EQUIPA DA ADF
Muitos dos medicamentos utilizados em África são importados, incluindo 99% de todas as vacinas. A pandemia da COVID-19 expôs esta situação como um grande problema, porque o continente deve depender de fornecimentos do estrangeiro para curas que salvam vidas.
Determinado a criar uma solução local da carência de vacinas contra a COVID-19, a União Africana (UA) anunciou, no dia 13 de Abril, uma parceria para reforçar a pesquisa, o desenvolvimento e o fabrico de vacinas, com planos para construir cinco centros de pesquisa no continente, dentro dos próximos 15 anos.
Um outro objectivo ambicioso é de fabricar 60% das vacinas de África até 2040.
“Estamos cientes de que é um desafio,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), disse numa cimeira virtual. “Se África não planificar lidar com as suas necessidades de segurança da vacina hoje, então, estamos absolutamente a prepararmo-nos para o fracasso.”
A UA está a juntar-se a este esforço com a Coligação para Inovação e Preparação contra Epidemias (CEPI), que ajuda a operar a iniciativa de partilha da vacina COVAX, com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Uma parceria de confiança será de capital importância para o avanço da agenda da produção da vacina no continente,” disse Nkengasong. “A parceria com a CEPI simboliza a cooperação e a colaboração para ajudar a responder a ameaças de doenças contagiosas e garantir a segurança de saúde de África.”
Os cinco centros serão criados no Norte, Sul, Este e Oeste de África, bem como na África Central, nos próximos 10 a 15 anos. O Banco Africano de Exportações e Importações e a Africa Finance Corp. comprometeram-se a financiar o programa.
Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-general da OMS, enfatizou as necessidades a curto e longo prazo de África.
“A pandemia demonstrou que a capacidade de produção e as cadeias de fornecimento globais não são suficientes para entregar as vacinas e outros produtos de saúde essenciais de forma rápida e equitativa para onde estes são mais necessários,” disse durante a cimeira. “É por isso que criar capacidade de fabrico em África é tão importante.”
Até ao dia 27 de Abril, o continente tinha 4.527.169 casos de COVID-19 e 120.874 mortes, de acordo com o Africa CDC.
A OMS informa que 47 dos 54 países africanos iniciaram com as campanhas de vacinação, 41 dos quais através da COVAX. Num continente de mais de 1,2 bilhões de habitantes, entretanto, a África já administrou apenas 18.241.497 doses, de acordo com o quadro diário de vacinações da OMS até ao dia 28 de Abril.
Apenas seis países receberam mais de 1 milhão de doses de vacinas. Para além do Marrocos e dos países insulares das Maurícias e das Seicheles, os países africanos administraram menos de quatro doses por cada 100 pessoas.
Um grande aumento no número de casos e de mortes na Índia piorou o problema do fornecimento de vacina em África. Muitos países dependiam das doses da COVAX, adquiridas através do Instituto Serum da Índia, mas o surto naquele país fez com que o governo restringisse e adiasse as exportações.
A meta da UA era de vacinar 30% a 35% da população do continente até finais deste ano, de acordo com Nkengasong.
“Se o adiamento [da Índia] continuar, espero que seja um adiamento e não uma proibição,” disse Nkengasong. “Isso seria catastrófico para o cumprimento do nosso programa de vacinações.”
Enquanto o desafio de alcançar a imunidade comunitária vai sendo adiado mais ainda, até 2022, líderes africanos como o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, estão focados em resolver a questão do fornecimento da vacina no futuro.
“A equidade da vacina não pode ser garantida apenas pela boa vontade,” disse na cimeira. “África precisa de e deve ser capaz de produzir as suas próprias vacinas e produtos médicos.”