esses factores pesam nas mentes dos líderes de saúde pública de África.
“É muito pouco provável que a África do Sul alcance uma posição de imunidade comunitária antes da quarta vaga,” Dra. Harsha Somaroo disse à televisão eNews Channel Africa, da África do Sul.
O Africa CDC e os escritórios regionais da OMS para África já iniciaram uma testagem rápida generalizada, a nível da comunidade, para detectar surtos da COVID-19 antes que se transformem em vagas de infecção maiores. Os testes são simples de utilizar, fáceis de transportar e rápidos, podendo fornecer resultados em cerca de 15 minutos.
As pessoas podem reduzir a ameaça da quarta vaga, aplicando as intervenções não farmacológicas, como o uso de máscaras e evitar grandes grupos, segundo alguns especialistas.
“Se continuamos com o distanciamento social, iremos ainda assim ter uma quarta vaga, mas ela será ligeira,” Nicholas Chrisp, director-geral adjunto do Departamento de Saúde da África do Sul, disse ao Business Tech, da África do Sul. “Pode ser um quarto da primeira vaga, no mínimo.”