África Ocidental Lidera na Vacina Contra a Malária

EQUIPA DA ADF

Cientistas africanos estão na vanguarda de uma nova vacina contra a malária que já demonstrou ser altamente eficaz nos ensaios iniciais e está a ser considerada como uma potencial vitória.

Um estudo recente publicado na revista médica britânica, The Lancet, demonstrou que a vacina R21/Matrix-M preveniu a doença mais de 77% das vezes nos ensaios iniciais — a primeira vez que uma vacina candidata ultrapassa a meta de 75% de eficácia determinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Estes são resultados muito animadores que demonstram níveis de eficácia sem precedentes de uma vacina que foi bem tolerada no nosso programa de ensaios,” Halidou Tinto, investigador principal da fase de ensaios, disse, num comunicado. “Estamos ansiosos pela fase três que se aproxima, para demonstrarmos os dados de segurança e eficácia em grande escala para uma vacina que é uma grande necessidade nesta região.”

Cientistas do mundo inteiro têm estado a trabalhar desde a década de 1940 para desenvolver uma vacina para proteger contra a malária, que infecta cerca de 200 milhões de pessoas por ano e mata mais de 400.000 por ano.

Nove de cada 10 vítimas da malária vivem em África e a maior parte delas são crianças com menos de 5 anos de idade.

Abdoulaye Djimdé é o director do Centro de Pesquisa e Treinamento em Malária, em Bamako, Mali, onde derrotar um dos piores homicidas do continente tem sido o foco por 30 anos.

“Viver nas comunidades, sofrer da doença e ter os nossos filhos e os nossos irmãos a sofrerem da doença gera em nós uma nova forma de olhar para o problema,” Djimdé disse à revista Smithsonian Magazine. “Estamos aqui para resolver os problemas de que o nosso povo e nós próprios somos vítimas.”

A R21 foi desenvolvida através de uma colaboração do Instituto de Pesquisa Médica do Quénia, da Universidade de Oxford, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, da empresa farmacêutica dos Estados Unidos, Novavax, do Instituto Serum da Índia e do Institut de Recherche en Sciences de la Santé (Instituto de Pesquisa em Ciências da Saúde de Nanoro), Burkina Faso, onde Tinto é o director regional.

Os ensaios da fase dois, que tiveram a duração de um ano, foram realizados em 450 crianças de 5 a 17 meses de idade, provenientes de 24 aldeias da região de Nanoro, Burkina Faso. As crianças receberam três doses e desde essa altura tiveram uma vacina de reforço.

Os ensaios da fase três irão testar a segurança e a eficácia da R21 em 4.800 crianças, de 5 a 36 meses de idade, em Burkina Faso, Quénia, Mali e Tanzânia.

“Ficamos todos nervosos quando uma vacina chega a esta fase,” disse Djimdé.

África registou mais mortes de malária do que de COVID-19 no ano passado, de acordo com dados da OMS e do África CDC. Os cientistas afirmam que o parasita da malária é particularmente difícil de combater porque possui mais de 5.000 genes em comparação com o vírus que causa a COVID-19, que possui 12.

Esforços para o combate da malária foram prejudicados recentemente devido a uma alteração no financiamento para a COVID-19, o que interrompeu as pesquisas. A OMS alertou sobre as “consideráveis perdas de vidas” devido aos atrasos dos programas.

Tinto e os seus colegas acham que a R21 é a peça que faltava.

“As cinco instituições africanas envolvidas nesta parceria possuem um papel histórico a desempenhar,” disse Tinto. “Estamos todos comprometidos a trabalhar arduamente de modo a gerar dados para fornecer aos reguladores e aos parlamentares as provas necessárias para apoiar o registo desta vacina.

“Caso seja bem-sucedida, esta vacina deve ser disponibilizada o mais rápido possível para complementar as ferramentas de prevenção de malária já existentes.”

Isso pode durar cerca de dois anos.

O Instituto Serum da Índia, o principal produtor de vacinas contra a COVID-19, concordou em produzir a vacina contra a malária. A OMS está aberta.

“Pode até ser possível acelerar a revisão regulamentar,” disse David Schellenberg, um conselheiro em matérias de ciências do Programa Global da Malaria da OMS. “Penso que estamos todos muito ansiosos por aprender muito mais lições possíveis da COVID.”

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