Relatório: Indústria de Farinha de Peixe Empobrece as Águas da África Ocidental
EQUIPA DA ADF
Ao largo da costa da África Ocidental, navios estrangeiros varrem o mar em busca de sardinela, bonga e outros pequenos peixes pelágicos que são de grande importância para as comunidades de pesca artesanal da região.
O peixe vai para as fábricas, como as instalações operadas por chineses, localizadas em Kertong, no canto sudoeste da Gâmbia, onde se extrai o óleo e mói-se o peixe para transformá-lo em pó que é posteriormente exportado para alimentar animais e peixe de criação pelo mundo.
O peixe e o camarão oriundos da piscicultura regressam para a África Ocidental em forma de produtos importados dispendiosos, enquanto os pescadores artesanais têm dificuldades de sobreviver.
Um relatório divulgado recentemente pela Greenpeace Africa e pela Changing Markets demonstra que a produção desenfreada de óleo de peixe e de farinha de peixe retira mais de meio milhão de toneladas métricas de peixe pequeno das águas da África Ocidental a cada ano, esgotando populações de peixe que sustentaram as comunidades locais de pesca durante gerações.
“A indústria de farinha de peixe e de óleo de peixe e todos os governos e empresas que os apoiam basicamente estão a roubar os meios de subsistência e a alimentação das populações locais,” Dr. Ibrahimé Cissé, activista sénior da Greenpeace Africa, no Senegal, disse num relatório.
A indústria de farinha de peixe cresceu mais de dez vezes ao longo da costa da África Ocidental na passada década, de acordo com o relatório.
“Calculamos que este peixe podia, de outro modo, servir para estar a alimentar mais de 33 milhões de pessoas na região da África Ocidental,” Alice Delemare Tangpuori, gestora de campanhas da Changing Markets, disse à EuroNews.
Mais de 50 fábricas de processamento de farinha de peixe operam na Costa da África Ocidental, na Gâmbia, Mauritânia e no Senegal. Uma única fábrica processa 7.500 toneladas de farinha de peixe por ano. Em 2017, a Mauritânia concordou em descontinuar as fábricas de farinha de peixe até 2020, mas as 25 fábricas de proprietários estrangeiros do país, pelo contrário, triplicaram a sua produção.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que o Senegal exporta 12.000 toneladas métricas de farinha de peixe por ano. Uma tonelada métrica de farinha de peixe requer cerca de 5 toneladas métricas de peixe fresco para produzir.
De acordo com as Nações Unidas, 90% dos locais de pesca do Senegal já estão totalmente explorados ou próximos de um colapso.
No início deste ano, a Sea Shepherd Conservation Society e as autoridades da Gâmbia fizeram a inspecção de uma embarcação de pesca operada por chineses que praticava o arrasto ao largo da costa da Gâmbia. O navio estava a funcionar com o transmissor desligado, uma táctica comum das embarcações de pesca ilegais. Os membros da tripulação também não estavam a manter os registos obrigatórios das suas localizações nem das suas capturas diárias.
A revista The New Yorker comunicou as inspecções num documentário em vídeo.
Na costa, empresas chinesas constroem empresas de processamento de farinha de peixe, como a que se encontra em Kartong, com a promessa de emprego e infra-estrutura. Os activistas locais afirmam que o odor insuportável das fábricas destruiu o turismo. Eles afirmam que as fábricas destroem as zonas de pesca quando despejam as suas águas de esgoto não tratadas nas águas próximas da costa.
“O que estamos a ver não é desenvolvimento,” biólogo gambiano, Ahmed Manjang, disse ao The New Yorker. “Isto é exploração.”
Manjang é um natural de Gunjur, uma aldeia costeira que criou uma reserva natural para proteger os seus mangais da costa e a lagoa ambientalmente frágil de Bolong Fenyo. As medidas de protecção não impediram que houvesse poluição. Em 2017, a lagoa ficou vermelha e tudo que nela existia morreu.
Manjang realizou testes que demonstraram altos níveis de arsénico e níveis de fosfatos e nitratos 40 vezes acima daquilo que é considerado seguro. Ele concluiu que a poluição veio da fábrica de processamento de farinha de peixe de proprietários chineses, Golden Lead, localizada próximo daquele local.
O governo da Gâmbia multou a fábrica no valor de 25.000 dólares. Para se esquivarem dos regulamentos, os gestores da fábrica instalaram um novo tubo de esgoto por baixo da praia que faz a descarga das suas águas de esgoto mais distante da praia.
Em 2018, os residentes de Gunjur destruíram o tubo de esgoto da fábrica Golden Lead, que foi rapidamente substituída. Em Março, um grupo ateou fogo sobre uma fábrica de processamento de farinha de peixe de proprietários chineses e destruiu 40 embarcações de pesca que trabalhavam para ela na aldeia de Sanyang.
Apesar dos protestos e exigências para que os governos fizessem mais para regular a indústria de farinha de peixe, os activistas afirmam que pouca coisa mudou.
“A China concedeu muitos empréstimos à Gâmbia, deu muitas famosas subvenções à Gâmbia,” disse o jornalista gambiano Mustapha Malleh ao The New Yorker. “Eles conseguem sair impunes em tudo.”
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