Confinamento Obrigatório da COVID-19 Altera as Tendências do Crime em África
EQUIPA DA ADF
Os rápidos e abrangentes confinamentos obrigatórios que vieram no ano passado, devido à eclosão da pandemia da COVID-19, alteraram os padrões do crime no continente, de acordo com vários relatórios.
Dados divulgados pelos Serviços da Polícia da África do Sul analisaram as tendências do crime durante o ano de 2020 e nos primeiros três meses de 2021. A África do Sul entrou em confinamento obrigatório no dia 27 de Março de 2020.
O confinamento obrigatório resultou numa redução de aproximadamente 30% dos crimes contra a propriedade. Os roubos também reduziram, assim como diminuíram os assassinatos. O confinamento obrigatório reduziu o volume de drogas ilícitas que entram no país, causando uma queda de 17% nos crimes relacionados com drogas, durante os primeiros três meses do confinamento obrigatório de 2020, de acordo com Richard Chelin, um especialista em crime organizado, que trabalha no Instituto de Estudos Estratégicos da África do Sul (ISS).
Chelin fez parte de um webinar público do ISS, havido no dia 20 de Maio, que fez a revisão dos dados da tendência, com a participação do Major-General Charl Annandale, da Polícia da África do Sul, entre outras entidades.
Com os crimes em geral decrescendo 40% durante o confinamento obrigatório, entre Abril e Junho de 2020, o Ministro do Interior, Bheki Cele, descreveu a situação como sendo “um feriado do crime.”
Embora alguns crimes tenham reduzido, outros aumentaram, motivados pelas pressões económicas e sociais criadas pelos confinamentos obrigatórios. A violência doméstica e os crimes cibernéticos, por exemplo, aumentaram durante os confinamentos obrigatórios, de acordo com o professor Oludayo Tade, da Universidade de Ibadan, da Nigéria. Tade está a reunir trabalhos académicos que estudam o crime durante a COVID-19 para uma edição especial do International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, uma revista académica especializada em criminologia.
Tade descreve o aumento dos crimes violentos como sendo “uma das consequências emergentes e não desejadas do confinamento obrigatório.”
O aumento da violência baseada no género — homens agindo de forma violenta contra mulheres e raparigas — ocorreu em toda a África Austral quando as pessoas foram obrigadas a estar juntas durante os confinamentos obrigatórios, de acordo com uma análise feita pela Amnistia Internacional.
“Embora as indicações reflictam um aumento nos relatórios durante a COVID-19, isto ainda pode reflectir a subnotificação especialmente nos contextos rurais e marginalizados, visto que algumas mulheres e raparigas podem ter dificuldades de encontrar um espaço seguro para fazer uma ligação, ter acesso a telefones e não saber a quem telefonar,” disse a Amnistia Internacional no seu relatório “Treated Like Furniture” (Tratadas Como Mobília), um estudo sobre a violência doméstica durante os confinamentos obrigatórios.
Para além de uma redução dos crimes contra a propriedade e um aumento nos crimes violentos, os confinamentos obrigatórios também criaram mais oportunidades para o crime organizado florescer na África do Sul, graças à proibição da venda de álcool e de tabaco, disse Chelin.
“Pouco depois de a proibição ter sido cancelada, surgiram grupos a venderem cigarros ilícitos,” disse Chelin durante um webinar que fazia a revisão das estatísticas do crime.
As proibições ajudaram a alimentar a demanda por drogas e o crime organizado respondeu, disse Chelin. Uma das maiores apreensões de drogas do país ocorreu em finais de Maio de 2020, quando as autoridades interceptaram um camião que transportava heroína e metanfetamina, avaliadas em mais de 2 milhões de dólares, a atravessar a fronteira, vindo de Moçambique, disse Chelin.
Os homicídios, que os analistas utilizam como um marco para os crimes violentos em geral, aumentaram quando os confinamentos obrigatórios foram relaxados, em meados de 2020, quase igualando aos números de 2018 até ao final do ano.
“Quando começamos a contar estes números, estamos em níveis semelhantes à pré-COVID,” disse Lizette Lancaster, que estuda o crime no ISS e organizou o webinar de 20 de Maio. “Quando olhamos para os níveis de violência, vemos que os mesmos continuam preocupantes.”
Um aspecto positivo na análise: em 2020, os crimes contra a propriedade permaneceram cerca de 25% inferiores do que em 2018 e 2019.
Lancaster disse à ADF que está claro que a experiência da África do Sul se equipara a dos outros países do continente.
“Ainda não a estudámos,” disse. “Mas a Africa do Sul demonstra que as medidas temporárias não irão resolver os nossos problemas societários e os níveis de violência. As dificuldades económicas torná-los-ão piores.”
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